Não conheço, mas já vi! #7
O PAOK e sua jornada de conquistas e perdas.
Por Dyego Lima/Universidade do Esporte
Se desmembrarmos a sigla, obteremos os seguintes termos:
Panthessaloníkios Athlitikós Ómilos Konstantinopolitón.
Traduzindo para o português, Clube Atlético Pan-Tessalônico de
Constantinopolitanos.
O PAOK é um clube oriundo da cidade grega de Tessalônica, segunda maior
do país e capital da região administrativa da Macedônia Central, localizada na
periferia da Grécia.
É um dos maiores clubes gregos, possuindo a terceira maior torcida.
O PAOK foi fundado no dia 20 de abril de 1926 por refugiados gregos que
fugiram de Constantinopla para Tessalônica durante a Guerra Greco-Turca, que
durou de 1919 até 1922.
Os conflitos se deram durante a separação do Império Otomano, ocorrida ao
fim da Primeira Guerra Mundial.
As batalhas foram travadas entre os revolucionários do Movimento Nacional
Turco, que posteriormente fundariam a República da Turquia, e a Grécia, a quem
os Aliados da Primeira Guerra tinham prometido o território que pertencia ao
Império Otomano.
Seu nome, juntamente com o emblema do clube, a águia de cabeça dupla,
honra a memória do povo e dos lugares, principalmente da cidade de
Constantinopla, que pertenceram ao Império Bizantino.
A casa do clube é o Toumba Stadium, nome vindo do distrito onde o estádio
está localizado.
Inaugurado em 1959, possui capacidade para cerca de 29 mil torcedores e
recebe o apelido de Inferno Negro.
Em grandes duelos, enquanto os atletas estão passando pelos túneis em
direção ao gramado, o sistema de som reproduz a música Hells Bells, da banda
australiana de rock AC/DC.
Assim como os rivais Olympiakos e Panathinaikos, o PAOK nunca foi
rebaixado da principal divisão da Grécia.
No entanto, é a única equipe do país com mais vitórias que derrotas em
competições europeias. Até hoje, são 69 vitórias, 55 empates e 66 derrotas.
O início
Quando surgiu, a equipe tinha a política de ser aberta para qualquer
cidadão de Tessalônica, fazendo com que surgisse logo uma rivalidade com o AEK
Thessaloniki, o outro clube oriundo de Constantinopla estabelecido na cidade, o
qual só permitia que refugiados fizessem parte do time.
No dia 04 de maio de 1926, o PAOK jogou sua primeira partida: vitória por
2 a 1 em amistoso contra o Megas Alexandros Thessaloniki.
Kostas Andreadis, primeiro técnico dos alvinegros, passou cinco anos no
cargo sem exigir pagamento.
Na temporada 1926–27, a equipe participou do 2° nível de um campeonato
local organizado pela Associação de Clubes de Futebol da Macedônia.
Apesar de finalizar o certame no topo, o PAOK foi forçado pelo Comitê
Organizador a derrotar todos os clubes da primeira divisão em sequência para
ter o direito de subir de nível.
Sem problema.
O clube venceu todos os quatro adversários: 4 a 1 contra o Thermaikos, 2
a 1 no Aris, 1 a 0 ante o Atlas Ippodromiou, finalizando com um 1 a 0 frente ao
Iraklis.
Em 1927/28, o time já estava na elite.
Em março de 1929, o rival AEK Thessaloniki acabou encerrando suas
atividades.
Assim, seus funcionários, bem como boa parte de suas instalações,
passaram a ser de propriedade do PAOK.
No lugar da antiga sede do AEK, hoje funciona a Faculdade de Teologia da Universidade
Aristotélica de Tessalônica.
Em 1937, o clube venceu seu primeiro título da Liga da Macedônia.
Sotiriadis, Kontopoulos, Kosmidis e Anastasiadis são alguns dos nomes que
fizeram parte daquela conquista.
Primeiras aparições em alto nível
O PAOK jogou sua primeira final da Copa da Grécia no dia 28 de março de
1939.
Acabaram sendo derrotados por 2 a 1 pelo AEK Atenas.
Foi o primeiro de muitos vice-campeonatos que o clube colecionaria neste
torneio ao longo da história.
Porém, na temporada seguinte, conquistaram o Campeonato do Norte da
Grécia.
Em 28 de outubro de 1940, estourou a Guerra Greco-Italiana, um dos
conflitos realizados durante a Segunda Guerra Mundial.
A Itália, com ajuda de tropas alemãs e búlgaras, invadiu e dominou Grécia
e Albânia.
Por esses eventos, todas as atividades esportivas foram interrompidas no
território grego.
Dois jogadores do PAOK foram recrutados pelo Exército Helênico e acabaram
morrendo no campo de batalha: o goleiro Nikolaos Sotiriadis, de 33 anos, e o
lateral-esquerdo Georgios Vatikis, de 22.
Spyridon Kontoulis, do AEK Atenas, e Mimis Pierrakos, do Panathinaikos,
foram os outros dois futebolistas gregos que morreram no confronto.
Com o fim da Segunda Guerra, o futebol voltou à ativa.
Entretanto, com um país muito polarizado, iniciou-se a Guerra Civil
Grega, que durou de 1946 até 1949.
O conflito se deu entre as forças armadas do governo monárquico grego,
apoiadas pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos, contra o Partido Comunista da
Grécia, aliado de algumas frentes armadas do país, além de Bulgária, Iugoslávia
e Albânia.
Em 48, o PAOK ganhou seu segundo título do Campeonato da Macedônia.
Os jogadores dedicaram a conquista ao seu ex-capitão Thrasyvoulos
Panidis, morto durante a batalha alguns dias antes da partida final.
A alternância entre vitórias e derrotas
Em 1950, o clube conquistou a Liga outra vez.
Na temporada seguinte, foi vice da Copa da Grécia novamente, perdendo por
4 a 0 para o Olympiakos.
De 1954 até 1957, a equipe venceu o Nacional quatro vezes consecutivas,
sendo as três primeiras de forma invicta.
A derradeira marcou o último troféu dos alvinegros no Campeonato da
Macedônia, uma vez que em 59, a Alpha Ethniki, a Liga Nacional Grega, foi
estabelecida no país.
Em 55, a terceira derrota na final da Copa: 2 a 0 frente ao
Panathinaikos.
Nos primeiros dez anos de existência da Liga, as campanhas do PAOK foram
apenas medianas.
Os melhores resultados vieram em 1963 e 67, com o quarto lugar.
No entanto, a década de 70 foi, possivelmente, o melhor período na história
do clube.
Sob o comando do presidente Giorgos Pantelakis, a equipe venceu o
Nacional de 1976, as Copas de 72 e 74, batendo Panathinaikos, então
vice-campeão europeu, e Olympiakos nas finais, respectivamente.
Além dos dois títulos, o time foi vice da Copa da Grécia em 70, 71, 73,
77 e 78.
Na temporada de 1973–74, o PAOK fez sua melhor participação em uma
competição europeia.
Foi na Cup Winner's Cup, onde o clube acabou eliminado nas quartas de
final.
Depois de passar por Légia Varsóvia, da Polônia, e Lyon, a
desclassificação veio ante ao Milan, campeão europeu há algumas temporadas.
No dia 31 de maio de 1981, outro choque.
Gyula Lóránt, técnico do time, sofreu um ataque cardíaco aos 16 minutos
de uma partida contra o Olympiakos.
Os médicos tentaram reanimá-lo no local, mas ele acabou morrendo a
caminho da ambulância.
No intervalo da partida, os jogadores foram informados apenas que ele
teve de ser levado ao hospital.
A notícia da morte só veio ao final do jogo.
O PAOK venceu por 1 a 0 com gol do reserva Vassilis Vasilakos, que estava
sentado ao lado de Lóránt quando ele sofreu o infarto.
Os jogadores quiseram dedicar o título da Copa da Grécia em sua memória,
mas acabaram derrotados pelo mesmo Olympiakos na final por 3 a 1.
Em 83, a equipe disputou novamente a decisão do torneio.
O duelo aconteceu no novíssimo Estádio Olímpico de Atenas.
Porém, o resultado não foi novidade: derrota por 2 a 0 para o AEK.
