Pay-per-view leva Globo a querer mudanças no calendário do futebol
nacional
Por Rodrigo Mattos
Uma discussão nos bastidores do
poder do futebol tem se desenrolado em torno da mudança de calendário do
futebol brasileiro.
A Globo é a principal força do
mercado que defende a reforma e tem um motivo: aumentar as receitas com o
pay-per-view que é sua principal aposta para o futebol.
Pouco atrativos para o público,
os Estaduais provocam quedas na arrecadação do pacote global, segundo apurou o
blog.
Ressalte-se que o movimento da
emissora sofre resistência das federações estaduais.
Foi instituída uma comissão pela
CBF para discutir o calendário para 2020, que analisaria redução dos Estaduais,
mas até agora os trabalhos estão estagnados.
Para entender o cenário, é
preciso explicar como funciona o atual modelo de competições e seu
financiamento pela televisão.
Em sua maioria comprados pela
Globo, os Estaduais se estendem de janeiro ao final de abril.
Reservam as principais datas de
final de semana e só tem clássicos que valem em poucas delas.
Enquanto isso, o Brasileiro se
inicia em maio.
Pois bem, a Globo tem três
plataformas para ganhar dinheiro.
Na TV Aberta, é com publicidade e
os Estaduais entram no pacote do ano e têm que proporcionar de 90 a 100 dias
com transmissões de futebol no canal.
Na TV Fechada, a Sportv segue
recebendo dinheiro de assinantes durante esse período.
O problema é o Pay-Per-view que é
hoje a principal aposta de crescimento de receita da Globo.
Estima-se que o valor a ser ganho
com o produto gira em torno de R$ 1,5 bilhão por ano.
A questão é que esses ganhos são
bastante impactados pelos Estaduais.
Explica-se: os regionais não
sustentam a atenção do torcedor para jogos de outros times.
Um cruzeirense não se interessa
por jogos do Corinthians, e o inverso é verdadeiro.
Para ter um número reduzido de
jogos de seu time que valem, o assinante vai embora e volta depois.
Além disso, o período coincide
com jogos de alta relevância no mercado europeu – fases decisivas da Liga dos
Campeões, Espanhol, Inglês – que concorrem pelo torcedor.
Na avaliação da Globo, está claro
que o problema seria sanado se a competição mais nobre que é o Brasileiro fosse
estendido por dez meses da temporada.
Com o Nacional em curso, os
torcedores se interessam por um grande número de jogos em um produto mais
atrativo.
A Globo está investindo pesado no
pay-per-view, agora com transmissões com pacotes online dissociados do
pay-per-view.
Segue uma tendência do mercado
mundial onde o torcedor migra cada vez mais de pacotes variados de TV Fechada
para pacotes específicos online no estilo Netflix.
Em contraponto, os presidentes de
federações sabem que há um problema e tem um temor de que a emissora pare de
investir nos Estaduais.
Isso é motivo de discussão
constante entre eles.
Sem a Globo, os dirigentes sabem
que as competições se tornam inviáveis financeiramente.
Por isso, há a comissão formada
pela CBF para discutir o assunto.
Só que até agora a discussão está
parada já que os presidentes de federações não gostam da ideia de reduzir suas
únicas competições com a alegação de que isso vai matar a formação de talentos
em times pequenos.
Há resistência até em diminuir a
participação dos grandes nos regionais.
Sustentada politicamente pelas
federações, a CBF não se mexeu ainda apesar de saber que são necessárias mudanças
para 2020.
Em resumo, é a vontade do
consumidor de futebol brasileiro (ou do torcedor) ao boicotar os Estaduais que
têm proporcionado uma chance de mudança no calendário atual.