Imagem: Autor Desconhecido
A reedição de
um espetáculo do futebol
Vinte quatro
anos depois, Palmeiras e Grêmio vão reeditar as quartas de final da
Libertadores da América 1995, quando juntos anotaram 11 gols em dois
extraordinários jogos que contrariaram a lógica do futebol.
Pedro
Henrique Brandão Lopes
Depois que o
Palmeiras venceu o Godoy Cruz por 4 a 0, no Allianz Parque, e o Grêmio
confirmou sua classificação às quartas de final ao vencer o Libertad por 3 a 0,
no Paraguai, o confronto definido para acontecer em dois jogos nos dias 20 e 27
de agosto e que valerá uma vaga na semifinal da Libertadores 2019, colocou
frente a frente dois velhos conhecidos que têm o ‘DNA copeiro’, histórias de
amor com Luiz Felipe Scolari e há 24 anos, fizeram um embate épico que está na
história do futebol.
No dia 26 de
julho de 1995, quarta-feira com uma típica noite fria do inverno
porto-alegrense, o Palmeiras foi até o antigo Estádio Olímpico do Grêmio para
enfrentar o forte time dirigido por Luiz Felipe Scolari.
Felipão era,
então, um técnico em ascensão com pouco menos de 10 anos como treinador, mas
com um título de peso na carreira dirigindo o Criciúma na Copa do Brasil 1991.
O gaúcho
encontrou no Grêmio o início de sua fase mais vitoriosa que duraria pelos próximos
10 anos e teve como ápice o Penta na Copa do Mundo 2002 pelo Brasil.
Porém, no
Grêmio de 1995, Felipão montou seu primeiro grande esquadrão.
Um time
recheado de ótimos jogadores e de homens de confiança bem ao estilo família
Scolari.
Um deles era
Arce, que naquela Libertadores ajudou o comandante a forjar uma lesão antes de
uma partida decisiva para enganar o treinador adversário.
Num
treinamento antes do jogo, o lateral paraguaio apareceu no gramado,
propositalmente diante de todos os jornalistas presentes, com a perna engessada
e Felipão tratou de fazer uma cena de quem não teria gostado da exposição.
Esse era o
clima de grupo na mão do treinador que tinha aquele Grêmio.
Jogadores
dispostos a mentir e é claro, se doarem ao máximo pelo treinador e para
conseguir o resultado.
Pelo lado
palmeirense, um time extremamente qualificado que vinha de um bicampeonato
brasileiro e paulista, reforçado pela parceira Parmalat que injetou mais
dinheiro naquele ano para buscar justamente o título que faltava ao clube: a
Libertadores da América.
A expectativa
era de um grande jogo e alguns cronistas falavam até em final antecipada.
Porém quando
a bola rolou foi um massacre gremista e uma verdadeira humilhação palmeirense.
O Tricolor
Gaúcho venceu por escandalosos 5 a 0 e contrariou inclusive a velha máxima da
várzea que prega “time que perde na bola, não pode perder no braço”.
Pois o
Palmeiras, em Porto Alegre, perdeu no braço e na bola.
Em uma
confusão envolvendo o volante gremista Dinho, Rivaldo e Válber foram expulsos
junto ao reconhecido brigão do time gaúcho.
Mas entre
pontapés e socos distribuídos às baciadas atrás do gol, Danrlei, Adílson e
Paulo Nunes também poderiam ter ido para o vestiário mais cedo.
Com direito a
hat-trick de Jardel, um golaço de Arce e outro de Arílson, o Grêmio venceu por
5 a 0 e praticamente encerrou as chances de reação do Palmeiras na partida de
volta.
Na semana
seguinte, no dia 2 de agosto, o confronto de volta estava marcado para o
estádio Palestra Itália e o Palmeiras jogaria pela honra, afinal seria
praticamente impossível tirar a vantagem gremista e virar o placar agregado.
Nas oitavas
de final, Palmeiras e Grêmio tinham passado com certa facilidade.
