segunda-feira, dezembro 19, 2016

Cresce o público do futebol brasileiro, mas tanto como no resto da América Latina?

Imagem: Blog Rolando a Bola


Cresce o público do futebol brasileiro, mas tanto como no resto da América Latina?

Equipes argentinas escondem o número de espectadores nos estádios.

No Brasil e na Colômbia, os campos ficam cheios.

Os mexicanos são os mais transparentes.

El Pais/ México / Argentina / Colômbia / Brasil

Quanta gente vai ao futebol na América Latina?

Que equipe leva mais torcedores a seu estádio a cada jogo?

Há duas semanas um jornal digital argentino defendia que um time modesto do interior superava todos os grandes.

Talleres, clube de Córdoba, a terra de Mario Kempes e Pablo Aimar, reunia em seu estádio mais seguidores que o Boca Juniors ou o River Plate.

O artigo dizia que os dados do Talleres se baseavam “nos resumos de cada uma das partidas”, embora se esquivasse de indicar a fonte principal.

De onde saíam as cifras?

Quanto à estatística do Boca e do River, a fonte era um jornalista de outro jornal.

EL PAÍS contatou a Associação do Futebol da Argentina e os clubes para obter em primeira mão dados sobre o comportamento das torcidas.

Foi em vão.

Não há cifras oficiais sobre a quantidade de torcedores que vão a La Bombonera a cada jogo.

Ou ao Estádio Monumental, ou ver o Racing, o San Lorenzo, o Independiente.

É uma soma impossível de cadeiras populares, cadeiras numeradas para sócios e não sócios, cadeiras para sócios-torcedores, entradas avulsas...

A ambiguidade é tamanha que há ocasiões em que parece que os estádios se enchem além de sua capacidade.

O caso oposto é o México. Em apenas alguns dias, a Liga MX entregou o cômputo total de espectadores que foram a cada estádio durante a última temporada.

Os campeonatos da Colômbia e do Brasil também forneceram dados, sem grandes problemas.

MÉXICO

As equipes de Monterrey são as que mais fãs levaram a seus estádios no último torneio.

Os Rayados e os Tigres tiveram uma média de 48.374 e 40.607 espectadores, respectivamente, segundo dados da Liga MX.

Os felinos esgotaram todos os lugares para esse torneio, enquanto seus rivais venderam 94% das entradas.

O América está em terceiro lugar, com 39.193 torcedores por partida, apesar de o estádio Azteca ser o maior do campeonato, com 81.702 assentos disponíveis.

Os dois clubes de Guadalajara, Atlas e Chivas, completam as cinco primeiras posições, com 34.131 e 33.411 espectadores por jogo.

Os vermelho e branco superaram os zorros (raposas) no total de entradas vendidas, mas jogaram nove partidas em casa e seus rivais disputaram só oito.

“Os times de Monterrey foram os que mais bem se adaptaram ao modelo mercadológico das ligas esportivas dos Estados Unidos, contratam os melhores jogadores e cuidam de todos os aspectos para oferecer um espetáculo que vá além de uma partida de futebol”, diz Sergio Varela, sociólogo da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM)

O estádio Bancomer, dos Rayados de Monterrey, é o mais moderno da Liga.

Pode abrigar 51.348 torcedores e foi construído pelos mesmos arquitetos que projetaram o estádio da Luz de Lisboa e a próxima sede do Olympique de Lyon.

Desde que foi inaugurado no ano passado, para o Apertura 2015, o Rayados encadeia três temporadas seguidas como a equipe da liga com mais espectadores.

As folhas de pagamento de Monterrey são também as duas mais altas do campeonato, segundo o portal Transfermarkt.

“A contratação de Pierre Gignac foi uma obra de arte do marketing, os torcedores cantam canções sobre ele e as crianças querem cortar o cabelo como o dele”, conta o torcedor rayado Marco Seyre, sobre o astro de seu odiado rival.

O sistema de abonos (cadeiras vendidas com antecedência) em ambos os clubes lhes permitiu garantir boa bilheteria durante todo o campeonato e oferece facilidades de pagamento aos torcedores.

