O texto abaixo foi enviado como comentário ao blog do Vitor Birner, que assim como eu, torce o nariz para a Copa do Mundo a ser realizado no Brasil em 2014 (aliás, torcer o nariz é um dos meus esportes prediletos e convenhamos, o Brasil é um país que dá motivos de sobra).
Mas voltemos ao texto enviado pelo leitor do Birner, o português Pedro Costa, que acabou se transformando num post.
No comentário, Pedro Costa conta como estão agora, os estádios que Portugal construiu para realizar a Eurocopa de 2004 e, ainda deram o vexame de perder para a Grécia.
Mas antes...
Uma curta introdução...
Como era de se esperar, Ricardo Teixeira ao anunciar cheio de orgulho a indicação do Brasil pela FIFA, como sede do mundial de 2014, fez um daqueles discursos cheios de curvas, saliências e depressões, afirmando que o governo brasileiro teria que arcar com as obras de infra-estrutura, mas que em relação aos estádios a serem reformados ou construídos, quem iria bancar seria a iniciativa privada...
Tsc, tsc, tsc...
Conversa mole!
Por várias vezes postei nesse blog minha absoluta certeza de que o bom senso dos executivos das grandes empresas, tanto nacionais, como estrangeiras, impediria o derrame de dinheiro em cidades cujo futebol até pode ser o esporte preferido da população, mas com clubes que não geram arrecadações dignas de nota (ao menos para quem está acostumado a trabalhar com investimento de vulto).
Citei entre outras, Cuiabá, Manaus e Brasília, como exemplos cristalinos de minha afirmação e elenquei Natal, Fortaleza, Recife e Curitiba como sendo cidades que só conseguem lotação em seus estádios, ou nos clássicos regionais, ou nos campeonatos nacionais e, mesmo assim, dependendo de como estejam seus clubes mais amados nos torneios...
Bingo!
Não havia parceiros nacionais interessados e pior, nem sequer havia parceiros internacionais loucos para despejar seus dólares ou euros na construção das modernas e multifuncionais arenas previstas nos mirabolantes projetos...
Então, como sempre, sobrou para o governo federal...
Não!
Sobrou para o contribuinte, que verá seu rico dinheirinho jorrar dos cofres do BNDES, direto para as cidades cujos estádios sejam públicos...
Mas não será uma dádiva (nem o BNDES foi capaz de tal insanidade) e sim um empréstimo que o banco fará aos Estados e municípios envolvidos no evento...
Portanto, isso significa que Estados e municípios que irão gastar milhões para construir seus brinquedinhos, irão endividar-se por long, long time...
Com se já não fossem.
Pois bem, leiam o texto do Pedro Costa e façam uma pequena reflexão, mas nada que venha a tornar esmaecida a confiança na capacidade verde e amarela de realizar um gigantesco esforço, para mais uma vez quem sabe, curvar os europeus e o resto do mundo ao gênio desse país, cujo que há de melhor, segundo dizem, é seu povo...
Por Pedro Costa.
Birner, a sua questão é muito pertinente e para reflexão deixo o exemplo do Euro2004 em Portugal.
Apesar de ser destino de milhares de brasileiros, a situação de Portugal não era (e não é…), a melhor.
A organização de um evento desta natureza envolveu muito dinheiro, muita logística.
É claro que deixa um país orgulhoso, mas com que custos?
Como alguém escreveu aqui, não seria melhor apostar em áreas como a erradicação da pobreza, a saúde publica e o ensino?
Pois…
Mas em Portugal, como de certeza ai também, existem os lobbies das constructoras, dos cimentos, dos bancos, e há que dividir o bolo por toda esta clientela…
Quem paga?
O mexilhão, ou seja, o povo.
O que é certo é que Portugal ganhou a organização do Euro (á Espanha, que era favorita á partida…), e foram construídos de raiz 10(!) estádios, todos com capacidade de pelo menos 30.000 lugares sentados (regras da UEFA), e respectivos apoios, mais estruturas viárias.
Passados 5 anos este é o panorama: dos 10 estádios, só 9 têm jogos regularmente…
O estádio do Algarve é um autentico elefante branco, que serve para concertos, provas de automobilismo e 2 a 3 jogos por ano (jogos treinos no verão…), porque foi construído só para o Euro e nenhum clube o utiliza regularmente.
Outro estádio não tem utilização, o Bessa XXI, porque o seu clube, o Boavista foi despromovido por corrupção, tem dividas ao fisco e á segurança social (não pode contratar nem vender jogadores), e neste momento em que escrevo procura ainda dinheiro para se inscrever no campeonato amador…
Que já começou.
Pensa que é tudo?
Espere um pouco…
Três outros estádios (Aveiro, Leiria e Coimbra), pertencem ás câmaras municipais (prefeituras) das cidades, mas são usados por clubes irregulares que estão sempre entre a 1ª e a 2ª divisão.
Resultado: são estádios com 30.000 lugares, cuja assistência media não passa os 3.000 a 4.000 espectadores!!!
Da para imaginar?
Autênticos monumentos de cimento!
No caso de Leiria, o clube tem jogos que a assistência não chega a 1.000 espectadores (e muitos bilhetes grátis…).
Quem paga?
As câmaras, que se endividaram aos bancos em 20 a 30 anos (…).
Sobram cinco estádios que pertencem aos clubes, mas com custos financeiros altíssimos, que aumentam o passivo todos os anos e nalguns casos, fazem com que os clubes antecipem receitas de 10 anos (…), em patrocínios, merchandising e receitas televisivas.
Mas aqui em Portugal não aprendemos, e a FPF (federação), já anunciou a candidatura ao Mundial de 2020 (desta feita em conjunto com a Espanha…).
Vá lá, os estádios já estão feitos!
Então onde gastar o dinheiro publico?
Adivinhou?
É claro!
Estradas, ferrovias (TGV), hotéis e etc.
E quem paga?
Toda a gente sabe…
Abraço, Pedro Costa.
Qualquer semelhança do texto acima conosco, não é mera coincidência...