“Algo me surpreendeu no Brasil: o
fato de poucas pessoas irem aos estádios. Há pouco público. Não faz parte da
cultura. Gostaria de ter mais gente nos estádios”.
Clarence Seedorf.
A frase de Seedorf, hoje, é uma
verdade incontestável, mas contém um equivoco que reconheço como normal, pois
foi dita por um holandês, que certamente ainda não foi devidamente aclarado
sobre o Brasil e sua história.
Nós brasileiros gostamos sim de
futebol!
O esporte é parte de nossa
cultura, mesmo que hoje, a globalização tenha nos mostrado que não somos os únicos
no mundo a amar incondicionalmente o balipodo.
Mas amamos e amamos com fervor.
No entanto, esse amor acabou
sufocado pela incompetência de anos e anos de péssimas administrações por parte
dos homens que antes dirigiram e que infelizmente, ainda dirigem a CBF e suas
cumplices, as federações estaduais...
Acabou trincado pelo sucateamento
de nossos estádios e pelo profundo desprezo ao torcedor que em lugar de
consumidor, é tratado com gado...
Gado que precisa ser arrebanhado
para dentro dos estádios sem que nada além do cimento cru lhe seja oferecido...
Gado que deve ser convencido a
dar seu dízimo como prova de amor...
Dízimo que se esconde por trás de
bilhetes de loteria ou carnês de sócio qualquer coisa.
Em troca, como todo dízimo, lhe
oferecem ilusão...
Doce ilusão.
O brasileiro deixou de ir aos
estádios sim...
Deixou quando os anônimos foram
preteridos e os organizados passaram a ser subsidiados por dirigentes ávidos
por voto fácil nas campanhas eleitorais ou interessados em manter sob suas
rédeas uma “milícia” pronta para intimidar críticos e opositores.
Eles, os anônimos bancam a festa
e eles, os organizados fazem a festa.
Eles, os anônimos torcem, sofrem,
choram e vibram a cada derrota ou a cada vitória, eles os organizados, tomam
partes das arquibancadas muitas vezes sem pagar, fazem sofrer aqueles que a eles
não se submetem e ameaçam seus adversários, nas derrotas ou nas vitórias...
Alguém precisa dizer ao Seedorf,
que centenas e milhares de torcedores, deixaram de ir aos estádios
quando descobriram que não eram apenas os empresários que dilapidavam o
patrimônio dos clubes, mas que alguns dirigentes que tinham por obrigação preservar
e ampliar este patrimônio se apoderam dos direitos federativos dos jogadores e
fizeram e fazem verdadeiros negócios da China...
Isso sem falar dos preços absurdos que se cobra por qualquer partidinha mequetrefe...
Bem, são tantos os motivos, que
enumerá-los seria enfadonho para quem estiver lendo esse texto.
Mas se hoje a frase de Seedorf é
verdadeira, nos anos 60, 70 e 80, não era...
Vasco e Flamengo, Palmeiras e
Corinthians, Atlético e Cruzeiro, Grêmio e Internacional e tantos e tantos
clássicos e não clássicos por este Brasil a fora, arrebatavam multidões de anônimos
que enchiam nossos estádios.
Porém, eram outros tempos, tempos
onde dirigentes, jogadores e torcedores, eram amadores; amavam o futebol.