Dinorah de Assis, o ponto final da Tragédia da Piedade... a história do irmão de Dilermando, o homem que matou Euclides da Cunha.

Imagem: Autor Desconhecido 

(Dinorah, irmão de Dilermando, o homem que matou Euclides da Cunha)

Dinorah de Assis, o ponto final da Tragédia da Piedade

Há exatos 110 anos, um tiro disparado por Euclides da Cunha deu início a uma extraordinária história de superação e desgraça do então zagueiro do Botafogo, Dinorah de Assis.

Pedro Henrique Brandão Lopes

A manhã do domingo 15 de agosto de 1909, foi o dia escolhido pelo escritor Euclides da Cunha para acertar as contas de um triângulo amoroso que envolvia Anna da Cunha, a S'anninha, sua esposa, e Dilermando de Assis, um aspirante do exército e campeão de tiro.

O autor de "Os Sertões" invadiu a casa no bairro da Piedade, no Rio de Janeiro, aos gritos de "vim para matar e morrer".

Dinorah, irmão de Dilermando, estava na sala e não teve tempo para se esconder.

Foi alvejado por um tiro nas costas.

Campeão de tiro que era, Dilermando reagiu e acertou o peito do escritor, que já havia disparado três vezes contra o aspirante do exército, mas sem sucesso.

Euclides da Cunha morreu e S'anninha assumiu publicamente seu amor por Dilermando.

Dinorah era militar como o irmão, mas tinha talento para os esportes.

Entre os que mais se destacou estava o futebol.

Quando recebeu o tiro de Euclides, já era zagueiro do Botafogo e de maneira praticamente inexplicável, Dinorah se recuperou e entrou em campo apenas uma semana depois de ser alvejado.

Com uma bala alojada na coluna, o jogador atuou por mais um ano e participou da campanha do famoso título botafoguense, no Carioca de 1910.

Dinorah foi titular do Botafogo em 10 das 11 partidas naquele campeonato.

Porém, antes mesmo do final daquele ano, Dinorah passou a sentir fraquezas musculares, o que o obrigou a jogar como goleiro.

Quando o ano de 1911 começou, a situação do jogador piorou e ele teve de abandonar o esporte.

A situação só piorava e no ano seguinte precisou deixar também a carreira militar.

Uma cirurgia feita em 1913, para retirar o projétil de sua coluna, deixou Dinorah paraplégico.

A depressão tomou conta de Dinorah e ele voltou a Porto Alegre, sua cidade natal, onde se entregou ao alcoolismo e foi internado em sanatórios da região por diversas vezes.

Até que um fim trágico aconteceu em 21 de novembro de 1921: louco pela sífilis, paralítico, pobre e abandonado, Dinorah atirou-se no Rio Guaíba e cometeu o suicídio que colocou um ponto final na Tragédia da Piedade.

O futebol fica de lado em várias passagens dessa história tão absurda quanto real.

O amor, a paixão, o ódio, a traição, a vingança e as várias nuances de outros sentimentos tornam-se ingredientes desse enredo e, também, são jogados para escanteio nessa história de sangue, literatura e futebol escrita pelas mesmas mãos que escreveram uma obra prima da literatura brasileira.