Análise: Privatização é alternativa para clubes crescerem
Discurso de sobrevivência do clube é bom para aplacar o ânimo do
torcedor, mas não reflete a realidade do futebol
Por Erich Beting para o site Máquina do Esporte
O discurso que os dirigentes de
clubes têm usado para justificar a venda de seus clubes é o da sobrevivência.
Foi assim que o Bragantino
explicou o motivo de vender o clube para a Red Bull, e é assim que o CSA tem
defendido a proposta vinda da China para privatizar o time alagoano.
Por trás das declarações que
tentam aplacar um pouco a indignação do torcedor mais apaixonado, está uma
situação muito clara para o futebol brasileiro: ou começamos a trabalhar
focados no crescimento, ou o futebol ficará estagnado no passado.
Foi a partir da venda do Chelsea,
em 2003, que os clubes ingleses perceberam o enorme potencial que tinham pela
frente.
Fechar a gestão não é um crime
contra os princípios da entidade, mas pode levá-la a um novo patamar de
competitividade.
O risco que temos, no Brasil, é o
de confundir privatização com sucesso gerencial.
Não é porque privatizamos a
gestão que ela se tornará eficiente.
É só ver quantas empresas entram
em falência para entender que o problema não é se ela tem um dono ou não, mas
como ela é gerida.
No caso do futebol, a
privatização dos clubes de pequeno e médio porte, como Bragantino e CSA, pode
significar um tremendo salto competitivo.
Como os dois são clubes sociais,
dependem de uma série de burocracias para tomadas de decisões.
E essas, geralmente, são feitas
por pessoas sem qualquer comprometimento com a gestão que, para piorar, têm
mania de grandeza.
O clube, então, se transforma num
estorvo.
Os associados acham que é preciso
fazer qualquer coisa para criar uma equipe forte, mas não se comprometem a ter
racionalidade para equacionar os investimentos e não levar o clube à falência.
Quando clubes que possuem
história e torcida, mas não conseguem crescer, viram focos de investimento, o
caminho a ser trilhado pode ser bem interessante.
A maior dificuldade que existe é
separar a mania de grandeza do dirigente da precária situação financeira.
Tendo por trás um grupo
investidor que gerencie o negócio e tenha essa visão de que o maior patrimônio
que ele tem é o torcedor, a tendência é de se criar uma base sólida de
crescimento e desenvolvimento.
O torcedor, então, volta a se
aproximar do clube e, assim, o crescimento desse modelo de negócio é quase
certo.
CSA e Bragantino conseguiriam
sobreviver tranquilamente sem privatização.
Mas, para o ego do torcedor e do
próprio dirigente, vender o clube para alguém que tenha fôlego de investimento
e gestão racional indica um futuro mais promissor.