Imagem: Getty Images
“É humilhante que tenhamos de nos
trocar em banheiros públicos”
Seleção irlandesa feminina se
rebela contra a federação pela precária situação de trabalho: “Pagamos para
jogar por nosso país”
Por Antonio Nieto para o El País
O futebol feminino volta a se
rebelar contra as estruturas tradicionais.
Desta vez, quem ergueu a voz foram
as 14 jogadoras da seleção da República da Irlanda, em protesto pelas precárias
condições de trabalho.
Denunciam, entre outras coisas, a ausência de uma
compensação financeira para cada partida.
E também que em várias ocasiões se
viram obrigadas a se trocar nos banheiros dos aeroportos nas viagens com a
seleção: não possuem agasalho próprio e têm que dividi-lo com jogadoras de
categorias inferiores.
Para esta reclamação as jogadoras, que ameaçam fazer
greve, contaram com o respaldo do sindicato de jogadores da Irlanda (PFAI), mas
a federação não o reconhece como seu interlocutor.
"É humilhante você ter de ir
a um banheiro público para se trocar. Não custa muito dar à equipe um agasalho
para viagem. Na verdade, me dá até vergonha falar disso”, afirmou na
terça-feira em uma coletiva de imprensa a capitã Emma Byrne, jogadora do
Arsenal Ladies, que tem 127 jogos pela seleção da Irlanda.
“Basicamente,
estamos pagando para jogar por nosso país”, lamenta Aine O’Gorman, de 27 anos,
em declarações publicadas no site do FIFPro, o sindicato mundial de jogadores.
Além de jogadora, O’Gorman trabalha em período integral como treinadora
pessoal.
“Temos que pedir dias livres de trabalho para a seleção, mas não
recebemos nada em troca. Em 2016, estive fora mais de 40 dias com a seleção
nacional”, acrescenta.
As jogadoras avaliam se reforçam
o protesto com um boicote.
Em 10 de abril o calendário prevê um amistoso contra
a Eslováquia, em Dublin, e elas ameaçam não entrar em campo.
Entre as
reclamações, exigem ser representadas pelo PFAI.
Durante 18 meses, segundo
explica o FIFpro, o sindicato tem admitido mulheres.
A federação irlandesa respondeu
com um comunicado lamentando o ultimato das jogadoras da seleção e afirma que
elas rejeitaram cinco convites para se sentarem e negociar.
“A federação
concordou em participar de um processo de mediação; no entanto, as jogadoras
decidiram de todas as formas dar o passo seguinte com uma entrevista à imprensa
da PFAI, em vez de um encontro com um mediador de consenso”, diz a nota.
A
Associação de Futebol da Irlanda (FAI) está disposta a discutir temas como a
oferta financeira, um treinador de goleiras e condições de viagem.
A rebelião da Irlanda se soma a
outras batalhas que o futebol feminino vem travando nos últimos anos.
A última
acabou na terça-feira, com o acordo ente a seleção dos Estados Unidos, atual
campeã do mundo, e sua federação, depois de uma longa negociação.
As jogadoras
denunciavam fazia bastante tempo a desigualdade ente os salários da seleção
masculina e a feminina.
Os detalhes do acordo não foram revelados, mas, segundo
assinala The Guardian, algumas poderiam dobrar seus rendimentos, e por isso
festejaram a conquista.
No histórico de protestos se
sobressai também o que protagonizou em 2014 um grupo de 61 jogadoras de
seleções, no qual estava também Veronica Boquete, a capitã da Espanha.
As
jogadoras se insurgiram contra a decisão da FIFA de realizar o Mundial do
Canadá de 2015 em gramado artificial, como acabou acontecendo.
Depois desse
torneio, o motim irrompeu dentro da própria seleção espanhola.
As jogadoras
escreveram uma carta aberta denunciando os métodos arcaicos do treinador Ignacio
Quereda, que estava no cargo havia 27 anos, e pediram sua demissão.
O protesto
acabou com a destituição do treinador e a chegada de Jorge Vilda, que
revitalizou uma equipe que aspira conquistar a Eurocopa deste ano.
Vale
ressaltar que, apesar das mudanças, há outras lutas a se travar para as atletas
espanholas, como contra as cláusulas contratuais antigravidez.
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