segunda-feira, julho 03, 2017

A jornalista Lígia Carvalho conta como foi assistir pela primeira vez uma partida de futebol americano...

Imagem: Leila de Melo


O que eu aprendi no jogo do Bulls

Por Lígia Carvalho, repórter do TVU Esporte da TV Universitária e com um pé no Universidade do Esporte da 88,9 – FM Universitária
 
Era final de maio/início de junho quando resolvi ir a estreia do Bulls Potiguares na 1ª divisão do futebol americano.

Parecia uma excelente proposta: jogo na Arena das Dunas, por R$20 o ingresso e o melhor, eu ia agradar um crush apaixonado por FA.

Comprei meu ingresso, o romance com o crush acabou, Edmo, amigo que joga no Bulls, me encheu o saco e resolvi ir mesmo assim. 

Fazia uma semana que chovia sem parar em Natal.

Seria um sinal de São Pedro para me manter em casa colocando as séries em dia?

O domingo chegou com um belo sol. 

Sem entender porra nenhuma das regras, ou pra onde ia o jogo, resolvi estudar.

Perguntei a Edmo, assisti vídeo, li, reli, fodeu. 

Cheguei na Arena, peguei o que parecia um bom lugar, central, perto do campo.

Sentei na cadeira não muito confortável e esperei uns 15 minutos até o jogo começar.

Foi aí que tive a certeza: a única coisa que sei disso é que o marido de Gisele Bündchen é um excelente jogador e que os shows no intervalo do super bowl são do caralho. 

Saudades das apresentações de Beyonce, inclusive.

Será que aqui Grafith vai tocar no intervalo?

Eita que pancada!

Via os jogadores se amontoando e tudo normal, pancada atrás de pancada e quando não tinha ninguém batendo o juiz marcava falta.

O narrador que falava para todo o estádio parecia mais perdido que a zaga do Brasil no 7x1.

Do nada os times mudam o lado do campo e ele não explicava nada.

Um monte de flanelinha voando e eu lá, sem entender o que tava acontecendo.

Acho que ele esqueceu que nós, brasileiros mortais, talvez não estejamos tão acostumados com o jogo americano.

Um jogador do time visitante pega a bola, dribla todo mundo e chega até o final do campo numa arrancada espetacular.

Touchdown, seis pontos somados e uma semelhança com nosso futebol: lances com dribles e arrancadas são os mais bonitos.

Descobri também que o Y, aquelas traves que ficam no final do campo, são bem mais altas pela TV.

Pode ser impressão e pode ser só o jeitinho brasileiro mesmo.

Mas, a minha primeira surpresa foi a quantidade de jogadores em campo.

Se juntássemos os dois times, daria quase a mesma quantidade de pessoas que estavam na arquibancada.

Com uma hora de jogo eu parecia estar entendendo alguma coisa.

A ideia era chegar com a bola no final do campo.

O time do Bulls tentava ligações diretas, mas alguns mãos de alface não seguravam.

Só valia o lance se o jogador segurasse a bola. 

Se tivesse um goleiro, só o do Bulls teria trabalhado e o do João Pessoa Espectros estaria só observando.

O time potiguar tinha dificuldades de conseguir avançar o campo e isso não precisava ser especialista para notar.

Entendi também que as flanelas voando em campo eram arremessadas quando tinha falta.

Pelo menos foi o que alguém perto de mim comentou.

O que o juiz marcava era outros 500.

Acho que isso nunca vou entender.

“Matheus, olha pra mim Matheus”, gritava uma jovem senhora perto de mim, com um grito que consigo descrever apenas de uma maneira: ela engoliu gás hélio e gritava alto o suficiente para todo estádio ouvir.


 “Olha Matheus. Olha Matheus. Olha Matheus” 

Gritava em uníssono a torcida do Bulls após ouvir os apelos daquela que depois descobri ser tia do jogador.

Matheus, coitado, se encolhia na armadura usada morrendo de vergonha.

Esse sem dúvida foi o momento mais divertido da partida.

Eu já não aguentava mais estar sentada ali.

No futebol o jogo acaba logo, tem as músicas da torcida para cantar, você sabe o que tá acontecendo.

Mas ali eu tava mais perdida que cega em tiroteio.

Com três horas de jogo o narrador anunciou que faltava um minuto pra partida terminar e esse foi o minuto mais longo da minha vida.

Um jogador do Bulls pega a bola e dá uma arrancada para o tochdown.

Último e único ponto do time potiguar, que perdeu seu jogo de estreia por 6x30.

Nessa tarde de domingo, aprendi que não sei de nada de Futebol Americano.

Não sei se o jogo foi ruim porque o time que eu torcia perdeu, se o jogo foi ruim no geral, ou se foi bom e quem é ruim sou eu.

 Se eu vou voltar para ver mais um jogo do time?

Vai que eu arranjo um novo crush apaixonado por Futebol Americano...

Isso não dá para prever.


Imagem: Leila de Melo

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