O segundo título nacional veio na temporada 1984/85, sob comando do
técnico austríaco Walter Skocik, e com uma dupla de ataque formada por Giorgos
Kostikos e Christos Dimopoulos.
A taça veio com três pontos de vantagem para o vice Panathinaikos.
Mais tarde naquela mesma época, mais uma derrota na final da Copa: 4 a 1
para o Larissa.
Foi o 11° dos treze vice-campeonatos do PAOK na competição até hoje.
Episódios marcantes
Na temporada de 1987–88, o clube encerrou a Liga na 3° colocação,
conquistando uma vaga para a Copa Uefa seguinte.
O PAOK enfrentou o Napoli de Maradona, Careca e Alemão, e apesar de dois
duros confrontos, acabaram sendo vencidos no placar agregado por 2 a 1.
Em entrevista para a RAI TV, emissora italiana, o camisa 10 argentino
contou como foi encarar a atmosfera do Toumba Stadium, com os torcedores
alvinegros atirando objetos no gramado constantemente: "Joguei muitos
jogos, mas nunca vi nada assim. Não conseguimos encontrar ritmo. Foi uma
partida estranha".
Na época 1990/91, um episódio curioso aconteceu.
No minuto 77 de um clássico contra o Panathinaikos, com o PAOK perdendo
por 3 a 0, Thomas Voulinos, presidente do clube à época, furioso com a atuação
da arbitragem, invadiu o campo e ordenou que seus jogadores se retirassem.
Em entrevista pós-jogo, ele declarou:
"Nós nos sentimos como ovelhas que estavam sendo massacradas e isso
era inaceitável".
Após julgamento, a equipe foi condenada com uma dedução de três pontos e
cinco jogos como mandante com os portões fechados.
Mais tarde naquela mesma temporada, os times voltaram a se encontrar,
dessa vez pela semifinal da Copa da Grécia.
E pasmem: aos 57 minutos da partida de volta, Voulinos tornou a invadir o
campo em protesto contra as decisões da arbitragem.
O Panathinaikos acabou vencendo por 2 a 1.
Entretanto, esses dois episódios não foram casos isolados na vida do
PAOK.
Em 2018, os alvinegros e o AEK lutavam ponto a ponto pelo título
nacional, e acabaram se enfrentando no Toumba Stadium.
Já nos acréscimos, com a partida empatada em 0 a 0, Ivan Savvidis, então
presidente do PAOK, invadiu o campo com um revólver na cintura e ordenou que
seus atletas deixassem o gramado.
Ele protestava por um gol de sua equipe ocorrido minutos antes que o juiz
chegou a validar, mas depois acabou anulando.
Depois de muita confusão, e alegando falta de segurança, a arbitragem foi
para os vestiários antes do fim e suspendeu a partida.
Por conta desse incidente, o campeonato ficou paralisado por três
semanas.
Savvidis acabou preso dias mais tarde, punido com uma multa de 100 mil
euros e proibido de frequentar estádios por três anos.
O clube teve de pagar uma multa de 63 mil euros.
Voltando um pouco no tempo, no dia 01 de outubro de 1992, a partida entre
PAOK e PSG, válida pela Copa Uefa, teve de ser abandonada devido a conflitos
nas arquibancadas.
O clube alvinegro acabou sendo punido pelo comitê disciplinar da Uefa com
a proibição de participar de competições europeias por um ano.
Avançando, a temporada 95/96 foi a pior na história da equipe.
Acabaram se salvando do rebaixamento nas últimas rodadas, encerrando o
campeonato na 14° colocação.
O período de luto
Em 96, Thomas Voulinos deixou o clube, que passou a ser presidido por
Giorgios Batatoudis.
Já em maio de 97, após cinco anos de ausência, o PAOK voltou a figurar
nas competições europeias ao se classificar para a Copa Uefa.
E foi uma campanha, de certa forma, surpreendente.
Após eliminar o Spartak Trnava, da Eslováquia, veio uma classificação
ante ao Arsenal, que naquela temporada venceria a Premier League e a FA Cup.
