sábado, julho 07, 2012

A triste vida dos que odeiam seu adversário, sem saber que o que sentem na verdade, é respeito e admiração...



Uma frase de André Kfouri me deixou o peito e alma aliviados...

Enfim, alguém disse com todas as letras o que o tempo foi me ensinando sobre o bom e velho futebol e a maneira como passei a me relacionar ele.

Não posso negar que quando li a frase de André Kfouri, senti uma pontinha de inveja...

Queria ter sido o autor...

Letra por letra, sem tirar e nem por.

A frase é a seguinte: 

“Não há rivalidade sem respeito e uma profunda admiração, confessável apenas em certos momentos”.

Perfeita.

No entanto, senti certa tristeza ao perceber que além do Kfouri, eu mesmo e talvez mais alguns, pensem assim.

Que pena.

Fico imaginando como a imensa maioria deve sofrer...

A relação doentia e miserável que estes mantêm com o futebol deve ser um pesado fardo...

Seus nervos devem viver em frangalhos, pois além de torcer por seus times, torcem desesperadamente contra aquele que mais os incomoda...

A cada rodada, sofrem...

E, como sofrem tais criaturas.

Não conseguem compreender que o “ódio” que afirmam ter, nada mais é que o tal respeito e a tal admiração de que fala André Kfouri.

Ninguém sente ódio de quem não respeita e ninguém é rival de quem não admira.

No futebol, nenhum brasileiro “odeia” a Bolívia...

A pequena e subdesenvolvida Bolívia, não nos incomoda e nenhum “mau” pode nos fazer.

Nenhum brasileiro admira o Equador...

A maioria absoluta, pouco ou quase nada sabe sobre a nação banhada pelo oceano pacifico.

Mas...

Todos, ou melhor, quase todos, “odeiam” a Argentina.

Na falta de um argumento sólido e embasado pelo conhecimento, todos abraçam o senso comum e justificam o tal “ódio” com uma frase que só demonstra a indigência intelectual de quem a pronuncia...

“Os argentinos são ‘boçais’ e arrogantes, eles se acham”.

Como se nós, os brasileiros, fossemos de uma humildade franciscana...

Como se tivéssemos consciência de nossas imperfeições e fraquezas...

Como se não achássemos que o mundo gira em torno deste gigante periférico que luta desesperadamente para se afirmar diante do mundo.

Para não fugir do futebol, pergunto: não somos nós que propagamos que o Corinthians e o Flamengo são as maiores torcidas do mundo? 

Porém, nenhum de nós lembra que a China tem mais de um bilhão de habitantes e que qualquer time de terceira divisão chinês, pode facilmente arranjar 30 ou 40 milhões de seguidores num piscar de olhos.

Pois bem, para não me alongar, afirmo que o motivo de “odiarmos” a Argentina não está em nenhum outro lugar a não ser no futebol...

Nas 93 partidas que disputamos contra eles, perdemos 35 vezes, vencemos 34, empatamos 24, sofremos 148 gols e marcamos 142.

Se na Copa do Mundo temos 5 títulos, contra 2 deles, na Copa América, eles têm 14 e nós 8.

Se nosso futebol ainda luta para conquistar uma medalha olímpica, eles carregam duas medalhas de ouro no peito.

Na Copa das Confederações eles têm apenas uma conquista e nós, três.

Porém, nos Jogos Pan Americanos eles ostentam 6 medalhas de ouro e nós 4.

Se nossa maior goleada sobre eles foi um 6x2 em 1945, cincos anos antes eles nos enfiaram um 6x1.

Quando o assunto deixa de lado as seleções e chega aos clubes, nosso respeito e nossa admiração escondida se torna um “ódio” quase incontrolável...

A Taça Libertadores da América foi ganha por clubes argentinos 22 vezes...

Nós, ganhamos 16.

O Independiente reina solitário com seus 7 títulos...

O Boca Juniors soma 6 e o Estudiantes 4...

Os nossos mais próximos competidores, são o São Paulo e o Santos com 3 títulos cada um.

Portanto, nosso “ódio” reside na nossa certeza que eles sempre poderão nos criar problemas...

Não se chuta cachorro morto.

Em nenhum lugar do mundo se “odeia” o Íbis de Pernambuco ou a seleção da Jamaica.

Que respeito ambos impõe, e que admiração ambos provocam?


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