quarta-feira, maio 24, 2017

Barcelona: A queda do todo poderoso...



A queda do todo poderoso...

Por Oscar Cowley, repórter do Universidade do Esporte - 88,9 FM Universitária - Natal/RN

É evidente que o Barcelona não teve a temporada dos sonhos, o time vive um contraste daquilo que estávamos acostumados a ver no campo em temporadas passadas e isso, definitivamente, influenciou nos resultados.

Enquanto isso, o Real Madrid passa por um dos melhores momentos da sua história, podendo conquistar o terceiro título de Champions League em apenas quatro anos e ameaçando a supremacia dos catalães (com quatro conquistas) como o time mais vitorioso deste século na competição mais importante de clubes.

Na Espanha, quando um time passa por uma grave crise após um longo tempo de sucesso sempre se fala em “fim de ciclo”.

É uma forma dramática de apontar que algo que passamos a admirar durante anos chegou ao fim (o mesmo aconteceu com a seleção espanhola depois do fracasso no Brasil).

Porém, o questionamento que fica é: o que leva um dos melhores times já vistos na história do futebol a cair tão rápido?

E ainda por cima, permitir que seu maior rival chegue perto de equivaler tamanho êxito alcançado durante este século?

Bom, para responder essa pergunta é importante notar que nos últimos anos, mais especificamente desde 2014, houve uma inversão de papeis entre os dois maiores clubes da Espanha.

O Real Madrid, conhecido por suas contratações absurdamente custosas, passou a investir em jogadores da casa.

Por outro lado, o Barcelona, que sempre se sustentou nas joias de “La Masia”, começou a gastar milhões em reforços que não corresponderam.

Claro que Luis Suarez e Neymar são uma exceção, contudo, a presença deles junto a Messi evidenciam ainda mais a decepcionante temporada de um time com três dos melhores jogadores do mundo.

Durante anos, o time de Florentino Perez foi criticado pelas inúmeras contratações desproporcionais que acabavam não justificando em campo tamanho investimento.

As comparações com os catalães, por sua vez, eram odiosas.

Jogadores como Messi, Xavi, Iniesta, Pique, Puyol, formados em “La Masia”, mostravam uma e outra vez que no futebol dinheiro não é tudo e que o investimento em jogadores locais é o verdadeiro segredo para o sucesso.

Porém, de alguns anos para cá, talvez pela sanção imposta pela FIFA ao Barcelona em vista das contratações ilegais de menores de idade, não vem aparecendo reforços de alto nível vindos da base e consequentemente os títulos diminuíram.

Nesta temporada o Barcelona gastou 122,5 milhões de euros (R$ 447 milhões, na cotação deste final de semana) em seis reforços: André Gomes (35), Paco Alcácer (30), Umtiti (25), Digne (16), Cilessen (13) e Denis Suarez (3,5).

Destes, apenas Umtiti realizou uma boa temporada, tendo sido titular em grande parte das partidas na zaga.

Os demais, com destaque para André Gomes e Paco Alcácer (os mais caros), foram um grande fracasso.
Nem os mais de 100 gols do trio MSN conseguiram encobrir tantas deficiências no time, principalmente na defesa, onde as consecutivas goleadas sofridas em Champions League evidenciaram existir um grande problema.

A tudo isto se soma um ponto essencial na formação do Barcelona dos anos mais vitoriosos, a base.

Há algum tempo que o clube não produz jogadores do porte de Busquets, Pique ou Fabregas.

E os que permanecem na ativa, como Iniesta, começam a alcançar uma idade em que o rendimento não é o mesmo.

Neste ano, apenas o meio-campista Carlos Aleña, de 19 anos, fez algumas aparições em jogos discretos.

O brasileiro Marlon, elogiado pelas suas contribuições no final da temporada parece estar começando a ganhar destaque, porém não é cria de “La Masia” e sim de Xerém, comprado pelos catalães.

Já o Real, que nunca soube aproveitar os jogadores da “Fábrica” começou a repatriar alguns jogadores formados em casa a preços muito mais acessíveis.

Apenas nos últimos anos podemos destacar Carvajal, Lucas Vázquez, Kiko Casilla, Casemiro (que apesar de não ser de Madri jogou no time B) e Morata.

Ainda, passaram a investir em contratações de jogadores jovens, apostando em seu desenvolvimento dentro do time, no lugar de contratá-los já formados (e muito mais caros) como Isco, Asensio, Varane, Vallejo (emprestado no Eintracht Frankfurt) e Marco Llorente (emprestado no Alavés).

É justo dizer, dessa forma, que o Barcelona deixou de ser o melhor time do mundo no momento que os jogadores da base pararam de reforçar o time principal.

Os poucos que surgiram nos últimos anos, como o atacante Sandro (uma das revelações da temporada no Málaga, com 14 gols), Thiago Alcantara (possivelmente um dos jogadores mais destacados no Bayern esta temporada), Rafinha (com 7 gols em apenas 1570 minutos disputados) e Denis Suárez (grandes temporadas tanto no Sevilla quanto no Villarreal), foram vendidos ou simplesmente não tiveram oportunidades no time titular. 

Curiosamente, o cenário é o mesmo que vimos no Real alguns anos atrás quando os jogadores da “Fábrica” perdiam o lugar para os famosos “Galácticos” (que, por sinal, nunca venceram uma Champions League).

E a lista não é pequena, jogadores como Felipe Luís, Juanfran, Soldado, Negredo, Eto’o, Parejo, Mata, Callejón e Diego Lopez, passaram pelas bases do Real Madrid antes de conseguirem destacar em outros times.

Seja como for, o Barcelona precisa fazer mudanças em seu time para a próxima temporada.

Os merengues parecem estar voltando a seus tempos de glória e ao mesmo tempo ofuscando a era mais vitoriosa dos catalães, que cada vez mais parecem estar deixando de lado aquele que sempre foi seu maior orgulho, conhecido como o lar onde nascem os maiores craques do mundo, “La Masia”.

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