Desculpem tratar aqui de um assunto que deveria ser apenas meu...
Mas se este blog existe, existe por causa desse amigo que agora se foi...
Por esse motivo, divido com todos minha dor e meu profundo desalento...
Seu nome?
Vou omitir em respeito a sua memória e por saber que sempre haverá um "juiz" pronto a julgar aquilo não conhecem e condenar sem se sequer saber as razões.
Estou com raiva...
Muita raiva.
Mas não é de você meu amigo...
Não, nunca conseguiria sentir
raiva de você e nem tão pouco seria capaz de julgar a decisão que tomou de não
ficar mais aqui.
Minha raiva é do vazio...
Maldito vazio.
Maldita impotência.
Hoje quando soube que você havia
decidido saltar para os braços da morte, chorei...
Chorei por que você, um dos
poucos e raros amigos, se foi...
Chorei por me recordar do grande
e luminoso sorriso que você sempre estampava, mesmo quando o mundo se
despedaçava a sua volta...
Chorei por nunca ter ouvido de
você nenhuma lamento, nenhuma reclamação ou palavra que não fosse de esperança
e crença de que a vida valia ser vivida.
Chorei ao me lembrar das coisas
boas que compartilhamos e das boas gargalhadas que demos, enquanto você contava
as trapalhadas com namoradas, casos e afins...
Por fim, chorei por não suportar
perdas e por ser egoísta demais...
Afinal, os egoístas como eu, se
apegam as coisas que amam...
Como amo tão poucas coisas, estou
despedaçado.
Porém, o que mais me dói agora, é
saber que por trás da fortaleza emocional que você construiu a sua volta, havia
um homem dividido...
Em cujo peito morava um coração
doce e sensível...
Capaz de depois de ouvir alguém
contar uma dificuldade, sair silenciosamente e sem pestanejar, sacar dinheiro da conta bancária e
doar...
Isso, doar...
Você nunca emprestou dinheiro a
ninguém, você deu.
Agora posso falar, não posso?
Você não vai mesmo poder
reclamar...
Foda-se então.
Pronto, disse, contei.
Você era grande meu amigo.
Tão grande que mesmo em sua agonia,
ainda foi capaz de levar suas menininhas a um shopping, passear com elas, rir,
lhes encher de guloseimas, comprar presentes e voltar para casa a pé...
Certamente essa volta
atravessando ruas, sinais, lojas e pessoas, foi para alongar seus últimos momentos
ao lado delas...
Você foi grande meu amigo, quando
ao chegar em casa, pegou suas pequeninas e as levou para o banho...
Imagino o que se passou no seu
coração ao vê-las felizes, sorridentes, entre a espuma do sabonete e a água do
chuveiro...
Sou capaz de apostar que neste momento, em seu rosto, estava presente aquele enorme sorriso...
Você manteve a calma ao chamar
sua mulher e pedir para que ela terminasse o banho das pequeninas...
Você foi sóbrio e discreto ao
abrir a janela, romper a tela protetora e saltar no vazio...
Nenhum grito, nenhum barulho,
nada, a não ser firme decisão de ir...
Tomara meu amigo querido que seus
últimos segundos até encontrar o chão, tenham sido de profunda paz.
Vou encerrar por aqui...
Mas antes, quero dizer que não o
julgo, não o condeno e não quero saber os motivos que o levaram à por fim a sua
vida...
Só espero não ter que ouvir de
nenhum idiota que você foi fraco ou que cometeu um pecado antecipando o fim...
Você foi um forte, eu sei quem
foi você...
Você não cometeu nenhum pecado,
apenas decidiu ir...
Por fim, saiba que se lhe negarem
um lugar ao lado do Deus que você tanto amava, por julgarem sua atitude
pecaminosa...
Não há com que se preocupar...
Por certo, Odin o receberá no
Valhalla ou Zeus no Olimpo...
O Valhalla e Olimpo são
destinados aos guerreiros e aos fortes...
Com certeza, você é um deles.
Quando a mim, sigo em frente levando
em meu coração meu amor por você...
Prometo que enquanto estiver por
aqui, dentro das minhas possibilidades, olharei por suas meninas.
Descanse em paz amigo querido.