terça-feira, maio 07, 2013

A Copa do Mundo na visão de um jovem...



Renato Vasconcelos de Carvalho é estudante do 3º período do curso de jornalismo da UFRN, tem 18 anos e é um jovem com características pouco comuns aos jovens de sua idade.

O conheci na disciplina de jornalismo esportivo, ministrada pelo professor Ruy Rocha.

Atento, Renato não perde nenhum detalhe...

Interrompe, questiona, opina, provoca, instiga e obriga a quem está à sua frente a ter as respostas que ele espera receber.

Ontem, me enviou o texto abaixo e pediu que eu opinasse, desse sugestões e fizesse as correções que achasse necessárias...

Minha resposta após ler, foi lhe pedir permissão para publicar.

Creio que meu pedido tornar desnecessário dizer que não só aprovei, como gostei de cada linha escrita por Renato.

Não fiz nenhuma alteração.

Compartilho com vocês.


A copa do mundo é nossa! (É nossa?)
 
Por Renato Vasconcelos de Carvalho

Antes de iniciar o rascunho deste texto, admito que não lembrava a data exata da escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014. A única coisa que lembrava bem, era do momento em que anunciaram as cidades-sede. Ao ouvir o nome “Natal”, somente uma coisa me passou pela cabeça: “Ih... a cobra vai fumar!”. 

                Não tenho como me esquecer das promessas do ex-presidente Lula e do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, prometendo “a copa mais democrática de todos os tempos” e a “Construção de estádios sem o uso de dinheiro público”. Além dessas, permearam também outros jargões como, “prioridade para reformas, menos construções”. Creio que não preciso dizer que as promessas não se cumpriram e que os jargões se transformaram em palavras vazias. 

Entretanto, dentre os jargões, mentiras e promessas, nenhuma foi tão utilizada como justificativa, enaltecida, glorificada e quase beatificada, como o “divino” legado da copa! Em qualquer debate, de mesa de boteco ou entre um jornalista mais ousado (ou insolente), e qualquer deputado ou senador, durante uma coletiva, lá vinha o santo preferido para justificar o megaevento. “O legado da copa será exclusivamente para os brasileiros. Irá beneficiá-los integralmente e durará anos, não só o período do evento. Você é contrário ao progresso? Isso é Brasil, ame-o ou deixe-o!”. 

Ah, posso até ver na minha mente qualquer uma daquelas figuras grã-finas, com barbas dignas de barões do café, pronunciando esse discurso, para justificar um evento que, de “algum” modo, seria intere$$ante para o “país”. Após a entrevista, se reuniriam de forma extraordinária para distribuir as capitanias hereditárias e saber quem manda em que e quem fica com o que. Afinal, eles têm que tirar algum benefício dessas terras selvagens. São muito sofisticados para sujar seus sapatos italianos na lama desse país sem nenhuma premiação.

Esquecem eles que o “legado da Copa”, deveria ser a prioridade do governo em qualquer período. Porque só se pensar em sanar questões como mobilidade urbana, saúde pública e segurança as vésperas de um evento como esses? O legado da Copa seria então anos de trabalho atrasados que deveriam ser colocados em dia? Quer dizer então que em quatro anos, problemas de décadas serão resolvidos para a Copa e para os visitantes e não para o povo, pelos mesmos incompetentes de sempre? Pobre povo da selva governado por homens-brancos...

Mas não, este não é um texto de memórias, muito menos uma divagação qualquer. Não sou contrário à Copa do Mundo, sou contrário a ela ser realizada aqui. A Copa do Mundo é o maior evento esportivo do planeta. Nem as olimpíadas se comparam em audiência e alcance. Ela dá a oportunidade de mostrarmos nossa cultura, nossos pontos turísticos e nossa história, de forma a movimentar o setor do turismo e fazer com que o interesse em se visitar nosso país aumente. Uma visibilidade dessas é excelente para qualquer país do globo, mas o que temos para mostrar e oferecer?

Será que algum turista que visitar Natal, durante o período da Copa, se sentirá atraído a voltar em outro momento? Será que ele vai gostar de uma cidade com opções de entretenimento cultural limitadíssimas, péssimos serviços de transporte público, segurança pública deplorável e que as ruas esbanjam miséria e miseráveis? O que Natal tem para mostrar, durante o período de exposição da Copa do Mundo, que atrairá turistas de todos os cantos do globo, gerando um retorno financeiro que possa pagar, pelo menos, os empréstimos para a construção do Arena das Dunas? 

