Imagem: Autor Desconhecido
Um esqueleto
no armário de Felipão
Uma
declaração sobre Pinochet, dada pelo treinador há mais de 20 anos, causou a
fúria de uma parte da torcida do Colo Colo contra a contratação de Scolari
Pedro
Henrique Brandão Lopes
Bastou a
imprensa chilena ventilar as primeiras notícias sobre o interesse da diretoria
do Colo Colo em contratar Luiz Felipe Scolari, para despertar uma onda de
protestos da torcida organizada do clube que se posicionou contra a chegada do
treinador.
Difícil
entender como pode um bem-sucedido treinador, campeão de Copa do Mundo e
gabaritado com títulos e passagens vitoriosas em grandes clubes do Brasil, ser
rejeitado pela torcida de um time que não anda nada bem nos últimos tempos.
É preciso
retornar ao longínquo ano de 1998. Naquele ano, Felipão dirigiu o Palmeiras em
sua primeira e mais vitoriosa passagem pelo clube.
O gaúcho já
havia conquistado muita coisa importante no Grêmio e era bastante calejado no
contato com a imprensa, mas o choque dos primeiros contatos com os jornalistas
paulistas causou algumas situações que ajudaram a caricaturar o já naturalmente
polêmico Felipão.
São desse
período as acaloradas coletivas de imprensa que se transformavam em ringue em
que jorravam declarações como a “turma do amendoim”.
Quando o
pedido por uma entrevista exclusiva era atendido, estava aberta a Caixa de
Pandora do treinador.
Foi numa dessas
exclusivas, que Felipão deu uma declaração sobre a prisão de Augusto Pinichet,
na Inglaterra. Disse o treinador à Rádio Jovem Pan, no dia 28 de outubro de
1998:
“Pinochet fez
muita coisa boa também. Ajeitou muitas coisas lá (no Chile). O pessoal estava
meio desajeitado. Ele pode ter feito uma ou outra retaliaçãozinha aqui e ali,
mas fez muito mais do que não fez… Há determinados momentos que ou o pessoal se
ajeita ou a anarquia toma conta”.
Felipão errou
no tom, no conteúdo, se meteu em algo que visivelmente desconhecia, pois
ignorou as mortes, a tortura, as prisões, o roubo e até o tráfico de drogas do
regime de Pinochet.
Errou ainda
mais por se entregar ao afã do qual padece boa parte de nosso povo: uma
necessidade incontrolável de ter opinião sobre tudo.
Afinal o que
o treinador do Palmeiras teria de opinar sobre a prisão de um ditador
latino-americano que aconteceu no Reino Unido?
Pois é, nada.
Porém, em
última análise, Felipão deu uma declaração de apoio ao absurdo regime
totalitário e isso marca qualquer um.
A conta, às
vezes demora a chegar, mas sempre chega.
Hoje em
baixa, depois de ser escorraçado do Palmeiras, mesmo depois de conquistar o
Brasileirão 2018, Felipão poderia encontrar no Colo Colo a reabilitação de seu
trabalho e a saída para uma aposentadoria digna.
É bom lembrar
que a declaração foi usada despudoradamente pela imprensa chilena antes do
confronto da seleção daquele país contra o Brasil, válido pelas oitavas de
final da Copa do Mundo de 2014.
A ideia era
inflamar os chilenos que fossem ao Mineirão e incendiar as arquibancadas contra
os donos da casa com gritos de “Felipón, amigo de Pinochet torturador y
ladrón!”.
Dessa vez a
repercussão foi imediata. Além da reação de repúdio e a declaração de guerra à
Felipão feitas pela torcida organizada Antifascistas De La Garra Blanca, a
diretoria agiu rápido para abafar o mal-estar com seus torcedores e parece ter
desistido da negociação:
“É verdade
que a gente sondou o Scolari e ficamos de fazer uma reunião quando ele
decidisse. E aí, este tema apareceu. Seria uma imprudência considerar este
técnico depois de conhecer estas declarações.”, falou à ESPN, o diretor do Colo
Colo Ángel Máulen.
Apesar da
inconteste idolatria em Grêmio e Palmeiras, além do ótimo serviço na Seleção
Brasileira em sua primeira passagem quando venceu o Mundial, Felipão tinha um
esqueleto no armário e os Antifascistas De La Garra Blanca, ao exumar o tal
esqueleto, descobriram que era de Augusto Pinochet e, principalmente, em razão
dos tempos tão conturbados no Chile, estão dispostos a declarar guerra ao
veterano treinador.