sexta-feira, outubro 14, 2016

Bélgica, Dinamarca, Escócia, Holanda, Noruega, Suécia: um futura liga supranacional é possível?

Bélgica, Dinamarca, Escócia, Holanda, Noruega, Suécia:

Eis que se esboça uma liga supranacional

Por: Leandro Stein

“Por que os clubes portugueses não recebem parte das verbas pagas às principais ligas europeias pelos direitos televisivos? Todos querem transmitir a Premier League e La Liga. Muito bem, por que não podemos levar parte? Se uma operadora de televisão portuguesa paga 50, 60 ou 70 milhões de euros pela liga espanhola ou inglesa, são 50, 60 ou 70 milhões de euros que não são colocados na liga portuguesa”.

A declaração de Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, em entrevista à revista Panenka, escancara o tamanho do desespero diante das desigualdades financeiras.

O mapa do futebol europeu está se redesenhando não é de hoje.

Entretanto, nem todos os clubes sabem como lidar com isso.

A mudança no regulamento da Liga dos Campeões se torna o sinal mais escancarado.

Por ora, sana os interesses das potências continentais em constituírem uma ‘superliga’ que ignore as fronteiras nacionais e faça a roda da fortuna girar ainda mais rápido.

Fora dos principais centros, de qualquer maneira, alguns também se mexem.

Prevendo o impacto de todo o cenário, as principais equipes da Europa setentrional se antecipam.

Discutem a criação de sua própria liga supranacional, reunindo times de Escócia, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Noruega e Suécia.

Um ‘Campeonato do Mar do Norte’, se pudermos batizar assim.

As reuniões entre alguns dos clubes mais vitoriosos desses países já vêm acontecendo.

Entre eles, estão Ajax, PSV, Feyenoord, Anderlecht, Club Brugge, Celtic, Rangers, Malmö, Rosenborg e Copenhague.

Diante da nova estrutura da Champions, mudanças são improváveis até 2021, quando se encerra o atual contrato trienal.

Contudo, o acordo seguinte do torneio continental pode ser a chave para que o novo campeonato supranacional surja.

As equipes das ligas secundárias temem perder ainda mais espaço em um futuro próximo.

A nova competição ofereceria não apenas um mercado mais amplo para que os times explorassem, como também poder de barganha junto à Uefa.

“É verdade que estamos negociando. Se nós não agirmos agora, iremos ver os maiores clubes crescerem mais, enquanto passaremos dificuldades. Precisamos buscar uma alternativa para as oportunidades internacionais. Ainda é uma conversa inicial sobre modelos específicos, mas estamos participando ativamente da discussão sobre uma liga além das fronteiras na Europa”, declarou Anders Horsholt, diretor esportivo do Copenhague, em entrevista ao jornal dinamarquês BT.

Esta não é a primeira vez que os referidos países põem à mesa a proposta de um campeonato supranacional.

Em 1999, quando a ideia de uma superliga nos grandes centros começou a tomar força, o então diretor esportivo do PSV Frank Arnesen encabeçou a iniciativa pela constituição da Liga Atlântica – que incluía Escócia, Holanda, Bélgica e também Portugal.

Já na Escandinávia, a Liga Real até saiu do papel, contando com clubes de Dinamarca, Noruega e Escócia. A competição foi disputada entre 2004 e 2007, durante o final do ano, quando as ligas nacionais já haviam se encerrado ou entrado na pausa de inverno.

Todavia, a falta de interesse fez com que ela acabasse descontinuada em pouco tempo.

Desta vez, porém, Horsholt vê a situação um diferente e confia que a empreitada poderá ter sucesso.

“A última mudança na Champions é um claro distanciamento da ideia de ‘família do futebol’, que esteve presente na fundação da Uefa, e da cooperação no futebol europeu. Isso contraria o pensamento de que as coisas podem ser decididas em campo, de que há uma competição justa e acesso para todos. Agora a Uefa dá um passo em uma direção comercial mais clara, atendendo os interesses dos maiores clubes. Assim, temos que buscar nosso futuro como um clube internacional. A curto prazo, não temos alternativa. Somos um time que poderia assegurar à Dinamarca um lugar nas competições internacionais. Iremos lutar por espaço no futuro da Champions, mas também precisamos ir além disso, enquanto um novo mapa do futebol europeu se desenha”, complementou.

Somadas, as seis nações interessadas na nova liga possuem uma população que supera os 54 milhões de habitantes, equivalente à Inglaterra.

Já o Produto Interno Bruto se aproximaria dos US$ 2,7 trilhões, acima do Reino Unido como um todo.

Além de possuir um potencial comercial maior com a união dos mercados, a competição também contaria com um poder de barganha para penetrar em outros continentes.

Só que isso poderia também ter impacto direto nas próprias ligas nacionais de Dinamarca, Suécia, Noruega, Escócia, Holanda e Bélgica.

O dirigente do Copenhague aponta que uma das consequências do torneio supranacional seria exatamente a debandada dentro dos campeonatos locais:

“Estendemos a maneira como os maiores clubes agem. Mas isso também significa que precisamos olhar para o mercado e procurar alianças com times em situações parecidas. Nós não criamos esse cenário, mas precisamos lidar com ele. Temos que continuar desenvolvendo como clube e ser atrativos aos patrocinadores, aos melhores jogadores, aos torcedores. Além disso, é essencial estarmos em nível europeu. Nosso modelo não funciona sem a perspectiva internacional. O futebol dinamarquês precisa de um lugar na mesa onde o futuro do futebol é discutido, se quisermos ser competitivos. Então, sim, uma das consequências talvez seja abandonar os campeonatos nacionais para disputar a nova liga”.

E se os portugueses esperam a benevolência das ligas maiores para que os seus clubes recebam alguns milhões a mais, é melhor vislumbrarem o futuro que poderá se concretizar.

Não seria ruim ao trio de ferro se juntar ao ‘Campeonato do Mar do Norte’.

Pelo contrário, isso beneficiaria os dois lados: enquanto Benfica, Porto e Sporting entrariam em um torneio de maior competitividade e atratividade comercial, também aumentariam o potencial da liga.

Mesmo não sendo uma economia tão forte quanto as outras, Portugal possui mercado de futebol bastante engajado.

Além disso, seus times têm um poder grande de penetração nos demais continentes, principalmente na América Latina e na África.

Melhor se mexer do que esperar um milagre de Natal, como quer o presidente do Sporting.

Nenhum comentário: