Imagem: AP/Vadim Ghirda/ Arte: Fernando Amaral
Em 1962, eu tinha sete anos,
morava em Fortaleza, na Rua José Vilar, na Aldeota e o mundo para mim era
azul...
Hoje, Fortaleza ainda está na
minha memória não como a capital do Estado em que nasceram minha avó, meu pai e seus
irmãos...
É mais que a cidade onde minha
irmã viu a luz...
Fortaleza ainda é em minha memória
um lugar azul.
Em 1962, um pouco mais abaixo, em
terras vizinhas, um rapazola atravessou as portas da Rádio Poty, e começou uma
carreira que perdura até os dias de hoje...
Seu nome, José Lira, sua função, “Plantão
Esportivo”.
27 anos depois desembarquei em
Natal, não conhecia ninguém, não sabia o nome de nenhuma rua, mas um dia ao
ligar o rádio num domingo na pequena varanda do Hotel Farol em Areia Preta,
para matar a saudade de ouvir o bom velho futebol, ouvi um nome familiar...
Esse nome veio depois de um
bordão, que dizia: OLHA O GOL...
Era José Lira.
Lembrei na hora...
Havia ouvido seu nome aos 17
anos, em 1972, nas transmissões da rádio Tupi do Rio de Janeiro, durante a Mini
Copa realizada no Brasil.
Foi um momento muito especial
para mim...
Afinal, eu conhecia alguém em
Natal.
Minha primeira reação foi tentar
descobrir onde ficava a rádio Globo, pensei em ir até lá e dizer:
“Olá, meu
nome é Fernando, ouvi você em 72, estou chegando aqui e vim conhecê-lo
pessoalmente”.
Depois, o impulso foi refreado
pela razão e pelo medo de ser ridículo.
Não fui, mas continuei a ouvir os
jogos pela rádio Globo, pois me confortava saber que em Natal, tinha alguém cuja
voz era conhecida.
O tempo passou e acabei me
envolvendo em publicidade, jornalismo, radialismo e meus planos de trabalhar às
6 horas obrigatórias e flanar o restante do tempo pelas praias e pelas ruas de
Natal acabaram.
Meus planos fracassaram...
Passei a trabalhar não seis
horas, mais 10, 12...
Sei lá.
Engraçado, mas meus planos nunca
dão certo – devo ser um péssimo planejador e, talvez por isso, parei de planejar.
Um dia, me vejo no rádio...
Um dia, me deparo frente a frente
com José Lira.
Não como um admirador, mas como
um “igual”...
Colegas de trabalho.
O coleguismo durou pouco, quase
nada...
Zé Lira, já podia chamá-lo assim,
se tornou um amigo...
E para meu espanto, me disse que
me admirava e respeitava.
Foi o meu terceiro prêmio em
Natal.
Nenhum deles pode ser exibido,
mais poucos por aqui o possuem.
Rubens Lemos, sinto saudade dele –
certa vez numa cadeira do Machadão, me disse:
“Gosto do seu estilo e gosto da
forma como você se comporta... vá em frente, mas procura aprender um pouco mais”.
Rubens morreu pouco tempo
depois...
Ainda estou procurando aprender,
mestre Rubens.
Lute Lopes, outro de quem sinto falta, numa matéria
publicada no jornal “Tribuna do Norte”, disse com todas as letras que me
considerava um excelente comentarista...
Guardo o jornal até hoje como um
troféu.
Feito esse parêntesis ou como
dirão alguns, esse intervalo comercial (risos), volto ao assunto que me motivou
escrever essas linhas.
José Lira.
Hoje, somos amigos...
E eu, poderia como tal, derramar
elogios ao profissional, mas não vou.
Zé Lira não precisa deles...
É maior que eles...
Tenho absoluta certeza disso.
Só não vou me furtar de dizer
umas poucas palavrinhas sobre o homem...
Lira é decente, é honrado, é
leal, é amigo...
Lira é humilde sem ser
submisso...
É bondoso sem ser piegas...
É comprometido com seu trabalho
sem ser chato...
É respeitoso sem rastejar...
É um homem que vale a pena conhecer.
Ah, Lira tem defeitos...
Muitos...
Creio eu...
Como também os tenho, não posso
cobrar pureza de ninguém.
Pois bem, encerro por aqui...
Estou feliz por poder escrever
sobre o cinquentenário de José Lira no rádio Potiguar e saber que ele vai
ler...
Estou feliz por poder ter
conhecido José Lira e por fim, estou feliz por ele ter me honrado com sua
amizade.
Parabéns mestre, parabéns
amigo...
Obs: deixe um espaço em sua agenda,
pois vou levá-lo a UFRN para sentar diante de 50 meninos e meninas e contar
para esses alunos da disciplina de Jornalismo Esportivo ministrada pelo
Professor Ruy Rocha, sua história e a história do rádio de Natal.
Parabéns Rádio Globo, pelo
respeito que sempre teve por seus profissionais.