quinta-feira, julho 13, 2017

"A culpa é de São Januário"...

Imagem: Autor Desconhecido


É mais fácil culpar São Januário

Por Marcos Neves Junior, comentarista do "Universidade do Esporte", da 88,9 - FM Universitária de Natal

Depois do show de horrores oferecido por torcedores do time da casa no clássico Vasco 0x1 Flamengo, partida disputada no último sábado pelo Campeonato Brasileiro, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) interditou o estádio de São Januário.

A CBF, por sua vez, proibiu público na Colina em qualquer competição organizada por ela até que o STJD julgue o clube, que pode perder 25 mandos de campo, além de pagar uma multa de R$ 350 mil, caso receba a punição máxima.

Com isso, talvez as duas entidades, assim como Ministério Público, Polícia Militar e todos os outros que não gostam de futebol, achem que a violência estará automaticamente banida do esporte.

No entanto, tal decisão, tão rápida, tende a, mais uma vez, empurrar para debaixo do tapete os problemas reais relacionados ao comportamento dos torcedores.

Sim, São Januário é um estádio com um entorno hostil e cheio de dificuldades.

Por muitos anos fui frequentador dos principais estádios do Rio de Janeiro e este não era o mais fácil de se circular tranquilamente.

As ruas estreitas, a proximidade com favelas inseguras e, claro, a presença de duas torcidas organizadas violentas do Vasco - em constante guerra entre elas, inclusive - são alguns dos elementos que compõem o cenário.

Não é um ambiente receptivo a visitantes.

Qualquer um que vá a estádio no Rio sabe disso.

Porém, lá as bandeiras são permitidas, a partida se vê de pé, duas torcidas participam e se sente o verdadeiro clima - algo subjetivo, sei - de um jogo de futebol.

Mas o que acontece agora?

O Vasco não joga mais em sua casa.

Talvez vá para o Nilton Santos ou, ainda, consiga um acordo para jogar no ex-Maracanã.

Certo. E quem são os torcedores que vão assistir aos jogos nesses novos locais (que estão próximos a São Januário, num raio menor que 12 km)?

Entre a maioria honesta, os mesmos criminosos que protagonizaram a selvageria de sábado.

Quem frequenta jogos os conhece.

Os seguranças do clube os conhecem.

Os presidentes e diretores os conhecem.

A polícia os conhece.

A justiça os conhece.

Mas, impunes, os maus torcedores seguem triunfando.

Pior, com a anuência já desvelada de todos os responsáveis - que não veem bombas, armas de fogo e outros objetos proibidos entrarem.

É muito mais fácil culpar o estádio.

Este ano o Engenhão já foi palco de duas brigas de grandes proporções, uma delas com morte.

Brasília sempre que recebe clássicos apresenta conflitos dentro e no entorno.

O Beira-Rio não fica atrás e tem episódios recentes de violência e depredação.

Interdições?

Não.

Prisões?

Não.

Pois a culpa é do estádio velho, do estádio com valor de ingresso justo, do estádio de futebol que já não serve para o jogo porque não é uma arena confortável.

Estão matando o futebol brasileiro e nem sei se posso dizer que é sem perceber.

Nenhum comentário: