domingo, janeiro 20, 2019

Ameaça da TV aos Estaduais só reflete desinteresse do público...

Imagem: Autor Desconhecido

Ameaça da TV aos Estaduais só reflete desinteresse do público

Por Rodrigo Mattos, do UOL Esporte

Os Estaduais começam em 2019 com seu tamanho e modelo sob questionamento pela intenção velada da Globo de rever o calendário do futebol brasileiro no futuro.

A atitude da emissora nada mais é do que o reflexo empresarial de um desinteresse do público por boa parte das competições regionais.

Tradução: os campeonatos atuais perderam boa parte do seu significado esportivo e, por consequência, o econômico.

Alguém vai bater no peito e argumentar que ''haverá finais com casa cheia e olha como os Estaduais estão vivos''.

Sim, porque a rivalidade entre os times nacionais vai bem obrigado e proporciona esses confrontos.

Mas são quantos jogos assim em três meses de Estaduais?

Não é à toa que o público abandona o pay-per-view durante o período.

Para fazer sentido esportivo e econômico, campeonatos de futebol têm que ser atrativos na maior parte de seus jogos.

Como ocorre com o Brasileiro, com a Libertadores, com a Copa do Brasil.

Haverá um ou outro jogo morto ali, mas, na maioria deles, há bastante coisa em disputa.

Faz sentido botar o Palmeiras com seus R$ 600 milhões de receita para enfrentar um sem número de times pequenos?

Qual é a evolução técnica que isso proporciona para o time de Felipão?

Qual é a vantagem econômica visto que tira datas de campeonatos que só crescem em valor como Brasileiro e Libertadores?

Precisamos encarar a realidade de que os Estaduais roubam de nossos clubes grandes tempo (datas) e dinheiro.

Esses dois elementos são imprescindíveis para que os nossos grandes clubes se fortaleçam e consigam minimamente disputar com europeus, seja dentro de campo, seja nas cabeças das crianças que vão formar o público do futebol.

Enquanto nossos melhores jogadores enfrentam adversários muito inferiores em campos esburacados, Messi desfila na Liga dos Campeões e no Espanhol na TV.

Enquanto nossos jogadores têm menos de 20 dias de pré-temporada para estrear no Estadual, Guardiola arma seu City para exibir um dos times com futebol coletivo mais convincente do mundo.

''Ah, mas vamos matar os times pequenos que formam a base da formação de jogadores.''

Como estruturas profissionais, esses clubes já estão morrendo.

Eram 700 e tantos no Brasil, já caíram para 600.

Outros devem sumir.

Nenhuma migalha de cota de Estadual em três meses vai salva-los.

O que pode, sim, salva-los é criar uma estrutura paralela ao funcionamento dos grandes clubes para que continuem a existir.

Pode ser com campeonatos regionais semiamadores na maior parte do ano com direito a classificar a fases reduzidas finais de Estaduais – sim, eles poderiam sobreviver com seis, oito datas, um mês no máximo, como um início de temporada.

E pode ser com um projeto de financiamento feito pela própria CBF onde sobra dinheiro no caixa e os incentivos para o futebol nacional são bem reduzidos proporcionalmente ao que arrecada com ele.

Mesmo o Brasileiro, transformado em liga, poderia gerar dinheiro para bancar campeonatos amadores pelo país.

Ou pode ser com a destinação de dinheiro direto para formação de atletas pelo país em centros bancados pela CBF.

O que não dá mais é para os Estaduais funcionarem como âncora para a elite do futebol nacional.

É preciso que se ponha em primeiro lugar o Brasileiro de dez meses, a Libertadores, a Sul-Americana e a Copa do Brasil.

Ou então vamos nos conformar com o baixo nível técnico e sermos párias de um futebol mundial pujante que se apresenta pelo mundo.

Seria como insistir na máquina de escrever por um apego emocional quando seu concorrente trabalha com poderosos processadores.

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