sexta-feira, outubro 06, 2023

O peso do Boca Junior interrompeu o sonho do Palmeiras

Imagem: SE Palmeiras

A mística xeneize superou (mais uma vez) o plano alviverde

Após empate na Bombonera, Palmeiras e Boca repetem igualdade no Allianz Parque e, nos pênaltis, Romero brilha, derruba o time de Abel Ferreira e leva argentinos à 12ª decisão continental

Por Pedro Henrique Brandão

Mais de 40 mil pessoas foram ao Allianz Parque para acompanhar — mais — um embate épico entre Palmeiras e Boca Juniors pela Libertadores de América.

Todos os conhecidos caminhos que levam até a esquina mais alviverde da Terra (entre a Caraíbas e a Palestra Itália) foram inundados por ensandecidos palmeirenses.

Ao falar de público é impossível ignorar os 40 mil presentes e tantos milhares de ausentes neste mundo, mas vivos nos corações daqueles que cantam e vibram.

Jogo do Palmeiras é assim, 18 milhões aqui e outros incontáveis milhões além.

Sobre o jogo, o que se pode dizer é que o Abel Ferreira tem um plano, ele sempre tem o tal plano, mas é teimoso e não contempla plano B.

Mais uma vez morreu abraçado às suas convicções e está tudo bem, afinal, ele é o quarto técnico mais vencedor da história palestrina.

Em que pesem as entradas de Gabriel Menino e Arthur entre os titulares e a insistência em Mayke como ponta, que falam mais sobre a teimosia do gajo do que sobre a genialidade geniosa de Abel.

Pelo lado do Boca, o compasso do tango apareceu logo nos primeiros minutos.

Um time que buscava manter o empate, mas que tinha os pés bem firmes na lei do ex com Merentiel escalado.

Se não o gol, o atacante que passou pelas alamedas desfilou pela ponta esquerda, desafiou Gómez e cruzou na medida para Cavani.

Gol dos argentinos.

A vantagem trouxe a verdadeira disritmia do Caminito.

O Boca fazia o que bem entendia e distorceu a compreensão do tempo.

Em menos de 10 minutos lá se foi a primeira etapa.

Em mais 10 minutos, a metade do segundo tempo já havia sido vencida.

Não há abaixo da linha do Equador, quem dome melhor o tempo do que as 11 camisas do Boca em campo.

Se o Boca Juniors é dono do tempo, Marcos Rojo desconhece a razão.

Poderia ter sido expulso com um pé alto no rosto de Rony, mas não escapou depois de um carrinho desmedido.

Expulso deixou o Boca em desvantagem, mas nunca em minoria, afinal, o Boca nunca está só.

Neste contexto, coube a Piquerez, o lateral mezzo charruá, meio Palestra, anotar o gol do empate.

Romero demorou a decidir para onde ir.

A bola não precisou que decidissem, ela bailou em direção ao gol e estufou as redes.

O empate fez com que a já épica partida tomasse ares de epopeia.

Abel abriu mão — tardiamente — das convicções e colocou a meninada em campo.

Endrick, Kevin, Fabinho e Luiz Guilherme deram mais velocidade e ousadia ao Palmeiras.

Num cruzamento esperto de Luiz Guilherme, Rony abusou da categoria e pedalou a bicicleta dos sonhos que teria sido o golaço da classificação não fosse (o maldito) Sergio Romero.

O tempo passou e o Boca fez o tempo passar.

O árbitro Andres Matonte não percebeu e deu apenas cinco minutos de acréscimos.

Não foi por isso que o Boca venceu, claro, mas aqui e ali pode ser que algum palmeirense fique ressentido com o tempo de desconto.

Os pênaltis vieram como tinham vindo em 2000 e em 2001, na decisão e na semifinal, respectivamente, os xeneizes levaram a melhor.

Antes de qualquer coisa é bom registrar que em 2018, o Boca também avançou.

Freguesia maior não há.

Weverton começou parando Cavani e deu esperanças extras a massa alviverde.

Na sequência a realidade da freguesia bateria no rosto dos palmeirenses.

Veiga e Gómez, dois dos principais batedores do Palmeiras, perderam as duas primeiras cobranças do time da casa.

Aliás, do alto dos 36 anos e dizendo se divertir nas últimas temporadas como jogador profissional, Sergio Romero parou o capitão alviverde e o melhor canhoto palmeirense desde Alex.

A classificação ficou a cargo de Pol Fernández.

Mais uma vez, o Palmeiras ficou no Caminito engolido pelo gigante Boca fazendo soar:

Por una cabeza… todas as loucuras, a boca dela que beija, apaga a tristeza, acalma a amargura.

Ao povo de verde restou:

Nessun dorma! Ninguém vai dormir!

Um time que joga apenas com 11 camisas em campo, aliás, 10 camisas parecem o suficiente depois de hoje.

Com os traumas do vice melancólico em 2000, e das semis em 2001 (Ubaldo Aquino) e 2018 (Benedetto/maledeto), o Palmeiras disse adeus em mais uma semifinal continental contra o Boca Juniors.

Esse Boca 2023 que vai disputar a final sem vencer sequer uma partida na fase eliminatória.

Uma equipe que sabe sofrer, mas sabe fazer sofrer como ninguém.

Um time que tem uma mística única e a quem basta colocar as camisas em campo.

Um clube que molda espaço e tempo ao seu bel prazer.

Uma camisa que jamais poderá ser chamada de “zebra”, mesmo que coloque as listras no uniforme.

A última nota de hoje

Sobre o Palmeiras de Abel Ferreira cabe uma nota: o melhor time, de todos os tempos, da última semana, o melhor Palmeiras que vimos está acabando.

Algumas peças não duram mais 90 minutos. 

Uma lástima.

O tempo é uma lástima, ou como diria Judy, o tempo é fábrica de monstros — para o bem e para o mal.

O Palmeiras de 1960 deve ter sido melhor.

O Palmeiras de 1972 foi melhor.

O Palmeiras de 1993 foi redentor.

O Palmeiras de 1999 foi desbravador.

O Palmeiras de 2015 foi renovador.

O Palmeiras todos os dias é aquilo que nós somos e isso é desnecessário explicar a quem é igual a nós e impossível a quem é diferente.

Como conforto, um anjo me convenceu a voltar sonhar “seu time já deu muita alegria nos últimos anos. Não pode ser assim sempre. Agora vá dormir que amanhã tudo começa mais uma vez”.

O futebol nos convence a sonhar e renovar sonhos a cada decepção. 

O futebol é metáfora mais bem acabada da vida…

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