domingo, junho 04, 2017

CR Vasco da Gama: Projeto de lei reconhece São Januário como de interesse histórico, cultural, desportivo e social...

Imagem: Autor Desconhecido


Os vereadores Renato Cinco e Tarciso Motta, apresentaram projeto de lei que propõe o reconhecimento do estádio de São Januário como “de interesse histórico, cultural, desportivo e social para o Município...

Os vereadores solicitaram ao jornalista Juca Kfouri sua colaboração na justificativa do projeto.

Abaixo o texto escrito por Juca Kfouri...

O Estádio de São Januário, inaugurado em 1927, é patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro e um dos mais emblemáticos templos do futebol mundial.

De notável arquitetura neocolonial, palco de alguns dos mais importantes eventos esportivos, culturais e políticos do país durante o século XX, a casa do Club de Regatas Vasco da Gama é também um símbolo da luta contra o racismo no esporte e até hoje um exemplo de espaço popular de lazer no subúrbio carioca.
Sua construção remonta à perseguição que o Vasco da Gama sofreu após ser campeão carioca no ano de 1923 com uma equipe formada por atletas negros, mestiços e de origem humilde.

Na ocasião, o time bateu, logo em seu primeiro ano na primeira divisão, os clubes grandes da época, então formados por jovens de famílias ricas da cidade.

Para mascarar inconfessáveis ânimos racistas e elitistas, dirigentes que defendiam a exclusão imposta ao Vasco do campeonato alegaram para tanto, entre outras coisas, a falta de um estádio próprio.

Foi o que motivou uma histórica campanha de arrecadação que movimentou a capital federal e envolveu milhares de associados e torcedores.

Em tempo recorde, ao pé de uma colina no bairro de São Cristóvão, os vascaínos ergueram aquele que durante alguns anos foi o maior estádio de futebol das Américas – e que, para sempre, ficou como um monumento contra o preconceito e pela igualdade racial no país.

A partir de então, até a construção do Maracanã, em 1950, São Januário foi o principal estádio do Rio de Janeiro e testemunhou momentos marcantes do nosso esporte.

Além de receber jogos de grandes times brasileiros e estrangeiros, foi casa da Seleção Brasileira, que se sagrou ali campeã da Copa Roca de 1945, das Copas Rio Branco de 1947 e 1950, e do Campeonato Sul Americano (a atual Copa América) de 1949, vencido com seis jogadores vascaínos atuando como titulares na maior parte do torneio.

Em 1998, o Vasco da Gama fez em São Januário uma das partidas finais da Libertadores da América, principal competição de clubes do continente.

Em 2007, o atacante Romário marcou ali seu milésimo gol no futebol.

Vários grandes jogadores que defenderam o Brasil em Copas do Mundo foram formados ou se consagraram em São Januário.

Além do próprio Romário, nomes como Fausto, Leônidas da Silva, Russinho, Domingos da Guia, Barbosa, Augusto, Danilo Alvim, Ademir de Menezes, Chico, Heleno de Freitas, Maneca, Jair da Rosa Pinto, Friaça, Pinga, Vavá, Bellini, Orlando Peçanha, Roberto Dinamite, Mazinho, Bebeto, Edmundo, Mauro Galvão e Juninho Pernambucano, entre muitos outros, tiveram por lá momentos fundamentais de suas carreiras.

Nomes lendários que nunca tiveram a oportunidade de jogar um mundial pela seleção – caso de Jaguaré, Sabará, Walter Marciano, Ipojucã ou Dener, por exemplo – também escreveram sua história em São Januário.

Ídolos de nosso atletismo olímpico como Adhemar Ferreira da Silva adotaram o estádio como espaço de treinamento.

Até hoje o Vasco da Gama se notabiliza como clube revelador de grandes jogadores, mantendo nas dependências de São Januário um alojamento e um colégio para a formação dos adolescentes que vêm de diversos lugares do país e encontram no futebol uma oportunidade.

São Januário também testemunhou importantes momentos de nossa história política e cultural.

Nas décadas de 30 e 40, o presidente Getúlio Vargas costumava arrastar multidões para seus comícios no estádio.

Em um deles, no dia 1º de maio de 1940, anunciou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as primeiras leis trabalhistas do Brasil.

Naquele mesmo ano, a “Colina Histórica” – como também é conhecido o estádio – foi o palco da apresentação de um coral composto por mais de 40 mil estudantes e regido pelo maestro Heitor Villa-Lobos.

Cinco anos mais tarde, durante o processo de redemocratização do país, Luis Carlos Prestes reuniu mais de 100 mil pessoas em um comício que foi fundamental para trazer o Partido Comunista de volta à legalidade.

Também em 1945, o estádio recebeu o desfile das escolas de samba, vencido naquele ano pela Portela.
Percebe-se, portanto, a grande importância histórica, cultural, desportiva e social do Estádio de São Januário para o município do Rio de Janeiro.

Localizado na zona norte, em uma região que reúne espaços como a Feira de São Cristóvão, a Quinta da Boa Vista, o CADEG, a quadra da Estação Primeira de Mangueira e o Maracanã, São Januário possui até hoje grande centralidade na vida esportiva e cultural da cidade, sendo um dos principais destinos de lazer de cariocas de diferentes classes sociais.

Ao aprovar essa lei, a Câmara Municipal de Vereadores fará um justo reconhecimento e zelará pelo patrimônio do Rio de Janeiro.

Nenhum comentário: