Imagem: Buda Mendes/Getty Images
Drible no FBI, cartão VIP e propina: a relação de Teixeira e
ex-Barcelona
Por Rodrigo Mattos
A investigação do Ministério
Público da Espanha revela um gigantesco esquema de desvio de dinheiro de jogos
da seleção pelo ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o ex-presidente do
Barcelona Sandro Rosell.
Pelos documentos, o brasileiro
ficou com 8,4 milhões de euros (R$ 31 milhões) em propinas pelos amistosos de
2006 a 2012.
A relação entre os dois envolvia
ainda um cartão de crédito VIP para Teixeira e esquemas para driblar o FBI e
viajar para o exterior, depois que o cartola brasileiro foi indiciado.
Nos documentos da Justiça
Espanhola, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, é citado por receber
subornos relacionados ao contrato da Copa do Brasil.
São pagamentos feitos
supostamente pela Klefer.
Esse caso já é conhecido e alvo
de processo nos EUA onde Del Nero foi indiciado.
A citação ocorre no processo
espanhol porque há colaboração entre os dois países.
O caso central da investigação na
Espanha é por lavagem de dinheiro feita por Rosell, com participação de Teixeira.
O documento do MP da Espanha
classifica como ''organização criminosa'' o grupo formado pelos dois cartolas,
além de um advogado e outras duas pessoas.
Tudo estava relacionado aos
contratos da CBF com a ISE (International Sports Events) com sede em paraíso
fiscal, cujo grupo empresarial tem origem na Arábia Saudita.
O primeiro compromisso foi
assinado em 2006 pela cessão de todos os amistosos da seleção, que foi renovado
duas vezes e vale agora até 2022.
Em paralelo, empresas ligadas a
Teixeira e Rosell assinaram acordos com a ISE para pagamentos por fora que os
beneficiavam.
Assim, Teixeira teria recebido R$
28 milhões, e outros R$ 21,7 milhões teriam sido dados para Rosell.
O dinheiro para o dirigente
catalão era pago para a empresa Uptrend, em Nova Jersey, como já mostrara o
site espanhol ''El Confidencial''.
Daí o dinheiro passava por
empresas panamenhas chamadas Regata e Itasca até chegar a Andorra ou a Florida,
sempre controlado pelo advogado Joan Belosí.
''Inclusive pudemos conhecer que, Teixeira e sua mulher então chegaram
a ter inclusive cartões Visa Platinum sobre contras alimentadas pela Uptrend'',
contou a investigação espanhola.
O documento ainda afirma que todo
o dinheiro foi desviado em prejuízo da Confederação Brasileira de Futebol
(CBF).
Ao justificar a prisão de Rosell,
a Justiça ainda afirma que houve um grampo sobre conversa dele com Teixeira em
que se demonstra que conseguiam burlar extradições ao FBI em determinados
países.
''Igualmente, atrás de conversas telefônicas (conversação às 22h
16/4/2017) pode se constatar a facilidade de Rosell para obter favores em
países fora da União Europeia e EUA, que permitirá a entrada deles de pessoas
que ele tivesse interesse, como é o caso de Teixeira, o que garantia que não
possa ser detidos e entregues no caso de pedido de extradição'', contou o
documento da Justiça da Espanha.
O blog tentou contato com o
advogado de Ricardo Teixeira sobre o caso, mas ainda não obteve resposta.
Del Nero
O atual presidente da CBF é
citado em parte do processo por conta de pagamentos indiretos feitos pela
Klefer, de propriedade de Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo, para a
Itasca, empresa do esquema de Rosell.
No documento, é afirmado que os
pagamentos seriam relacionados a comissões pelos contratos da Copa do Brasil,
assinado com a Klefer em 2011, que teriam como destinatários Teixeira, Del Nero
e José Maria Marin (ex-presidente da CBF).
Em setembro de 2011, a Itasca
recebeu US$ 1 milhão da empresa Exterpise, que, por sua vez, recebeu o dinheiro
da Klefer, em abril daquele ano.
Esse caso já é investigado nos
EUA e levou ao indiciamento de Del Nero por lavagem de dinheiro. Há uma
colaboração entre as duas Justiças.
''Kleber havia firmado um contrato no ano de 2011 com a CBF, pelo que
estes pagamentos estariam relacionados ao pagamento de presumíveis comissões
ilegais para a obtenção de direitos de difusão e marketing da Copa do Brasil
2013, para que estes direitos fossem a outras sociedades. Essas comissões iriam
para Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero'', afirma o documento
da Justiça Espanhola.
Em 2011, Del Nero e Marin ainda
não estavam na CBF.
A assessoria da CBF afirmou em
resposta:
''O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, repudia com veemência as
acusações apresentadas na reportagem. As ilações, que fariam parte de
investigação da justiça espanhola à qual a CBF não teve acesso, são falsas e
não têm qualquer fundamento. Nem mesmo o texto, atribuído à Procuradoria
Espanhola, acusa o presidente da CBF de qualquer prática irregular.''
Colaborou Pedro Ivo de Almeida
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