Imagem: SWNS.com
Anfield Road
O terceiro
episódio do Arquibancada Móvel vai contar a história de Anfield Road, estádio
do Liverpool inaugurado há mais de 130 anos que conserva as características
tradicionais de um estádio do século XIX e guarda a mística e a voz das
arquibancadas que nunca deixam o time caminhar sozinho.
Pedro
Henrique Brandão Lopes
Como quase
tudo no futebol inglês, Anfield Road também tem muita tradição adquirida por
longos anos de existência.
Desde 28 de
setembro de 1884, quando foi inaugurado, o estádio acumula histórias que
justificam o apelido de Fortaleza de Anfield, já que o estádio ajudou a fazer
do Liverpool uma das maiores potências do futebol mundial.
A história de
Anfield e Liverpool se entrelaçam e em muitos momentos são a mesma, porém no
exato dia da estreia e pelos oito anos seguintes, foi o arquirrival do Reds que
dominou o estádio.
O Everton fez
o jogo inaugural de Anfield contra o Earlstown e venceu por 5 a 0.
Somente em
1892, com a fundação do Liverpool numa espécie de dissidência do Everton, é que
a diretoria vermelha entrou em atrito com a diretoria azul pelo controle do
estádio.
Como John
Houlding, dono de Anfield, ficou do lado vermelho da história, o Liverpool
venceu a disputa e passou a chamar de casa o estádio que até então era do
arquirrival, enquanto o Everton começou a construção do Goodisson Park.
Em 1° de
setembro de 1892, o Liverpool fez sua estreia em Anfield enquanto o Everton
inaugurou Goodisson Park. Logo na estreia, o Liverpool provou a grandeza e
força que o Anfield lhe empresta e goleou o Rotherham Town por 7 a 1
(brasileiros arrepiados lendo esse placar).
São
longínquos 135 anos desde a inauguração e o mundo era completamente diferente
deste dos dias atuais. A Revolução Russa não era nem projeto, o Brasil era um
Império escravocrata e até o cinema dos irmãos Lumière ainda levaria mais 10
anos para ser inventado.
Com a chegada
do século XX, Anfield foi se tornando cada vez mais importante para a grandeza
do Liverpool.
Em 1º de
setembro de 1906, como forma de comemorar os 14 anos do primeiro jogo do
Liverpool no estádio, a diretoria inaugurou uma nova arquibancada para atender
a demanda crescente de torcedores que iam assistir o time vermelho da cidade.
No jogo da
inauguração da nova arquibancada de Anfield, vitória dos donos da casa pelo
placar mínimo sobre o Stoke City. Joe Hewitt foi o responsável por anotar o
primeiro tento frente a nova arquibancada que em pouco tempo se tornaria uma
das mais famosas do futebol europeu.
A mística
estava criada logo no primeiro jogo da arquibancada nova. Com o passar dos anos
a tradição foi aumentando e aquela estrutura atrás do gol da rua Walton Breck,
se tornou a parte mais vibrante do estádio.
Talvez porque
ali estavam as classes mais populares que podiam pagar apenas o ingresso que os
colocaria de frente para os ventos gelados vindos de Stanley Park.
Como os
preços daquele setor eram mais acessíveis, os torcedores precisavam chegar com
bastante antecedência ao estádio para garantir a entrada (não existia venda on
line e nem sócio torcedor).
Sem muito o
que fazer dentro do estádio antes da bola rolar, o jeito era acompanhar na
cantoria as músicas reproduzidas nos alto-falantes do estádio.
Em 1928, a
diretoria construiu uma cobertura na arquibancada para poupar seus torcedores
dos ventos mais intensos.
A medida
amenizou os ventos, mas potencializou os gritos como se fosse uma concha
acústica virada para o gramado.
Estava
cristalizada a aura mágica de Spion Kop.
Até aquele
momento não havia nome para a arquibancada com seus 100 degraus e capacidade
para abrigar os 25 mil mais loucos torcedores vermelhos.
