‘Todos os casos ainda são muito
graves’, diz médico da CBF
Em entrevista exclusiva ao site
de VEJA, o neurocirurgião Jorge Pagura avalia a situação dos sobreviventes: 'a
maior preocupação é a infecção'
Por Natalia Cuminale/Para revista
Veja
Em entrevista exclusiva por
telefone ao site de VEJA, o neurocirurgião Jorge Pagura, presidente da comissão
de médicos da CBF, que está na Colômbia, comentou a situação dos sobreviventes
da queda do avião que levava a delegação da Chapecoense e jornalistas
brasileiros ocorrida na madrugada de terça-feira.
Como está o lateral Alan Ruschel?
Neste momento, está no centro
cirúrgico sendo submetido a uma limpeza dos ferimentos. Esse procedimento já
estava programado. Há um fato que me preocupa, porém, que são as enzimas
liberadas por causa da lesão muscular, o que chamamos de rabdomiólise. Essas
substâncias podem ser danosas para os rins, aumentando o risco de causar
insuficiência renal aguda. Felizmente, a parte renal do Allan está estável. O
que posso dizer é que todos os casos, apesar de estáveis, são muito graves.
Qual a maior risco agora?
O mais perigoso é a infecção por
causa da natureza do acidente. Eles ficaram com ferimentos expostos a terra e
também perderam sangue. Isso favorece o risco de infecções. Por isso, é
importante mantê-los estáveis e monitorados.
Como o senhor avalia a situação
geral?
Honestamente, esperava encontrá-los em um estado mais crítico do que vi.
O resgate demorou a chegar por causa da dificuldade de acesso ao local,
inóspito. Eles estavam machucados, com feridas abertas e expostas a lama.
Ficaram no frio, tiveram hipotermia. Tudo isso piora uma situação que já é
grave. Eles tiveram contusões torácicas, mas é o que se espera de um acidente
dessa proporção.
Eles estão conscientes?
Chegaram conscientes. Agora,
estão com um tubo na garganta porque têm contusões pulmonares e necessitam de
uma boa ventilação, mas conseguem se comunicar. Posso dizer que, até agora, não
detectamos nenhum acometimento cerebral grave.
Eles se comunicam de alguma forma?
Estava ao lado do médico da
Chapecoense Carlos Henrique Mendonça quando visitei os pacientes. O jornalista
Rafael Henzel conseguiu apertar a mão dele. O goleiro Jackson Follmann também
reconheceu o médico e levantou a cabeça. Isso mostra a importância de ver um
rosto conhecido. Eles não conseguem se comunicar porque estão com o tubo.
Apenas o Neto está com uma sedação mais forte.
Há previsão de quando eles devem ser transferidos para o Brasil?
É difícil estabelecer um prazo.
Primeiro, eles precisam estar estáveis clinicamente. Nossa ideia é transferir
todos para um mesmo hospital em Medelín, para facilitar a logística de
tratamento e o acesso das famílias. Agora, todo procedimento de emergência deve
ser feito. Depois, poderão fazer outros procedimentos eletivos no Brasil.
Como o senhor avalia o atendimento nos hospitais locais?
Eles estão sendo muito bem
tratados. Mesmo nos hospitais de menor porte, o atendimento é excepcional. Não
faltou nada em relação à equipamento e atenção profissional. A equipe é muito
competente. Posso dizer que todos são solícitos. Senti isso por todos os lados,
da população, do governo e também dos médicos.
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