Imagem: Acervo/Estadão
A armação de
Armando Marques
Num jogo que
contava com estrelas como Edu, Carlos Alberto Torres, Pelé, Enéas, Basílio,
Pepe e Otto Glória, foi um árbitro quem mais “brilhou” e por um erro de
matemática. A curiosa história de quando Armando Marques errou a contagem dos
pênaltis e o título Paulista de 1973 acabou dividido entre Santos e Portuguesa.
Pedro
Henrique Brandão Lopes
O futebol
brasileiro é berço de muitas histórias que parecem saídas de uma ficção
qualquer.
Partidas com
roteiros tão bem-acabados que parecem planejados para despertar emoção,
enquanto outras de tão estapafúrdias parecem ter sido escritas por alunos do
primário.
Uma dessas
histórias completou nesta semana 46 anos. Foi no dia 26 de agosto de 1973, um
domingo em que o Morumbi recebeu mais de 116 mil torcedores para acompanhar a
decisão do Campeonato Paulista.
O consagrado
time de Pelé e companhia que havia dominado o futebol brasileiro nos anos 1960,
enfrentaria a Portuguesa que, apesar de modesta, tinha naquele ano um ótimo
time com grandes jogadores e Enéas, talvez o maior jogador da história
lusitana.
Depois de uma
partida muito equilibrada e mesmo depois da prorrogação, o empate sem gols
permaneceu no placar e a decisão do campeão foi parar na marca da cal.
Na primeira
cobrança santista, Zé Carlos parou em Zecão, goleiro da Lusa.
Mesmo assim,
o Santos conseguiu abrir 2 a 0 em três cobranças. E é aí que o problema começa.
Sem perceber
que a Lusa ainda poderia chegar ao empate e forçar as cobranças alternadas,
Armando Marques simplesmente encerrou a disputa declarando o Santos como
campeão.
Quem estava
acompanhado a partida, logo notou o erro do árbitro.
Pepe que era
treinador santista na época disse em entrevista para O Estado de São Paulo:
“Senti que
tinha algo errado, mas pensei que o errado devia ser eu. O Armando Marques
apitava todas as decisões naquela época, ninguém imaginava que ele cometeria um
erro desses.”
Os dirigentes
da Portuguesa viram no erro matemático de Armando Marques, a chance de tentar o
tapetão para conquistar o título.
Logo tiraram
os atletas do gramado e não permitiram sequer o banho nos vestiários do
Morumbi.
A delegação
lusitana só conseguiu tomar uma ducha ao chegar no Canindé.
Armando
Marques ainda tentou, sem sucesso, obrigar os jogadores da Portuguesa a
voltarem ao gramado para terminar a disputa por penalidades.
Nada feito e
enquanto a Lusa fazia o caminho de volta ao Canindé, o árbitro admitiu:
“Foi um
simples erro de matemática. A culpa é toda minha”.
Sem acordo
para um novo jogo como queria a Portuguesa ou para a manutenção do título como
queria o Santos, a Federação Paulista de Futebol (FPF) decidiu dividir o título
do Campeonato Paulista de 1973 e declarou os dois clubes como campeões
estaduais daquele ano.
Mesmo
dividido, aquele título acabou com um impensável jejum do Santos que estava há
quatro anos sem faturar o Estadual, coroou o já veterano time Alvinegro que
marcou época e foi também o último troféu de Campeonato Paulista conquistado
por Pelé que marcou 11 gols na competição e foi o artilheiro.
Pelo lado
lusitano, aquele foi o terceiro e último título Paulista da história da
Portuguesa, que não voltou a repetir os dias de glória.
Armando
Marques morreu em julho de 2014 e deixou como legado uma história ambígua de
respeitado árbitro de futebol e, ao mesmo tempo, de juiz que se envolvia em
confusões, mas justamente por conta dessa mistura produziu histórias tão ímpares
como o dia em que o Campeonato Paulista foi dividido entre Santos e Portuguesa
por um erro de aritmética do homem de preto que assoprava o apito.
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