quinta-feira, dezembro 19, 2024

Morreu Amaury Pasos a lenda do basquete brasileiro

Imagem: Autor Desconhecido
 

O gigante que iluminou o basquete brasileiro

Amaury Pasos deixa 89 anos de um legado eterno

Por Ananda Miranda/Universidade do Esporte

Dia 11 de dezembro de 1935.

Em berço paulista, nascia um dos maiores ícones do basquete brasileiro.

Amaury Antônio Pasos, a lenda das quadras, veio ao mundo para orgulhar não apenas a torcida do Corinthians, mas também a Seleção Brasileira.

Para os torcedores apaixonados, a camisa de Pasos certamente iluminou inúmeras partidas, deixando um legado inesquecível.

Da tristeza à paixão pelo basquete

Os pais de Amaury Pasos eram argentinos e vieram até o Brasil na tentativa de fugir da “Década Infame”, como os argentinos chamam o período de autoritarismo associado ao governo do General José Félix Uriburu.

O Brasil quase perdeu a lenda do basquete para os arquirrivais argentinos, mas o pai de Amaury queria um filho brasileiro.

 Aos cinco anos, Amaury Pasos enfrentou o impacto da descoberta da doença degenerativa de sua mãe, o que abalou profundamente a vida de toda a família.

Em 1940, com a situação da mãe somada ao ambiente político repressivo do governo de Getúlio Vargas, o pai de Amaury perdeu o apreço pelo Brasil.

Assim, a família retornou à Argentina, onde o jovem Amaury cresceu e encontrou no basquete sua verdadeira paixão.

No mesmo ano, a mãe de Amaury faleceu, marcando para sempre sua trajetória.

O atleta começou a jogar basquete ainda criança, acompanhando seu pai nas idas à Associação Cristã de Moços (ACM).

Naquelas visitas, ele se divertia chutando a bola em direção à cesta, sem imaginar o impacto que aquelas quadras teriam em seu futuro.

Antes de se destacar no basquete, Amaury brilhou na natação, onde se tornou campeão infantil dos 400 metros.

Até que as fugas dos treinos de natação para jogar basquete com os amigos começaram a ser cada vez mais recorrentes e Pasos chegou a jogar na primeira divisão argentina.

De volta para casa

Até se descobrir como um ótimo armador, Amaury passou por diversas posições no basquete, o que lhe proporcionou uma versatilidade única.

O resultado foi que, independentemente do rival ou da equipe, o atleta se destacava por sua multifuncionalidade.

No entanto, em 1951, uma nova insatisfação com os rumos políticos da Argentina levou seu pai a decidir retornar ao Brasil, onde Amaury continuaria sua trajetória no esporte.

Dois anos depois da chegada no Brasil, o garoto de 18 anos já tinha experiência e porte de atleta.

Levado pelo pai para treinar vôlei no Clube de Regatas Tietê, o técnico Oscar Guaraná percebeu que o amor de Amaury não era pelas redes de vôlei, e sim pelo basquete.

O atleta jogou no Tietê, Sírio e no Corinthians.

Kanela, então técnico da Seleção Brasileira de Basquete, rapidamente se impressionou com seu talento nas quadras, e convidou Pasos para ser o número 1 da equipe.

Na época Kanela não fazia ideia de que algumas décadas depois seu nome estaria estampado ao lado do de Amaury Pasos no hall da fama.

No Mundial de 1954, no Rio de Janeiro, com elétricos 100 pontos na campanha, a equipe garantiu medalha de prata para o Brasil, marcando o início de uma fase repleta de títulos para a seleção. 

1959 foi um ano de glória para o basquete brasileiro.

Além de conquistar o ouro no Mundial, a Seleção Brasileira teve Amaury Pasos como o primeiro brasileiro a ser agraciado com o prêmio Most Valuable Player (MVP), em português, “jogador mais valioso”, em duas edições.

Seu protagonismo, no entanto, não se limitou às quadras de basquete.

Em 2004, em reconhecimento à sua dedicação e excelência no esporte, Amaury recebeu o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, uma das mais importantes honrarias destinadas a premiar os melhores atletas brasileiros do ano.

Bicampeão mundial, com duas medalhas olímpicas de bronze, nos Jogos de Roma 1960 e Tóquio 1964, e jogando ao lado de grandes expoentes do basquete brasileiro como Wlamir Marques, Bira e Mosquito, o atleta era um dos ícones do esporte nacional. Sua jornada com a seleção se encerrou em 1967.

Para sempre, Corinthians

Amaury Pasos defendeu as cores do Corinthians entre 1966 e 1972, conquistando cinco títulos metropolitanos, três campeonatos paulistas, dois campeonatos brasileiros e duas edições do Campeonato Sul-Americano.

Sua importância para o clube e seu legado foram tão marcantes que, no mês passado, a torcida corinthiana prestou-lhe uma emocionante homenagem com a instalação de um busto na entrada do clube, celebrando para sempre a história do ídolo.

O atleta se tornou uma figura emblemática para o Corinthians, e esse carinho era recíproco. Frequentemente, o ídolo vestia a camisa do clube, demonstrando sua conexão e amor eterno pelo time que o consagrou.

O fim da glória nas quadras para um legado eterno

Em 1972, Pasos se despediu das quadras e se tornou empresário, direcionando sua carreira para os negócios.

No entanto, a saudade das quadras o levou de volta ao basquete dez anos depois, quando se aventurou como técnico.

Seu grande sonho era comandar a Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

No entanto, após a eliminação do Brasil e a perda da vaga, Pasos decidiu encerrar de vez sua carreira como treinador.

Como jogador, se despediu oficialmente das quadras em 1995 com medalha de ouro em uma partida do Campeonato Mundial de Basquete de Master, para pessoas acima de 30 anos.

Dia 12 de dezembro de 2024.

Na cama de sua casa em São Paulo, morre um dos maiores ícones do basquete brasileiro.

Amaury Antônio Pasos, a lenda das quadras, deixa o mundo com o legado não apenas para a torcida do Corinthians, mas também para a Seleção Brasileira.

“Amaury foi um gigante, um homem na vida e uma lenda no basquete. Tenho a satisfação de tê-lo tido como amigo e como técnico. Um dos maiores não só do Brasil, mas como da história. É uma perda irreparável. Nosso corpo tem prazo aqui na Terra, mas o legado dele é eterno e suas histórias e feitos serão lembrados por gerações.” - Guy Peixoto Jr, presidente da CBB

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