Quem tratou
de batizar a estrutura, que a essa altura já tinha vida própria, foi o
jornalista Ernest Jones, editor do Liverpool Daily Post and Echo, que decidiu
homenagear soldados britânicos mortos numa guerra na África do Sul, no ano de
1900.
A guerra foi
a Segunda Guerra Boer, conflito na Cidade do Cabo que colocou em lados opostos
colonos franceses e holandeses contra o exército britânico pelo domínio das
minas de diamante.
Em 23 de
janeiro de 1900, mais de 1500 homens do exército da Rainha, em grande parte
advindos do condado de Lancashire, próximo a Liverpool, marcharam em direção ao
interior da África do Sul para enfrentar a resistência dos rebeldes.
A mais de 350
km de Joanesburgo, a tropa chegou aos pés de uma montanha de 1,4 km de altura
conhecida como Spion Kop. Lá aconteceu uma leve batalha que conduziu os
britânicos a um grave erro estratégico.
Como
enfrentaram poucos homens, acreditaram que poderiam cavar as trincheiras ali
para segurar o avanço dos rebeldes.
Porém estavam
numa espécie de cordilheira e mais a frente havia montanhas mais altas.
A tropa ficou
encurralada nas trincheiras que os próprios soldados cavaram e foi dizimada ao
final do dia.
Mais de 1000
feridos, 400 mortos e um sem número exato de desaparecidos.
Por tudo
isso, quando Ernest Jones sugeriu o nome, logo caiu na graça de todos, muitos
que perderam parentes na batalha, passaram a frequentar o estádio com um gosto
a mais e quando gritavam pelo Liverpool, redobravam o grito para suprir a
ausência dos que se foram.
Assim a
história do Campo dos Milagres foi escrita.
A partir de
tradições cultivadas, vitórias bem comemoradas e derrotas sofridas.
Mas sempre
com a companhia inseparável da torcida.
Estádios com
tradição existem vários, estádio que tenham voz só existe Anfield Road.
O terceiro
episódio do Arquibancada Móvel conta a história de Anfield, não por acaso,
carrega os apelidos de Campo dos Milagres e Fortaleza de Anfield e guarda
tradições da torcida e do clube que há muitas gerações passam pela Spion Kop,
pelo portão Bill Shankly e pela eterna voz que nunca deixará o Liverpool
caminhar só.
Imagem: Autor Desconhecido
Nota do
blogue:
O
Universidade do Esporte lança primeiro podcast brasileiro sobre estádios de
futebol.
O
Arquibancada Móvel, primeiro podcast brasileiro sobre estádios de futebol, vai
falar com descontração e trazer muita informação curiosidades e fatos
históricos dos principais estádios de futebol do mundo.
A cada
episódio, o ouvinte terá acesso às histórias esportivas e, também a um papo que
vai muito além do futebol.
Você imagina
o que Getúlio Vargas e o Estádio do Pacaembu têm em comum?
Ou que foi o
arquirrival do Liverpool que inaugurou o Anfield?
Pois é isso
que o Arquibancada Móvel vai contar.
Em seu
primeiro episódio, o Arquibancada Móvel contou a história do Stade de France,
no segundo foi a vez do Monumental de Nuñez, casa do River Plate.
Hoje, sábado,
já está no ar tudo sobre o Anfield Road, estádio do Liverpool.
Sob o comando
de Anthony Medeiros, Dyego Lima, Gustavo Sousa, Kevin Muniz e Pedro Henrique
Brandão, o Arquibancada Móvel estreia neste sábado (17) em todas as plataformas
de streaming.
É um podcast
desenvolvido no programa Universidade do Esporte, projeto de extensão da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e produzido na rádio
Universitária FM 88,9 e dirigido por Fernando Amaral...
Todo sábado
vai ao ar um novo episódio do Arquibancada Móvel.
Arte: Marcos Arboés
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