Renato Vasconcelos de Carvalho é
estudante do 3º período do curso de jornalismo da UFRN, tem 18 anos e é um
jovem com características pouco comuns aos jovens de sua idade.
O conheci na disciplina de
jornalismo esportivo, ministrada pelo professor Ruy Rocha.
Atento, Renato não perde nenhum
detalhe...
Interrompe, questiona, opina,
provoca, instiga e obriga a quem está à sua frente a ter as respostas que ele
espera receber.
Ontem, me enviou o texto abaixo e
pediu que eu opinasse, desse sugestões e fizesse as correções que achasse
necessárias...
Minha resposta após ler, foi lhe pedir permissão para
publicar.
Creio que meu pedido tornar desnecessário dizer que não só
aprovei, como gostei de cada linha escrita por Renato.
Não fiz nenhuma alteração.
Compartilho com vocês.
A copa do mundo é
nossa! (É nossa?)
Por Renato Vasconcelos de Carvalho
Antes de
iniciar o rascunho deste texto, admito que não lembrava a data exata da escolha
do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014. A única coisa que lembrava
bem, era do momento em que anunciaram as cidades-sede. Ao ouvir o nome “Natal”,
somente uma coisa me passou pela cabeça: “Ih... a cobra vai fumar!”.
Não
tenho como me esquecer das promessas do ex-presidente Lula e do ex-presidente
da CBF, Ricardo Teixeira, prometendo “a copa mais democrática de todos os
tempos” e a “Construção de estádios sem o uso de dinheiro público”. Além dessas,
permearam também outros jargões como, “prioridade para reformas, menos
construções”. Creio que não preciso dizer que as promessas não se cumpriram e
que os jargões se transformaram em palavras vazias.
Entretanto, dentre
os jargões, mentiras e promessas, nenhuma foi tão utilizada como justificativa,
enaltecida, glorificada e quase beatificada, como o “divino” legado da copa! Em
qualquer debate, de mesa de boteco ou entre um jornalista mais ousado (ou
insolente), e qualquer deputado ou senador, durante uma coletiva, lá vinha o
santo preferido para justificar o megaevento. “O legado da copa será
exclusivamente para os brasileiros. Irá beneficiá-los integralmente e durará
anos, não só o período do evento. Você é contrário ao progresso? Isso é Brasil,
ame-o ou deixe-o!”.
Ah, posso até
ver na minha mente qualquer uma daquelas figuras grã-finas, com barbas dignas
de barões do café, pronunciando esse discurso, para justificar um evento que,
de “algum” modo, seria intere$$ante para o “país”. Após a entrevista, se
reuniriam de forma extraordinária para distribuir as capitanias hereditárias e
saber quem manda em que e quem fica com o que. Afinal, eles têm que tirar algum
benefício dessas terras selvagens. São muito sofisticados para sujar seus sapatos
italianos na lama desse país sem nenhuma premiação.
Esquecem eles
que o “legado da Copa”, deveria ser a prioridade do governo em qualquer
período. Porque só se pensar em sanar questões como mobilidade urbana, saúde
pública e segurança as vésperas de um evento como esses? O legado da Copa seria
então anos de trabalho atrasados que deveriam ser colocados em dia? Quer dizer
então que em quatro anos, problemas de décadas serão resolvidos para a Copa e
para os visitantes e não para o povo, pelos mesmos incompetentes de sempre?
Pobre povo da selva governado por homens-brancos...
Mas não, este
não é um texto de memórias, muito menos uma divagação qualquer. Não sou
contrário à Copa do Mundo, sou contrário a ela ser realizada aqui. A Copa do
Mundo é o maior evento esportivo do planeta. Nem as olimpíadas se comparam em
audiência e alcance. Ela dá a oportunidade de mostrarmos nossa cultura, nossos
pontos turísticos e nossa história, de forma a movimentar o setor do turismo e
fazer com que o interesse em se visitar nosso país aumente. Uma visibilidade
dessas é excelente para qualquer país do globo, mas o que temos para mostrar e
oferecer?
Será que algum
turista que visitar Natal, durante o período da Copa, se sentirá atraído a
voltar em outro momento? Será que ele vai gostar de uma cidade com opções de
entretenimento cultural limitadíssimas, péssimos serviços de transporte
público, segurança pública deplorável e que as ruas esbanjam miséria e
miseráveis? O que Natal tem para mostrar, durante o período de exposição da Copa
do Mundo, que atrairá turistas de todos os cantos do globo, gerando um retorno
financeiro que possa pagar, pelo menos, os empréstimos para a construção do
Arena das Dunas?
Não me
julguem, amo minha cidade. Conheço cada praia urbana, os pontos históricos, os
locais de entretenimento mais populares, mas não creio que estes estejam em
condições de servir de atrativo turístico no cenário internacional. Vivemos de
turismo de céu e mar. Durante o verão, quem vem, fica em um resort na via
costeira, vai um dia à Genipabu, um a Pipa, os mais curiosos conhecem a cidade
e vão embora. No inverno ninguém vem.
Quem consegue responder quantos museus temos
na cidade? Quais você conhece pelo nome? Quais são os investimentos municipais
e estaduais para conservação desses acervos e modernização ou manutenção das
instalações? Não há uma preocupação com a cultura nesta cidade, nunca houve. E
agora que chega o momento de mostra-la para o mundo, tentarão fazer um remendo
qualquer, uma maquiagem, que tente encantar e atrair alguém no Pós-Copa.
Não esquecendo
que o legado prometido para à Copa não vai sair. Das quinze obras de mobilidade
urbana previstas no projeto inicial, muito provavelmente não ficarão concluídas
duas. Nada de VLT (Veículo leve sobre trilhos), nada de metrô... Será que não
seria interessante pensar em organizar nossa cidade e nosso país primeiro,
promover uma “faxina-interna”, para poder pensar em divulga-lo ao mundo?
Sobre a Arena,
não há novidades. Lutará para ficar pronta antes da Copa e não terá viabilidade
financeira com o futebol. Mesmo tendo sido construída com verba pública, será
explorada por alguma empresa privada, assim como o Maracanã, que será explorado
pelo Sr. Eike Batista. Vejamos o que vai acontecer aqui, só espero que não vire
um parque de vaquejadas, para os vaqueiros será mais difícil de derrubar um boi
num elefante branco.
Por fim, na
minha humilde opinião, temos preocupações muito mais urgentes do que a Copa. Temos
que nos preocupar com o aumento preocupante e exponencial da criminalidade.
Temos que nos preocupar com uma geração de novos brasileiros que vem crescendo
sem uma educação decente. Temos que nos preocupar com o precário estado da
saúde no nosso estado. A Copa é um instrumento de publicidade e nada mais, mas
para quem tem o que mostrar. O que mostraremos?
A FIFA manda e
desmanda. Já proibiu até as baianas de venderem seus acarajés nos arredores do
estádio, área exclusiva para produtos licenciados dos patrocinadores. Foi a
FIFA, inclusive, que ordenou a construção das arenas moderníssimas e sem uso
futuro. Qual a serventia de um superestádio em Manaus, Brasília, Cuiabá e
Natal? Eu não sei, mas nossos lordes do planalto central assentiram com a
cabeça. Depois de tudo isso exposto, alguém pode dizer que A Copa do Mundo é
nossa?