Um ingresso abonado perto do campo no Estádio BBVA Bancomer, dos Rayados, pode valer desde 3.700 pesos (615 reais) até 11.000 pesos (1.840 reais) e os torcedores pagaram entre 350 pesos (62 reais) e 1.040 pesos (pouco mais de 170 reais) para assistir a um jogo do Monterrey na Liguilla (se não for pelo sistema de abonos).

Agora que o Tigres está para jogar a final do torneio, as entradas para camarotes são cotadas na Internet em até 27.000 pesos (4.500 reais).

Por Elias Camhaji.

ARGENTINA

Ingressar em um estádio de futebol na Argentina é tão difícil quanto contratar um plano de saúde ou garantir um visto para entrar nos Estados Unidos.

A maioria dos clubes, em uma modalidade iniciada pelo River e o Boca, tem reservadas quase todas as suas cadeiras para alguns poucos privilegiados que precisam preencher os seguintes requisitos: primeiro, ser sócio do clube, com parcelas que oscilam entre o equivalente a 54 e 123 reais.

Depois, em caso de pretender uma das cobiçadas cadeiras da plateia, é necessário pagar um valor extra que vai dos 200 aos 3.750 reais.

Se ainda restam entradas disponíveis, então, sim, são vendidas ao público pelo esquema comum, como qualquer outro bem.

A dívida das equipes com a Associação do Futebol Argentino (AFA) impede que se conheça em detalhes a quantidade de espectadores nas partidas, uma informação que antes era fornecida a toda a mídia.

No entanto, pode-se tirar algumas conclusões com os dados existentes.

Se se leva em conta a quantidade de ingressos vendidos no campeonato (os ingressos remanescentes), o River Plate é o que encabeça o ranking, de longe, com uma média de 23.024 entradas por partida.

Em seguida vêm o Talleres de Córdoba, com 8.381; San Lorenzo, com 4.700; Racing Club, com 3.534 e Belgrano de Córdoba, com 3.132.

Cabe lembrar que a grande maioria das partidas são jogadas sem público visitante.

No entanto, essas cifras são relativas.

Em uma passada pelos clubes, EL PAÍS pôde saber que o River Plate conta com 43.000 assentos denominados “Teu lugar no Monumental”, para as diferentes partes da arquibancada do estádio Monumental, que tem capacidade para 61.668 pessoas.

O Boca distribui as 52.000 cadeiras de La Bombonera inteiramente a seus sócios, entre os quais há 18.000 com cadeiras cativas.

Algo semelhante acontece com o Rosario Central, onde são alojados 43.000 espectadores, e no seu rival da cidade, o Newell’s, que conta com 48.500 sócios ativos e 13.000 para o estádio.

No San Lorenzo há 6.500 cadeiras cativas e o restante dos 50.000 lugares é para os sócios; o Racing Club conta com 62.000 sócios, dos quais 9.200 têm cadeira cativa, e um estádio para 50.000 pessoas que costuma lotar todos os domingos.

Seu rival de toda a vida, o Independiente, terminou de reformar seu estádio em 2009 e habilitou 55.0000 lugares, porém, o departamento de imprensa não quis responder às perguntas deste jornal. Belgrano e Talleres, ambos da cidade de Córdoba, têm ao redor de 40.000 sócios ativos.

Por Ramiro Barreiro.

BRASIL
O público que vai aos estádios no Campeonato Brasileiro cresceu nos últimos cinco anos.

Em 2012, a média de torcedores por partida era de 12.977 e, agora, em 2016, saltou para 15.188, 17% de aumento.

Em 2012, o Corinthians liderou o ranking com uma média de 25.222 torcedores por partida, enquanto em 2016 chegou a 28.336, no segundo lugar do ranking do campeonato.

O Palmeiras, líder em 2016, com 32.471 torcedores por partida, há cinco anos só arrastava 11.983 pessoas ao estádio.

O aumento foi de 190%.

O Flamengo, o clube com a maior torcida do Brasil, contava com uma média de 12.250 pessoas por partida em 2012 e em 2016 encerrou o campeonato com 24.542, ou seja, 100% a mais.

O aumento de público ocorreu principalmente em clubes que jogam em estádios que foram construídos ou reformados nos últimos anos, como é o caso do Corinthians e do Palmeiras.

Os dois clubes também são os que cobraram as entradas mais caras do Campeonato Brasileiro de 2016: uma média de 53 e 68 reais, respectivamente.

