Influência do hooliganismo no Brasil
Por Oscar Cowley Forner
A violência no futebol não é
novidade.
Entender o que leva as pessoas a
se agredirem por um time de futebol é algo bastante difícil.
Por um lado, penso que algumas
pessoas são adictas a adrenalina causada pela luta, que, por sua vez, é
impulsionada pelo momento de libertação e descarga de frustrações cotidianas,
somado ao sentimento de amor exagerado pelo seu clube do coração.
Pelo outro, acredito que seja
pura burrice (fique à vontade para utilizar qualquer outro sinônimo mais
brusco).
E não se engane...
O futebol brasileiro nem sempre
foi marcado pela violência nas arquibancadas.
Basta perguntar a qualquer
conhecido ou familiar que tenha acompanhado futebol 50 anos atrás.
O próprio Fernando Amaral,
jornalista esportivo e, por coincidência, autor deste blog, teve o privilégio
de frequentar o Maracanã nos tempos de “paz” do futebol brasileiro; quando as
torcidas eram mistas, compostas por pessoas de todas as classes sociais e
livres de confrontos (tirando um empurrão ou outro).
Hoje em dia não é preciso ir para
um estádio para ver que o panorama mudou.
Basta ver os noticiários e se
envergonhar com a atitude de alguns grupos de torcedores, quero enfatizar o
“alguns”, porque dizer que a torcida do Vasco é violenta é estupidez.
Violentos são a dezena de
bandidos que tumultuam o espetáculo e, também, os responsáveis por deixá-los
entrar.
E como foi que surgiram os
sujeitos violentos nos estádios?
Bom, isso nós temos que agradecer
aos mesmos que inventaram o esporte que tanto amamos, os ingleses.
É claro que todos já ouvimos
falar do hooliganismo.
Basta pensar nesse termo que vem
à cabeça a imagem de uma dezena de britânicos embriagados se batendo no meio da
rua.
Tudo isso, claro, sem deixar cair
o copo de cerveja da mão.
Trata-se de um malabarismo único
dos Hooligans.
Como descendente de inglês, posso
dizer que os britânicos (salvo algumas exceções) são um povo briguento.
Ainda na escola cheguei a sofrer
conflitos com potenciais hooligans, de forma que posso imaginar de onde eles
aprendem esses costumes.
No fim dos anos 80, a Inglaterra
viveu o auge do hooliganismo.
E com isso, vieram as
consequências.
Alguma vez ouviu falar das
tragédias de Heysel e Hillsborough?
Estas foram as ações mais
destacadas e, também, letais protagonizada pelos hooligans ingleses na época.
Em Heysel, na Bélgica, no ano de
1985, o Liverpool enfrentava a Juventus pela final da Taça dos Campeões.
Mas o que ninguém esperava era
que os torcedores do time inglês começariam uma confusão, já dentro do estádio
e faltando poucos minutos para começar o confronto, que resultaria na morte de
39 pessoas e mais de 600 feridos.
O desastre ocorreu quando os
temidos hooligans do Liverpool ultrapassaram a barreira policial que, por sua
vez, continha apenas seis pessoas, e atacaram os italianos que estavam na mesma
zona da arquibancada.
O autor inglês do livro “Febre de
Bola”, Nick Hornby, declara em sua obra que a intenção dos torcedores do
Liverpool, inicialmente, era dar um susto nos “mauricinhos” italianos correndo
até eles como se fossem atacá-los, algo aparentemente engraçado no mundo dos
hooligans.
O medo da morte fez com que os
italianos corressem e se esmagassem contra o muro que os separava do estádio,
que acabou desabando.
Contudo, essa brincadeira de
péssimo gosto gerou uma punição severa aos clubes ingleses, que foram banidos
por cinco anos de competições europeias.
Em Hillsborough, quatro anos
depois do acontecido na Bélgica, mais uma vez os torcedores do Liverpool
protagonizaram uma catástrofe.
Esta ficou conhecida como a pior
tragédia do futebol inglês.
Durante a semifinal da Copa da
Inglaterra, contra o Nottingham Forest, disputada no estádio do Sheffield
Wednesday, a superlotação de uma das entradas levou à morte de 96 pessoas.
Segundo as investigações, grande
parte da torcida do Liverpool não estava conseguindo entrar, ainda que tivessem
ingressos, fazendo com que ocorresse um empurra-empurra para entrar no estádio
que forçou a abertura de um portão.
Isto fez com que tanto as pessoas
com ingressos quanto os que não tinham invadissem a arquibancada e esmagassem
os que estavam na frente.
No meio ao auge do hooliganismo,
os policiais optaram por formar um cordão de isolamento no meio do campo,
temendo que os torcedores do Liverpool estivessem tentando atacar os rivais,
como aconteceu em Heysel.
Mas na verdade as pessoas
tratavam de empurras as grades para salvar suas vidas.
O incidente foi a gota d’água
para que os problemas fossem resolvidos de uma vez...
Caso contrário Margaret Thatcher
daria um jeito de acabar com o futebol.
O encargado de mudar esse cenário
foi Peter Murray Taylor, o Lorde de Gosforth, que propôs uma transformação
radical no futebol inglês.
Para começar, os terraces, local
favorito dos hooligans, foram preenchidos com cadeiras.
Dessa forma, todos os estádios
dos times de primeira e segunda divisões passaram a ter assentos para todos os
espectadores.
Além disso, foi criada uma
política de prevenção da violência, que consistia em tratar de conter os
vândalos previamente, no lugar de esperar para tomar alguma providência quando
os confrontos fossem iniciados.
Os clubes tiveram de instalar em
seus estádios sistemas de monitoramento por câmeras, possibilitando uma
varredura virtual de todos os espectadores, tonando fácil a localização dos
briguentos.
O investimento na segurança,
dessa forma, foi focado no trabalho das equipes de inteligência que, por sua
vez, passaram a escalar um oficial em cada jogo para estudar o comportamento
dos torcedores.
Assim, os policiais conhecem a
identidade daqueles que são potencialmente perigosos.
As detenções resultam em Ordens
de Banimento do Futebol (FBO, em inglês).
Aquele que recebe uma FBO é
obrigado a ficar de três a dez anos afastado dos estádios.
E, como se não bastasse, ele tem
de ficar em uma delegacia enquanto seu time joga.
Para aqueles que esperam a
oportunidade de arrumar confusão quando a seleção joga fora dos terrenos
britânicos, o governo inglês também tomou providências.
Para isso, o vândalo é obrigado a
entregar seu passaporte cinco dias antes do jogo.
Ficando assim, impedido de
viajar.
Quem desrespeitar, bom, é preso
por um bom tempo...
Lindo demais para ser verdade,
não é?
Não!
A Espanha e Alemanha seguiram o
mesmo exemplo e vem conseguindo controlar seus hooligans.
Fica o questionamento, então...
Será que o Brasil está preparado
para tomar as providências necessárias para acabar com o vandalismo nos
estádios ou teremos que esperar acontecer algo parecido com o ocorrido em
Hillsborough ou Heysel para tomar medidas realmente eficientes?
Imagem: Autor Desconhecido