União Futebol Clube
Por José Cruz.
A União, pessoa jurídica de Direito Público representante do Governo Federal, destina:
1. R$ 47 milhões da Lei de Incentivo ao Esporte para clubes profissionais.
2. R$ 70 milhões para obras em estádios fora do Mundial;
3. R$ 2 bilhões, calote fiscal dos cartolas que estão sendo cobertos pela Timemania;
4. R$ R$ 73 milhões em equipamentos de segurança para estádios de futebol;
5. R$ 700 milhões, previsão da isenção fiscal exigida pela FIFA para os parceiros da Copa 2014.
É o governo federal financiando o futebol, rentável e de gestões duvidosas.
A “torneira” do dinheiro público para financiar a construção de 40 estádios, conforme a reportagem de Rodrigo Mattos, na Folha de São Paulo desta sexta-feira, não é o ponto final de um jogo milionário que ajuda a sustentar o futebol profissional.
E também não termina na compra de equipamentos de segurança para estádios, denúncia que faço desde 2009, sendo essa uma obrigação dos clubes, por lei.
Lei de Incentivo
Atualizei os dados referentes à Lei de Incentivo ao Esporte e constatei que a União já abriu mão de R$ 47 milhões de dinheiro do imposto de renda para aplicar em projetos de clubes de futebol.
Dos 13 clubes, de apenas quatro estados – RS, SC, SP e RJ –, que já captaram recursos pela Lei de Incentivo, o São Paulo F.C é o líder: conseguiu R$ 24.685.408,00, entre 2007 e 2010.
O dinheiro destina-se, também, para obras em estádios, mas, prioritariamente, para a formação de jogadores de alta performance.
Futebol e esgoto
Uma vez revelados, esses jovens tornam-se produto de venda, uma das principais fontes de renda do tricolor paulista.
Um estudo da consultora Crowe Horwat identificou que a venda de jogadores para o exterior é a segunda fonte de renda dos principais clubes nacionais, atrás apenas dos direitos de TV.
Evidencia-se, assim, o espetacular abuso com dinheiro público para com os milionários negócios do futebol, contrastando com a realidade de que apenas 51% da população tem acesso à rede de esgotos.
A falta desse serviço de saneamento é responsável pela proliferação de doenças e, consequentemente, lotação dos hospitais públicos e óbitos.
Quem responde por tais prejuízos humanos?
Pois é nesse quadro de fartura e escassez – ou esbanjamento e necessidades – que o governo federal determina cortes orçamentários de R$ 50 bilhões, como ocorreu recentemente.
Beneficiados
Por estado, os clubes mineiros são os principais “clientes” da Lei de Incentivo: Cruzeiro, Uberlândia, Ipatinga, América e Atlético já usam esses recursos para “formação de atletas”.
No clássico de Minas, o Atlético, com R$ 3,8 milhões, está em vantagem sobre o Cruzeiro, que conseguiu R$ 3,1 milhões.
No Rio Grande do Sul, o Grêmio já captou R$ 1.155.852,00 para modernizar o seu Centro de Treinamento.
A Lei
A Lei de Incentivo ao Esporte (nº 11.438/2006) dispõe de R$ 300 milhões anuais para aplicar em projetos esportivos.
O dinheiro vem do imposto devido por pessoas físicas, que podem destinar até 6% do valor (1% para as jurídicas) para projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte.
É dinheiro público que deixa de ingressar no orçamento da União para ser aplicado, por exemplo, em projetos sociais, educacionais e de saúde, em que nossas carências são enormes.
Cavalos e drogas
A Lei de Incentivo ao Esporte, criada em 2006, contempla projetos em três frentes: educacionais, rendimento e participação.
Porém, há estados que até hoje não conseguiram captar nem um real, como é o caso de Pernambuco.
Evidencia-se, também, que as regiões mais ricas da Federação são as mais que mais aprovam projetos e captam recursos da Lei de Incentivo.
A elitização do esporte sob o comando do Ministério do Esporte é evidente.
Não fosse o dinheiro para o futebol profissional, também uma competição de cavalo da raça “manga-larga”, levou R$ 218 mil – com licença, companheiro Rodrigo Mattos – “pelo ralo”.
Por favor, não me entendam mal: tudo é legal, está na lei.
Triste é observar que o Governo Federal – que diz ter foco no social – e o Ministério do Esporte não fixarem prioridades e metas para o uso de um dinheiro que falta em outras frentes.
Por exemplo, 8,6% dos brasileiros entre 8 e 18 anos são usuários de crack, segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas.
Depois vem aquele discurso de “esporte combate às drogas”.
Falsidade?
Hipocrisia?
Finalmente
Diante dessa realidade, que demonstra gestão desastrosa do dinheiro público, o governo federal tornou-se o grande parceiro do futebol profissional, com muita verba, benefícios e isenções.
A cartolagem insaciável dá as boas vindas à União Futebol Clube.