Não me julguem, amo minha cidade. Conheço cada praia urbana, os pontos históricos, os locais de entretenimento mais populares, mas não creio que estes estejam em condições de servir de atrativo turístico no cenário internacional. Vivemos de turismo de céu e mar. Durante o verão, quem vem, fica em um resort na via costeira, vai um dia à Genipabu, um a Pipa, os mais curiosos conhecem a cidade e vão embora. No inverno ninguém vem.  

 Quem consegue responder quantos museus temos na cidade? Quais você conhece pelo nome? Quais são os investimentos municipais e estaduais para conservação desses acervos e modernização ou manutenção das instalações? Não há uma preocupação com a cultura nesta cidade, nunca houve. E agora que chega o momento de mostra-la para o mundo, tentarão fazer um remendo qualquer, uma maquiagem, que tente encantar e atrair alguém no Pós-Copa. 

Não esquecendo que o legado prometido para à Copa não vai sair. Das quinze obras de mobilidade urbana previstas no projeto inicial, muito provavelmente não ficarão concluídas duas. Nada de VLT (Veículo leve sobre trilhos), nada de metrô... Será que não seria interessante pensar em organizar nossa cidade e nosso país primeiro, promover uma “faxina-interna”, para poder pensar em divulga-lo ao mundo?

Sobre a Arena, não há novidades. Lutará para ficar pronta antes da Copa e não terá viabilidade financeira com o futebol. Mesmo tendo sido construída com verba pública, será explorada por alguma empresa privada, assim como o Maracanã, que será explorado pelo Sr. Eike Batista. Vejamos o que vai acontecer aqui, só espero que não vire um parque de vaquejadas, para os vaqueiros será mais difícil de derrubar um boi num elefante branco.

Por fim, na minha humilde opinião, temos preocupações muito mais urgentes do que a Copa. Temos que nos preocupar com o aumento preocupante e exponencial da criminalidade. Temos que nos preocupar com uma geração de novos brasileiros que vem crescendo sem uma educação decente. Temos que nos preocupar com o precário estado da saúde no nosso estado. A Copa é um instrumento de publicidade e nada mais, mas para quem tem o que mostrar. O que mostraremos?

A FIFA manda e desmanda. Já proibiu até as baianas de venderem seus acarajés nos arredores do estádio, área exclusiva para produtos licenciados dos patrocinadores. Foi a FIFA, inclusive, que ordenou a construção das arenas moderníssimas e sem uso futuro. Qual a serventia de um superestádio em Manaus, Brasília, Cuiabá e Natal? Eu não sei, mas nossos lordes do planalto central assentiram com a cabeça. Depois de tudo isso exposto, alguém pode dizer que A Copa do Mundo é nossa? 


11 comentários:

Paulo disse...

Parabéns ao futuro jornalista, espero que continue assim após formado e o mais importante, quando assumir seu lugar em alguma redação país afora. Que ele mantenha sua postura e opinião o que sabemos não é nada fácil nesse meio, é só ver as perseguições que são feitas a jornalistas que procuram fazer seu trabalho com dignidade.

Fabiano Costa - ABC FC 2013 disse...

O Super Estádio em Natal deve ter sido por influencia de Sir Armstrong.

Afinal, "o time dele vai bem e dinheiro para ele não é problema."

Anônimo disse...

Não entendi, nada, amigos.
Dialeticamente, não entendi coisa nenhuma desse texto.
Idiologicamente uma confusão.
Um bonito texto de português.

Ah, eu também, jovem, eu queria alguma coisa diferente: eu queria que a classe operária estivesse pronta para fazer a revolução e pegar esses caras que trocam um Estádio pela saúde, educação, tranporte alimentação e liberdade do povo e colocar eles num paredão do tamanho do muro de Israel e passar fogo neles.
A copa ficaria para deois dos fusilamentos.
É possível hoje? Não. Então! eu fico aqui esperando essa oportunidade a 50 anos.
E pronto para torcer pelo Brasil na copa 2014.
Adoro futebol!

Então, jovem, paciência tá.
Enquanto isso vamos assistir a copa 2014 em belos Estádios de futebol e a revolução fica para depois.
Fica para depois também a saúde, a educação, etc.
Nada de xôrôrô; nós vamos vencer.

No próximo artigo, defenda algo palpavel:
socialismo - saúde e educação para o povo sem grandes obras faraônicas; ou defenda - o capitalismo americano judeu - educaçao e saúde pra classe média e ricos, pagas e obras faraônicas; e para o povão, nada; ou defenda que os deuses do universo resolva essa parada; mas por favor com muito respeito defenda uma idéia. Jornalista também tem o direito de ser livre e ter uma ideologia na cabeça. E não ser só reclamão. Fica um jornalismo chato.