O Palmeiras
havia vencido o Bolívar por 3 a 1 no agregado, enquanto o Grêmio não viu
dificuldades em marcar cinco gols nos dois jogos contra o Olímpia.
Com campanhas
tão iguais e depois do acachapante 5 a 0 de Porto Alegre ninguém acreditava que
o Palmeiras pudesse sequer causar riscos à classificação gremista dada como
certa.
Para sorte de
todos, futebol não é ciência exata, aliás, nem ciência e muito longe de ser
exato.
O que se viu
no Palestra Itália naquela quarta-feira fria de agosto de 1995, foi uma das
partidas mais malucas da história do futebol, a maior “quase virada” do futebol
mundial.
Mas é bom que
se contextualize o momento de desconfiança e pressão sobre o time paulista.
Depois da
goleada em Porto Alegre, o Palmeiras teve que jogar no domingo a final do
Campeonato Paulista contra o arquirrival Corinthians, empatou em 1 a 1.
Para o jogo
contra o Grêmio, pouco mais de 7 mil corajosos deixaram suas casas acreditando
no improvável.
Logo aos oito
minutos do primeiro tempo mais uma pancada no já combalido Palmeiras.
Jardel anotou
o 1 a 0 com seu quarto gol no confronto.
Era uma
crueldade, era desnecessário e o prenúncio de outro desastre.
O gol de
Jardel, apesar de ao apito final ser justamente o que garantiu a vaga gremista,
parece ter surtido efeitos diferentes nos dois times.
Enquanto no
Palmeiras o gol gerou um incentivo extra, no Grêmio gerou um relaxamento
coletivo.
Daí em diante
o Palmeiras se organizou em campo e conseguiu balançar as redes adversárias.
Isso não
anula o mérito da espetacular partida de recuperação que fez o Palmeiras.
Melhor em
campo o Palmeiras chegou ao empate com Cafu, antes dos 30 minutos.
Amaral virou
alguns minutos depois e pelo menos a vitória que evitaria o vexame total estava
garantida.
Paulo Isidoro
anotou o 3 a 1.
Se o gol de
Amaral já era algo extraordinário, imagine um gol em que Antônio Carlos saiu
driblando, sofreu falta dentro da área e Mancuso cobrou o pênalti para marcar o
4 a 1.
Neste
momento, Palmeiras e Grêmio perceberam duas coisas: que só faltavam dois gols
para a virada e que o jogo ainda teria pelo menos 20 minutos até o apito final.
O Palmeiras
aumentou a carga de pressão, o Grêmio lavou o rosto e tentou acordar e amarrar
o jogo no meio de campo para segurar o resultado e a classificação.
Aos 39
minutos, Cafu deu todas as esperanças possíveis aos presentes no Palestra.
Em chute
forte de fora da área o lateral marcou o quinto gol do Palmeiras e deixou o
Alviverde a apenas um gol da mítica virada.
O Grêmio
copeiro dirigido por Luiz Felipe Scolari passou todos os cadeados e ferrolhos
imagináveis e acabou com o jogo muito antes do apito final.
Nos últimos 7
minutos (2 de acréscimos) o Tricolor Gaúcho evitou o jogo e assim conquistou a
classificação e frustrou a virada palmeirense.
Nos próximos
dias teremos uma overdose de embates entre Palmeiras e Grêmio.
A começar
pelo próximo domingo em que os times se enfrentam pelo Brasileirão, seguindo
pelos jogos da Libertadores que vão colocar frente a frente dois favoritos ao
título novamente como foi há 24 anos.
O torcedor
palmeirense que esperou o sexto gol foi embora com o grito de gol entalado na
garganta, sensação que Marcus Vinicius Almeida tão bem descreveu em seu texto “O
gol que nunca saiu” que bem descreve a noite do torcedor palmeirense
naquela “quase maior virada da história”.
Enquanto o
Palmeiras viu seu projeto Libertadores adiado por quatro anos e só venceu o
título continental em 1999, o Grêmio saiu fortalecido daquele confronto
espetacular e acabou a temporada como campeão da América.