O tricampeão do mundo, São Paulo, é o terceiro em número de torcedores por partida, com uma média de 22.974, seguido pelo Grêmio, com 20.909, e o Internacional, com 20.372.

Mas os três têm baixas taxas de ocupação: 39%, 35% e 40%, respectivamente, já que jogam em estádios grandes, todos com capacidade para mais de 50.000 pessoas.

O Atlético Mineiro, por sua vez, disputa a maioria das partidas em casa no pequeno estádio Independência, com capacidade para somente 23.018 espectadores, e também jogou algumas partidas no Mineirão, que pode receber quase 62.000 espectadores.

O Galo ocupa o sexto lugar na média de espectadores, com 20.154, mas é o terceiro na taxa de ocupação (60%), graças às partidas no Independência.

Entre os 10 clubes com maior público no Brasil em 2016, chama a atenção a presença do Fortaleza, que está na série C, a terceira divisão.

O clube da capital do Ceará é o 9º colocado, com 15.949 torcedores por partida e uma taxa de ocupação de 26% do estádio Castelão, que tem capacidade para 63.000 pessoas.

O Fortaleza está apenas uma posição abaixo do Flamengo, com a maior torcida do Brasil.

No entanto, a falta de títulos importantes nos últimos anos tem feito com que os torcedores se afastem da equipe, que é a oitava na classificação, com apenas 18.270 assistentes em cada partida.

O Bahia, outro clube da região nordeste, jogou na segunda divisão em 2016 e, mesmo assim, teve uma média de 14.793 espectadores por jogo, e ficou em 10º lugar no Brasil.

O Santos, de ídolos como Neymar e Pelé, é apenas o 15º colocado, com um média de 10.558 pessoas por partida e uma ocupação de 52% da Vila Belmiro.

Por Gustavo Moniz.

COLÔMBIA

Medellín é a pátria do futebol na Colômbia.

Durante a última temporada, o Atlético Nacional levou ao estádio uma média de 36.149 torcedores por partida, 70% da capacidade do Anastasio Girardot, que pagaram entre 9 e 44 dólares (entre 30 e 150 reais) para ver sua equipe em ação.

Logo atrás vem o Deportivo Independiente Medellín.

Em cada jogo em casa chegaram a 33.391 espectadores, 64% da capacidade do estádio.

E os preços das entradas oscilaram entre 10 e 43 dólares (34 e 145 reais).

As filas para entrar nos estádios do país não eram tão frequentes até alguns anos atrás.

À exceção dos clássicos ou finais, muitas partidas da Liga da primeira divisão se disputavam sem o grito de gol nas arquibancadas.

Cimento e escadarias vazias era o que se via.

Muitos torcedores, mas pouca militância.

Na década de 1980, recordada como o Segundo Dourado, muitos dos melhores jogadores de futebol da América do Sul faziam escala na Colômbia antes de chegar a times europeus.

O América de Cali era uma seleção do continente.

Chegou três vezes à final da Libertadores.

O Atlético Nacional, base da seleção da Colômbia, chegou a ganhar a competição.

Ambas as equipes conquistaram torcedores por todo o país.

Mas passaram da euforia ao outro extremo.

Em 1994, depois da eliminação da Colômbia do mundial dos Estados Unidos e do assassinato de Andrés Escobar, muitos torcedores se afastaram dos campos.

Além disso, durante esses anos, começaram a surgir as primeiras 'barras bravas' (torcidas organizadas).

Milhares de jovens adaptavam modelos do sul do continente para levar sua paixão pelos clubes ao limite.

Tanto que provocaram a maior onda de violência dentro e fora dos estádios.

Um fenômeno resultou no maior número de torcedores proibidos de frequentar jogos.

Agora, as pessoas estão voltando aos estádios.

Depois do Atlético e do Independiente, uma surpresa: o Júnior.

A equipe de Barranquilla atraiu uma média de 20.722 espectadores por partida durante o último campeonato, por cima das duas equipes de Remará, Santa Fé e Millonarios.

Assistir a um jogo do Júnior custava entre seis e 26 dólares (20 e 88 reais); do Santa Fé, entre 13 e 98 dólares (44 e 332 reais) e do Millionarios entre 12 e 58 dólares (40 e 196 reais).

Por Sally Palomino.

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