Alguma coisa tem que ser diferente para não fazer estádio antes da educação e saúde. A REVOLUÇÃO!

Agora, amigo, querer que politicos como: Garibaldi, Henrique, Rosalba e tantos outros pelo Brasil a fora faça opção pelo povo, por forma de nação, pátria e filosofia de vida é muita ingenuidade jornalistica.

Tá, tudo bem; já sei. O que vc queria mesmo era bater no LULA. Isso eu entendi. A Europa está caindo aos pedaços e vai fazer olimpíada.

Amigo, LULA não decidiu nada. Quem decidiu foi a força dos Governadores e Senadores para a realização da copa. Com dinheiro público? sim!
LULA apenas concordou com o projeto. Ou isso para ter mais emprego ou nada.
Ou isso para o Brasil aparecer para o mundo ou nada.
Ou isso pros governadores fazer caixa 2 ou nada.
Aparecer as favelas, e dai?
Em todo o mundo tem uma favela.

EU DEFENDO, PARA RESOLVER TODOS ESSES ABSURDOS QUE ESTÃO AI COMO "FORMA" DE GOVERNO, A REVOLUÇÃO SOCIALISTA.
E vc?
Felicidades na sua trajetória profissional.

Unknown disse...

Ao anônimo...
"dialeticamente" não entendi nada, foi isso que você escreveu?!
O texto é muito bem escrito e elucida de forma bastante clara a opinião do escritor. Não existe essa tendência de criticar o governo Lula.Ele apenas tenta mostrar um ponto de vista em relação ao que realmente deve ser prioridade, como devem ou deveriam ser aplicados recursos públicos!!!
Você que está totalmente perdido falando em revolução socialista ou você acha que a população Cubana ou venezuelana vivem melhor do que a Brasileira?

Patrícia Carvalho disse...

Parabéns pelo texto. Agora, sobre os acarajés e quitutes baianos, por aqui,em Salvador, desde out.2012 que se divulga q continuarão a ser vendidos, pois não existe nenhuma marca concorrente do produto que patrocine o evento.

Veja: http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/governo-garante-venda-de-acaraje-durante-os-jogos-da-copa-2014/

Francimillyan Mendonça disse...

Parabéns Renato continue assim, e nesse texto ele falou e disse tem nada oculto, está tudo claro para quem quiser ler e a minha opinião é a mesma qur o colega Renato, pois uma cidade super despreparada que ultimamente tem passado por um governo corrupto e fracassado terá que sediar uma evento dessa magnitude?! Acho muita hipocrisia dos políticos em aceitar um absurdo desse . . . Vamos primeiro do que tudo limpa a sujeira que esse país enfrenta e restaurar uma cidade que se fosse bem cuidada seria explêndida como Natal, aí depois de tudo isso podemos nos amostrar com o temos à ofecer e não com uma máscara!

Anônimo disse...

Então, o Asaf (nome de arabe) deve concordar com os jornalistas brasileiros e americanos que escrevem todos os dias que o Hamas é o verdadeiro culpado pelo que está passando o povo palestino.
- Uma mentira escandalosa mas com posição clara.
Será que deu para entender o que fica claro e o que não fica?
O texto jornalistico tem que finalizar e deixar claro a posição filosófica, idiológica, sem subterfúgios. Então, não é jornalismo. E não é liberdade de Imprensa.

Se não tinhamos que realizar a copa o que deveriamos fazer para mudar o dilema do nosso povo?
Com esses politicos que ai estão parece que não vamos a lugar nenhum. Então....

Dizer que precisamos de mais saúde e educação isso é o obvio não é clareza dialética, não é filosofia, etc..e para mim não é mais jornalismo para nossos tempos.

Tá bom: ...e esse chato não sabe que jornalista escreve o que quizer, quando quizer e a hora que quizer....;desculpe, eu só queria que o jovem jornalista fosse pelos caminhos da verdade jornalistica e dos porquês acontecem as coisas pelo mundo afora... ir direto na ferida; os verdadeiros culpados pelo desastre politico brasileiro, etc.
O Renato me parece um bom rapaz e vai pensar no assunto e ele tem tempo para pensar.
A Francimilyan foi um pouco mais direta. Mas eu vou discordar do fato que não é por falta de algumas coisas que não fariamos a copa do mundo 2014. O problema é outro.
uffa! Abraços.

Nada de anônimo,
José Carlos de Medeiros

Luciano disse...

