Uma frase de André Kfouri me
deixou o peito e alma aliviados...
Enfim, alguém disse com todas as
letras o que o tempo foi me ensinando sobre o bom e velho futebol e a maneira
como passei a me relacionar ele.
Não posso negar que quando li a
frase de André Kfouri, senti uma pontinha de inveja...
Queria ter sido o autor...
Letra por letra, sem tirar e nem
por.
A frase é a seguinte:
“Não há rivalidade sem respeito e
uma profunda admiração, confessável apenas em certos momentos”.
Perfeita.
No entanto, senti certa tristeza
ao perceber que além do Kfouri, eu mesmo e talvez mais alguns, pensem assim.
Que pena.
Fico imaginando como a imensa
maioria deve sofrer...
A relação doentia e miserável que
estes mantêm com o futebol deve ser um pesado fardo...
Seus nervos devem viver em frangalhos,
pois além de torcer por seus times, torcem desesperadamente contra aquele que
mais os incomoda...
A cada rodada, sofrem...
E, como sofrem tais criaturas.
Não conseguem compreender que o “ódio” que afirmam ter, nada mais é que o tal respeito e a tal admiração de
que fala André Kfouri.
Ninguém sente ódio de quem não
respeita e ninguém é rival de quem não admira.
No futebol, nenhum brasileiro “odeia” a
Bolívia...
A pequena e subdesenvolvida
Bolívia, não nos incomoda e nenhum “mau” pode nos fazer.
Nenhum brasileiro admira o
Equador...
A maioria absoluta, pouco ou
quase nada sabe sobre a nação banhada pelo oceano pacifico.
Mas...
Todos, ou melhor, quase todos, “odeiam”
a Argentina.
Na falta de um argumento sólido e
embasado pelo conhecimento, todos abraçam o senso comum e justificam o tal “ódio”
com uma frase que só demonstra a indigência intelectual de quem a pronuncia...
“Os argentinos são ‘boçais’ e
arrogantes, eles se acham”.
Como se nós, os brasileiros,
fossemos de uma humildade franciscana...
Como se tivéssemos consciência de
nossas imperfeições e fraquezas...
Como se não achássemos que o
mundo gira em torno deste gigante periférico que luta desesperadamente para se
afirmar diante do mundo.
Para não fugir do futebol,
pergunto: não somos nós que propagamos que
o Corinthians e o Flamengo são as maiores torcidas do mundo?
Porém, nenhum de nós lembra que a
China tem mais de um bilhão de habitantes e que qualquer time de terceira
divisão chinês, pode facilmente arranjar 30 ou 40 milhões de seguidores num
piscar de olhos.
Pois bem, para não me alongar,
afirmo que o motivo de “odiarmos” a Argentina não está em nenhum outro lugar a
não ser no futebol...
Nas 93 partidas que disputamos
contra eles, perdemos 35 vezes, vencemos 34, empatamos 24, sofremos 148 gols e
marcamos 142.
Se na Copa do Mundo temos 5
títulos, contra 2 deles, na Copa América, eles têm 14 e nós 8.
Se nosso futebol ainda luta para
conquistar uma medalha olímpica, eles carregam duas medalhas de ouro no peito.
Na Copa das Confederações eles
têm apenas uma conquista e nós, três.
Porém, nos Jogos Pan Americanos
eles ostentam 6 medalhas de ouro e nós 4.
Se nossa maior goleada sobre eles
foi um 6x2 em 1945, cincos anos antes eles nos enfiaram um 6x1.
Quando o assunto deixa de lado as
seleções e chega aos clubes, nosso respeito e nossa admiração escondida se
torna um “ódio” quase incontrolável...
A Taça Libertadores da América
foi ganha por clubes argentinos 22 vezes...
Nós, ganhamos 16.
O Independiente reina solitário
com seus 7 títulos...
O Boca Juniors soma 6 e o
Estudiantes 4...
Os nossos mais próximos
competidores, são o São Paulo e o Santos com 3 títulos cada um.
Portanto, nosso “ódio” reside na
nossa certeza que eles sempre poderão nos criar problemas...
Não se chuta cachorro morto.
Em nenhum
lugar do mundo se “odeia” o Íbis de Pernambuco ou a seleção da Jamaica.
Que respeito ambos impõe, e que
admiração ambos provocam?