Imagem: TV ARD
TV alemã acusa futebol brasileiro de utilizar rede clandestina de
doping para ganhar
Reportagem foi produzida pelo jornalista que escancarou o caso doping
dos atletas russos
Enrique Müller de Berlim para o El País
A equipe de jornalistas do canal
de televisão WDR de Colônia (Alemanha) especializada em doping no esporte
revelou, na tarde deste sábado, uma nova e desconhecida faceta na longa e
bem-sucedida história do futebol profissional do Brasil – o único país que
ganhou cinco campeonatos mundiais, o último deles em 2002.
Segundo o grupo liderado pelo
famoso jornalista Hajo Seppelt, o lateral Roberto Carlos, um dos jogadores da
Seleção Brasileira que venceu a Copa de 2002, disputada no Japão e na Coreia do
Sul, teria recebido, durante anos, substâncias proibidas para fortalecer suas
pernas.
Em reportagem emitida nesta tarde
pela rede de TV ARD, sob o título "Dossiê Secreto Doping: O Jogo Sujo do
Brasil", os repórteres afirmam que Roberto Carlos, então
considerado o melhor lateral esquerdo do mundo e que disputou 11 temporadas no
Real Madri, foi paciente de Júlio César Alves, um conhecido médico
especializado em fornecer substâncias proibidas a atletas brasileiros.
O nome do famoso jogador, que era
membro da Seleção vencedora do mundial de 2002, aparece num relatório de 200
páginas elaborado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) e
que foi entregue ao Ministério Público de São Paulo em 2015.
Segundo o informe, Roberto Carlos
foi paciente de Alves durante anos para reforçar a musculatura da coxa.
Numa filmagem realizada com
câmera escondida pelos jornalistas, Alves confessa, sem pudor, que tratou de
Roberto Carlos desde que o jogador tinha 15 anos.
O médico também admite que
continua praticando doping em esportistas de alto nível, incluindo um grande
número de jogadores de futebol profissional.
Para demonstrar a cumplicidade do
médico no mundo do doping, a redação enviou "iscas" para comprar
drogas proibidas pela Agência Mundial Antidoping.
Os jornalistas quiseram conhecer
a reação de Roberto Carlos ante as suspeitas que o envolvem com a dopagem, mas
o agente do jogador negou-se a responder às perguntas – mesma reação da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), que não quis responder se os jogadores da Seleção
eram pacientes do médico.
A negativa da CBF aumentou as
suspeitas sobre a possibilidade de que outros atletas da Seleção Brasileira que
venceu o Mundial de 2002, além d os atuais membros da equipe, possam ter
recebido anabolizantes para melhorar seu rendimento em campo.
A reportagem informa que vários
jogadores famosos, como Romário, Michel Bastos e Wellington Nem foram suspensos
por resultados positivos no controle antidoping.
Também sugere que houve
irregularidades e omissões no combate contra as substâncias proibidas durante a
realização da Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, mostrando o Brasil como um
país onde existe total impunidade nessa área – uma realidade amparada inclusive
pelas autoridades oficiais.
Seppelt, talvez o jornalista mais
bem informado sobre doping na Europa, já havia alcançado sucesso internacional
ao revelar, em dezembro de 2014, que o esporte russo só ganhava medalhas graças
a um programa apoiado e financiado pelas autoridades, que submetia os atletas a
um rigoroso programa de dopagem.
A matéria acabou com a carreira
de vários funcionários, treinadores e esportistas.
Não é a primeira vez que um meio
de comunicação revela os segredos de um escândalo que já sacudiu inclusive o
esporte alemão.
Em agosto de 2013, o jornal
Süddeutsche Zeitung publicou um resumo de um devastador relatório escrito por
especialistas da Universidade Humboldt de Berlim.
O documento revelava que as
autoridades promoveram, financiaram e ocultaram o doping em massa entre seus
esportistas, incluindo jogadores de futebol profissional, uma medida ilegal
destinada a ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos e Copas do Mundo.
O relatório destacava, por
exemplo, o papel do Instituto Federal de Ciências Esportivas (BISp), que
funciona no âmbito do Ministério do Interior da Alemanha, e a obsessão de
alguns médicos e treinadores sobre os milagres da droga Actovegin, elaborado a
partir do sangue de bovinos.
Os médicos que trabalharam sob as
ordens do BISp também realizaram "ensaios" com adolescentes de 14 a
16 anos para determinar se as substâncias anabolizantes podiam influir em seu
desenvolvimento.
O informe também citava uma carta
de um funcionário da FIFA, datada de 1966 e dirigida ao presidente da Federação
de Futebol Alemã (DFB) da época, informando que, na amostra de três jogadores
da equipe germânica que participou do Mundial da Inglaterra naquele ano, haviam
sido encontrados "resíduos do
estimulante efedrina".
Poucos dias depois da difusão do
relatório, o famoso Franz Beckenbauer admitiu, ante as câmeras do canal de TV
alemão ZDF, que os jogadores haviam tomado "injeções
de vitamina", mas negou que os atletas da seleção tivessem recebido
coquetéis com efedrina.
Os especialistas da Universidade
Humboldt também revelaram que a seleção alemã que venceu o Mundial de 1954, na
Suíça, haviam revivido o chamado "chocolate dos pilotos de guerra" –
um composto que continha anabolizantes e cujo efeito tinha sido demonstrado
durante a Segunda Guerra Mundial, quando se comprovou que o uso de
metanfetaminas aumentava a coragem e o rendimento dos pilotos de guerra da
Luftwaffe de Hitler.
Abaixo o link da matéria completa,
em inglês.
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