A queda do todo poderoso...
Por Oscar Cowley, repórter do Universidade do Esporte - 88,9 FM Universitária - Natal/RN
É evidente que o Barcelona não
teve a temporada dos sonhos, o time vive um contraste daquilo que estávamos
acostumados a ver no campo em temporadas passadas e isso, definitivamente,
influenciou nos resultados.
Enquanto isso, o Real Madrid
passa por um dos melhores momentos da sua história, podendo conquistar o
terceiro título de Champions League em apenas quatro anos e ameaçando a
supremacia dos catalães (com quatro conquistas) como o time mais vitorioso
deste século na competição mais importante de clubes.
Na Espanha, quando um time passa
por uma grave crise após um longo tempo de sucesso sempre se fala em “fim de
ciclo”.
É uma forma dramática de apontar
que algo que passamos a admirar durante anos chegou ao fim (o mesmo aconteceu
com a seleção espanhola depois do fracasso no Brasil).
Porém, o questionamento que fica
é: o que leva um dos melhores times já vistos na história do futebol a cair tão
rápido?
E ainda por cima, permitir que
seu maior rival chegue perto de equivaler tamanho êxito alcançado durante este
século?
Bom, para responder essa pergunta
é importante notar que nos últimos anos, mais especificamente desde 2014, houve
uma inversão de papeis entre os dois maiores clubes da Espanha.
O Real Madrid, conhecido por suas
contratações absurdamente custosas, passou a investir em jogadores da casa.
Por outro lado, o Barcelona, que
sempre se sustentou nas joias de “La Masia”, começou a gastar milhões em
reforços que não corresponderam.
Claro que Luis Suarez e Neymar
são uma exceção, contudo, a presença deles junto a Messi evidenciam ainda mais
a decepcionante temporada de um time com três dos melhores jogadores do mundo.
Durante anos, o time de
Florentino Perez foi criticado pelas inúmeras contratações desproporcionais que
acabavam não justificando em campo tamanho investimento.
As comparações com os catalães,
por sua vez, eram odiosas.
Jogadores como Messi, Xavi,
Iniesta, Pique, Puyol, formados em “La Masia”, mostravam uma e outra vez que no
futebol dinheiro não é tudo e que o investimento em jogadores locais é o
verdadeiro segredo para o sucesso.
Porém, de alguns anos para cá,
talvez pela sanção imposta pela FIFA ao Barcelona em vista das contratações
ilegais de menores de idade, não vem aparecendo reforços de alto nível vindos
da base e consequentemente os títulos diminuíram.
Nesta temporada o Barcelona
gastou 122,5 milhões de euros (R$ 447 milhões, na cotação deste final de
semana) em seis reforços: André Gomes (35), Paco Alcácer (30), Umtiti (25),
Digne (16), Cilessen (13) e Denis Suarez (3,5).
Destes, apenas Umtiti realizou
uma boa temporada, tendo sido titular em grande parte das partidas na zaga.
Os demais, com destaque para
André Gomes e Paco Alcácer (os mais caros), foram um grande fracasso.
Nem os mais de 100 gols do trio
MSN conseguiram encobrir tantas deficiências no time, principalmente na defesa,
onde as consecutivas goleadas sofridas em Champions League evidenciaram existir
um grande problema.
A tudo isto se soma um ponto
essencial na formação do Barcelona dos anos mais vitoriosos, a base.
Há algum tempo que o clube não
produz jogadores do porte de Busquets, Pique ou Fabregas.
E os que permanecem na ativa,
como Iniesta, começam a alcançar uma idade em que o rendimento não é o mesmo.
Neste ano, apenas o meio-campista
Carlos Aleña, de 19 anos, fez algumas aparições em jogos discretos.
O brasileiro Marlon, elogiado
pelas suas contribuições no final da temporada parece estar começando a ganhar
destaque, porém não é cria de “La Masia” e sim de Xerém, comprado pelos
catalães.
Já o Real, que nunca soube
aproveitar os jogadores da “Fábrica” começou a repatriar alguns jogadores
formados em casa a preços muito mais acessíveis.
Apenas nos últimos anos podemos
destacar Carvajal, Lucas Vázquez, Kiko Casilla, Casemiro (que apesar de não ser
de Madri jogou no time B) e Morata.
Ainda, passaram a investir em
contratações de jogadores jovens, apostando em seu desenvolvimento dentro do
time, no lugar de contratá-los já formados (e muito mais caros) como Isco,
Asensio, Varane, Vallejo (emprestado no Eintracht Frankfurt) e Marco Llorente
(emprestado no Alavés).
É justo dizer, dessa forma, que o
Barcelona deixou de ser o melhor time do mundo no momento que os jogadores da
base pararam de reforçar o time principal.
Os poucos que surgiram nos
últimos anos, como o atacante Sandro (uma das revelações da temporada no
Málaga, com 14 gols), Thiago Alcantara (possivelmente um dos jogadores mais
destacados no Bayern esta temporada), Rafinha (com 7 gols em apenas 1570
minutos disputados) e Denis Suárez (grandes temporadas tanto no Sevilla quanto
no Villarreal), foram vendidos ou simplesmente não tiveram oportunidades no
time titular.
Curiosamente, o cenário é o mesmo
que vimos no Real alguns anos atrás quando os jogadores da “Fábrica” perdiam o
lugar para os famosos “Galácticos” (que, por sinal, nunca venceram uma
Champions League).
E a lista não é pequena,
jogadores como Felipe Luís, Juanfran, Soldado, Negredo, Eto’o, Parejo, Mata,
Callejón e Diego Lopez, passaram pelas bases do Real Madrid antes de
conseguirem destacar em outros times.
Seja como for, o Barcelona
precisa fazer mudanças em seu time para a próxima temporada.
Os merengues parecem estar
voltando a seus tempos de glória e ao mesmo tempo ofuscando a era mais
vitoriosa dos catalães, que cada vez mais parecem estar deixando de lado aquele
que sempre foi seu maior orgulho, conhecido como o lar onde nascem os maiores
craques do mundo, “La Masia”.
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