ABC e Paraná: estava tudo certo, mas
deu errado e aí, pensei estou livre.... que nada, fui convocada, vou ao
Frasqueirão.
Por Lígia Carvalho – repórter do
TVU Esporte da TV Universitária
Segunda-feira, 08 de maio
Foi nesse dia que me ofereci pra
cobrir o jogo do ABC na primeira rodada da série B 2017.
Não sei exatamente porque, mas
gosto do clima do Frasqueirão.
Lá tem aquele cheiro de futebol
raiz, torcida sentada na arquibancada de cimento, que só quem frequenta estádio
sabe.
Passei a semana pesquisando e
tentando achar algo diferente pra mostrar na matéria que eu ia fazer, afinal,
voltar pra série B é uma grande conquista quando avaliamos os tamanhos dos times
que temos por aqui.
Sexta, 12 de maio.
Vejo várias mensagens no grupo da
tv no WhatsApp.
– “Não vai ter cinegrafista não”.
Não acredito que desperdicei
tanto tempo pensando no que ia fazer pra nada.
Mas tem nada não, tenho um
aniversário pra ir às 18h30, que eu ia me atrasar, tem UFC, dou um cochilinho à
tarde e vou cumprir meus compromissos.
Sábado, 13 de maio, 11h.
-“Lígia, vai lá e faz uns vídeos
pro nosso Facebook”, recebi de mensagem da produtora.
Lá vamos nós...
Chego no frasqueirão com meus
colegas da tv e da rádio e encontro aquele clima já conhecido.
Torcedores sentados comendo
churrasquinho e tomando cerveja, polícia dando baculejo nas organizadas,
olhares que pensam “o que essas meninas tão fazendo aqui, sem ser com a camisa
do ABC? ”
Sem cinegrafista, entramos e
vamos acompanhar o jogo das cadeiras.
Ótimo.
Calor da torcida.
Só que não muito.
Nas cadeiras o clima é
diferente...
Senhores, senhoras, não tem
aquela animação e banhos de cerveja da arquibancada.
Ficamos ali, conversando algumas
besteiras, analisando os jogadores no aquecimento e rindo de Binho, o meu
colega da rádio, enquanto esperamos o jogo começar e comemos os salgadinhos do
Frasqueirão.
Rola a bola.
Apoio meu pé na cadeira da frente
e levo um susto com minha perna caindo.
Cochilei.
“Porra, que jogo modorrento” escuto Ana Clara comentar.
Eu que o diga, penso.
Olho no relógio, quinze minutos
de partida.
A bola não sai do meio de campo,
nenhum lance de emoção.
Fico ali, entre as pescadas do
sono, e os comentários engraçados de Binho e Ana Clara nos meus momentos de
lucidez.
Por vezes acordo assustada com
gritos...
–“Gegê seu bosta!”, deferidos ao camisa 10 do alvinegro.
Ele não parece muito querido por
aqui.
Acabou.
Mas ainda falta o segundo tempo.
Dou aquela despertada e falamos
como o jogo está uma merda.
Começo a apostar no zero a zero e
todos torcem pra que eu esteja errada.
Os times voltam a campo e logo
que a rola bola o juiz para tudo.
Que merda é essa?
Escuto na rádio que um torcedor
se acidentou e a ambulância precisou leva-lo ao hospital.
Sem ambulância, sem jogo.
Esperamos.
-“Quanto tempo vai demorar? ”
Olho no relógio e que merda, tá
chegando a hora do aniversário que tenho que ir.
-“Vamos invadir esse campo e fazer todo mundo ir embora! ”
-“Marcos Neves tá na arquibancada, vamos brincar de procurar ele”
-“Olha lá Marcos!!! Com a famigerada camisa do Queen. ”
Acenamos e recebemos um aceno de
volta.
O jogo recomeça vinte minutos
depois.
Puta que pariu, o aniversário.
–“Gegê seu merda! ”.
O ABC tenta e a cada segundo que
passa tenho mais certeza do empate sem gols.
–“Gegê seu bosta! ”.
Geninho troca peças em campo e
escuto um comentário na rádio:
“Geninho colocando todas as carnes na churrasqueira”.
Anoto pensando em usar pro resto
da vida.
–“Vai pro América seu filho da puta”.
Merda, a aniversariante já
chegou, vou perder o bolo e os salgadinhos.
Esse jogo que não acaba...
O juiz dá quatro minutos de acréscimo.
Eu só queria sair dali e ir para
a festinha.
Acabou.
Vaias na torcida.
–“Esse Gegê é muito ruim. ”
–“Que saudade de Lucio Flavio”.
–“Falar que esse cara é o diamante negro da frasqueira? Quero o Jones
Carioca de volta”.
Escuto atenta os comentários da
torcida, afinal, eles com certeza entendem mais de ABC do que eu.
É.… tem que mudar.
O próximo é contra o
internacional, fora de casa, que já ganhou de três no primeiro jogo.
Chego no aniversário.
Me esperaram pra cantar parabéns
e partir o bolo.
Essa foi a maior felicidade do
sábado de futebol.
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