O gigante que iluminou o basquete brasileiro
Amaury Pasos deixa 89 anos de
um legado eterno
Por Ananda Miranda/Universidade
do Esporte
Dia 11 de dezembro de 1935.
Em berço paulista, nascia um dos
maiores ícones do basquete brasileiro.
Amaury Antônio Pasos, a lenda das
quadras, veio ao mundo para orgulhar não apenas a torcida do Corinthians, mas
também a Seleção Brasileira.
Para os torcedores apaixonados, a
camisa de Pasos certamente iluminou inúmeras partidas, deixando um legado
inesquecível.
Da tristeza à paixão pelo
basquete
Os pais de Amaury Pasos eram
argentinos e vieram até o Brasil na tentativa de fugir da “Década Infame”, como
os argentinos chamam o período de autoritarismo associado ao governo do General
José Félix Uriburu.
O Brasil quase perdeu a lenda do
basquete para os arquirrivais argentinos, mas o pai de Amaury queria um filho
brasileiro.
Em 1940, com a situação da mãe
somada ao ambiente político repressivo do governo de Getúlio Vargas, o pai de
Amaury perdeu o apreço pelo Brasil.
Assim, a família retornou à
Argentina, onde o jovem Amaury cresceu e encontrou no basquete sua verdadeira
paixão.
No mesmo ano, a mãe de Amaury
faleceu, marcando para sempre sua trajetória.
O atleta começou a jogar basquete
ainda criança, acompanhando seu pai nas idas à Associação Cristã de Moços
(ACM).
Naquelas visitas, ele se divertia
chutando a bola em direção à cesta, sem imaginar o impacto que aquelas quadras
teriam em seu futuro.
Antes de se destacar no basquete,
Amaury brilhou na natação, onde se tornou campeão infantil dos 400 metros.
Até que as fugas dos treinos de
natação para jogar basquete com os amigos começaram a ser cada vez mais
recorrentes e Pasos chegou a jogar na primeira divisão argentina.
De volta para casa
Até se descobrir como um ótimo
armador, Amaury passou por diversas posições no basquete, o que lhe
proporcionou uma versatilidade única.
O resultado foi que,
independentemente do rival ou da equipe, o atleta se destacava por sua
multifuncionalidade.
No entanto, em 1951, uma nova
insatisfação com os rumos políticos da Argentina levou seu pai a decidir
retornar ao Brasil, onde Amaury continuaria sua trajetória no esporte.
Dois anos depois da chegada no
Brasil, o garoto de 18 anos já tinha experiência e porte de atleta.
Levado pelo pai para treinar
vôlei no Clube de Regatas Tietê, o técnico Oscar Guaraná percebeu que o amor de
Amaury não era pelas redes de vôlei, e sim pelo basquete.
O atleta jogou no Tietê, Sírio e
no Corinthians.
Kanela, então técnico da Seleção
Brasileira de Basquete, rapidamente se impressionou com seu talento nas
quadras, e convidou Pasos para ser o número 1 da equipe.
Na época Kanela não fazia ideia de
que algumas décadas depois seu nome estaria estampado ao lado do de Amaury
Pasos no hall da fama.
No Mundial de 1954, no Rio de Janeiro, com elétricos 100 pontos na campanha, a equipe garantiu medalha de prata para o Brasil, marcando o início de uma fase repleta de títulos para a seleção.
1959 foi um ano de glória para o
basquete brasileiro.
Além de conquistar o ouro no
Mundial, a Seleção Brasileira teve Amaury Pasos como o primeiro brasileiro a
ser agraciado com o prêmio Most Valuable Player (MVP), em português, “jogador
mais valioso”, em duas edições.
Seu protagonismo, no entanto, não
se limitou às quadras de basquete.
Em 2004, em reconhecimento à sua
dedicação e excelência no esporte, Amaury recebeu o Troféu Adhemar Ferreira da
Silva, uma das mais importantes honrarias destinadas a premiar os melhores
atletas brasileiros do ano.
Bicampeão mundial, com duas
medalhas olímpicas de bronze, nos Jogos de Roma 1960 e Tóquio 1964, e jogando
ao lado de grandes expoentes do basquete brasileiro como Wlamir Marques, Bira e
Mosquito, o atleta era um dos ícones do esporte nacional. Sua jornada com a
seleção se encerrou em 1967.
Para sempre, Corinthians
Amaury Pasos defendeu as cores do
Corinthians entre 1966 e 1972, conquistando cinco títulos metropolitanos, três
campeonatos paulistas, dois campeonatos brasileiros e duas edições do
Campeonato Sul-Americano.
Sua importância para o clube e
seu legado foram tão marcantes que, no mês passado, a torcida corinthiana
prestou-lhe uma emocionante homenagem com a instalação de um busto na entrada
do clube, celebrando para sempre a história do ídolo.
O atleta se tornou uma figura
emblemática para o Corinthians, e esse carinho era recíproco. Frequentemente, o
ídolo vestia a camisa do clube, demonstrando sua conexão e amor eterno pelo
time que o consagrou.
O fim da glória nas quadras
para um legado eterno
Em 1972, Pasos se despediu das
quadras e se tornou empresário, direcionando sua carreira para os negócios.
No entanto, a saudade das quadras
o levou de volta ao basquete dez anos depois, quando se aventurou como técnico.
Seu grande sonho era comandar a
Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.
No entanto, após a eliminação do
Brasil e a perda da vaga, Pasos decidiu encerrar de vez sua carreira como
treinador.
Como jogador, se despediu
oficialmente das quadras em 1995 com medalha de ouro em uma partida do
Campeonato Mundial de Basquete de Master, para pessoas acima de 30 anos.
Dia 12 de dezembro de 2024.
Na cama de sua casa em São Paulo,
morre um dos maiores ícones do basquete brasileiro.
Amaury Antônio Pasos, a lenda das
quadras, deixa o mundo com o legado não apenas para a torcida do Corinthians,
mas também para a Seleção Brasileira.
“Amaury foi um gigante, um
homem na vida e uma lenda no basquete. Tenho a satisfação de tê-lo tido como
amigo e como técnico. Um dos maiores não só do Brasil, mas como da história. É
uma perda irreparável. Nosso corpo tem prazo aqui na Terra, mas o legado dele é
eterno e suas histórias e feitos serão lembrados por gerações.” - Guy
Peixoto Jr, presidente da CBB
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