O adeus foi na rodada seguinte, em duelo maluco contra o Atlético de
Madrid: 5 a 2 na ida, 4 a 4 na volta.
Na noite de 09 de fevereiro de 1998, a dor da perda voltou a atormentar o
PAOK: Panagiotis Katsouris, meia do clube de apenas 21 anos, morreu enquanto
voltava de um torneio amistoso.
Ele perdeu o controle de seu carro e chocou-se contra uma barreira na
estrada.
Em homenagem, um busto seu foi levantado no Toumba Stadium.
Mais tarde, na madrugada do dia 04 de outubro de 99, outra tragédia.
Após empate por 1 a 1 contra o Panathinaikos, um ônibus que trazia os
torcedores alvinegros de volta à Tessalônica colidiu com um caminhão e seis
pessoas morreram: Kyriakos Lazaridis, Christina Tziova, Anastasios Themelis,
Charalampos Zapounidis, Georgios Ganatsios e Dimitris Andreadakis.
Desde então, uma cerimônia é feita anualmente em forma de homenagem.
Pouco tempo depois, os triunfos voltaram.
O clube venceu a Copa da Grécia em 2001 após bater o Olympiakos por 4 a
2, e em 2003, vencendo o Aris pelo placar de 1 a 0.
O técnico Angelos Anastasiadis se tornou o primeiro na história do PAOK a
conquistar a competição como jogador (1974) e treinador.
Novas polêmicas e reconstrução
No fim de maio de 2006, a situação do clube começou a ficar complicada,
com os jogadores declarando abertamente que não recebiam há meses.
A Uefa proibiu a equipe de participar daquela edição da Copa Uefa.
Grupos de torcedores organizados declararam guerra contra o presidente Giannis
Goumenos, chegando até a ocuparem os escritórios no Toumba Stadium por alguns
dias.
A situação piorava à medida que as negociações com possíveis investidores
falhavam.
Surgiram alegações de fraudes por parte do presidente, que ficaram mais
fortes quando Salpingidis, craque do time, foi vendido ao Panathinaikos.
Em novembro daquele ano, Goumenos renunciou à presidência, deixando o
clube com dívidas enormes.
Nikos Vezyrtzis e Apostolos Oikonomidis assumiram a administração de
forma temporária.
Em junho de 2007, Theodoros Zagorakis, capitão da Grécia campeã europeia
de 2004 e ídolo do clube, assumiu como presidente.
As finanças melhoravam aos poucos com a ajuda de novos patrocinadores e
dos torcedores.
Sob o comando de Fernando Santos, e contando com o brilho de Vieirinha em
campo, o PAOK encerrou a temporada 2008/09 no 4° lugar.
A equipe conseguiu uma vaga na fase classificatória da Champions League
de 2010/11, mas acabou perdendo o técnico Fernando Santos, que decidiu não
renovar seu contrato.
Ele foi substituído por Mario Beretta, que logo daria lugar a Pavlos
Dermitzakis.
Esse seria o treinador com menos tempo de comando na história do clube,
passando apenas 38 dias.
Com esse ambiente conturbado, o resultado não poderia ser outro:
eliminado pelo Ajax na competição europeia.
A volta por cima
Em agosto de 2012, Ivan Savvidis se tornou sócio majoritário do clube
pela bagatela de cerca de 10 milhões de euros.
Já em 2014, sob o comando interino de Georgios Georgiadis, o PAOK
alcançou a final da Copa da Grécia, mas bateu na trave novamente: 4 a 1 para o
Panathinaikos.
O clube acabaria vencendo a competição consecutivamente nas temporadas de
2016–17, 17–18 e 18–19, ao bater o AEK Atenas por 2 a 1, 2 a 0 e 1 a 0,
respectivamente.
A época 2018–19 foi a melhor na história recente do time.
Além da Copa, a Liga foi vencida com autoridade, de maneira invicta.
O PAOK ganhou 26 jogos e empatou quatro, um recorde no futebol
grego.
Foi a primeira vez na história que o clube conquistou os dois troféus na
mesma temporada.
Foi também a primeira vez que uma equipe conseguiu vencer as duas
competições sem derrotas, tendo o Campeonato Nacional com o formato de turno e
returno.