Nossa que confusão....deveria pelo menos citar as fontes das falas do Lula dizendo que estádios "seriam" reformados (?????) Onde? Começou mal, com essas "e"storias que A e B falaram....fontes? Tem muita gente querendo que suas verdades sejam as coletivas, felizmente nao são....Aliás tem gente q nao consegue nem gerir sua vida acadêmica e vem criticar a "organização" de uma copa. Outra coisa: criticar é o mal do século, ninguém pára para pensar o quão complexo é uma organização dessa e que muitas coisas nao dependem apenas de uma pessoa; problema da nossa burocracia, cultura ou sei lá o que! Nossa culpa, portanto. Problemas temos muitos....com copa ou sem copa eles estariam aí. Apenas com uma sociedade educada, menos egoísta e mais "cooperativa" conseguiremos mudar algo.

Alexandre Autran disse...

Caro José Carlos de Medeiros, se bem entendi que foi o senhor quem escreveu o texto do "Dialeticamente, não entendi coisa nenhuma desse texto." (meu texto se direciona a essa pessoa).

Pela sua posição, ficou mais do que claro que o senhor realmente não entendeu absolutamente nada do texto. E não é que o texto tenha algum problema, defeito, falta de opinião ou de clareza, pois na minha opinião, não tem... Talvez porquê o senhor não soube lê-lo, ou, perdoe a minha agrestia, não sabe ler um artigo de opinião.

Desconsiderando todas as suas deliberações socialistas, comunistas, senão ditatoriais (me refiro à época da ditadura no Brasil, sim), o senhor acha realmente plausível pedir para que um cidadão estudado, não-alienado e politicamente engajado simplesmente aproveite a copa do mundo e deixe todo o resto (saúde, economia, segurança, bem-estar) para depois? Você quer que seres pensantes (não me refiro aos outros como irracionais, veja bem a diferença) sucumbam à política do "pão-e-circo" somente para agradar a poucos e só então possam exigir o que nos é de direito, quando na verdade, TODOS deveriam estar exigindo por isso todo o tempo?

Não, ele não defendeu nenhuma filosofia, nem deveria. Um artigo de opinião, como o próprio nome já diz, não carrega com si essa obrigatoriedade, muito menos o texto dele.

Eu vou explicar mais uma coisa também, caso o senhor não tenha entendido: ele não ficou de xororô nem muito menos reclamando durante o texto dele, isso realmente seria chato. Ele apenas expôs fatos concretos que nós somos obrigados a conviver todos os dias, e honrou o estilo ao qual escrevia ao dar sua própria opinião: temos assuntos mais importantes a focar no Brasil que não a copa. Em momento algum ele reclamou das obras, ou muito menos do estado do nosso país (apesar de tal ser obviamente implícito, e não por culpa dele).

Ah, mas já que o senhor tanto fala de revolução, já deve saber também que para haver revolução é preciso se ter antes algo do que reclamar não? Sabe também que de certa a revolução (e seus seguidores e apoiadores) vêm primeiramente das reclamações, não sabe?

COMO ASSIM QUERER QUE POLÍTICOS FAÇAM SUA PARTE É INGENUIDADE POLÍTICA? Talvez o correto aqui seja: "Os políticos como: Garibaldi, Henrique, Rosalba e tantos outros pelo Brasil a fora não fazem opção pelo povo devido à enorme ingenuidade política no nosso país". Onde estão os jornalistas que apontam, criticam, afrontam nossos políticos? Marginalizados.

Agora o estopim, o auge do seu texto foi querer dizer que ele pretendia criticar Lula. Sinceramente, a isso acredito que posso me abster de comentários.

Alexandre Autran

Fernando Vasconcelos disse...

Belo texto. Assino embaixo.

Fábio Macêdo. disse...

Parabéns pelo texto e lembro ao querido Renato que O Arquiteto Moacir Gomes lutou até o quanto as suas forças podiam para evitar esta aberração que estamos assisitindo na destruição do nosso parque esportivo; Machadão, Machadinho, Kartódromo Geraldo Melo, Palácio dos Esportes, Ginásio do DED, os CAIC's, o abandono do Juvenal Lamartine. Mas o dinheiro e as garantias para a COPA de 2014 não faltaram. Aliás estão entregando a estes caras até o que não os pertence. Renato perdoe estes "anônimos" eles não sabem o que falam. Você sim "fala" com a grandeza de um grande jornalista, com autoridade e independência, aliás instrumento que tem faltado nos jornalistas brasileiros, que talvez pela necessidade de sobrevivência, tem perdido toda a autonomia a serviço da linhas editoriais totalmente dominadas pela força política e do poder econômico. Mantenha a sua independência e seja uma luz de esperança àqueles desprovidos de "influência" política ou de fortunas que suplicam apenas pela verdade.