quinta-feira, agosto 29, 2019

Armando Marques o árbitro que errou a contagem dos pênaltis e título paulista de 1973 acabou dividido entre Santos e Portuguesa de Desportos...

Imagem: Acervo/Estadão

A armação de Armando Marques

Num jogo que contava com estrelas como Edu, Carlos Alberto Torres, Pelé, Enéas, Basílio, Pepe e Otto Glória, foi um árbitro quem mais “brilhou” e por um erro de matemática. A curiosa história de quando Armando Marques errou a contagem dos pênaltis e o título Paulista de 1973 acabou dividido entre Santos e Portuguesa.

Pedro Henrique Brandão Lopes

O futebol brasileiro é berço de muitas histórias que parecem saídas de uma ficção qualquer.

Partidas com roteiros tão bem-acabados que parecem planejados para despertar emoção, enquanto outras de tão estapafúrdias parecem ter sido escritas por alunos do primário.

Uma dessas histórias completou nesta semana 46 anos. Foi no dia 26 de agosto de 1973, um domingo em que o Morumbi recebeu mais de 116 mil torcedores para acompanhar a decisão do Campeonato Paulista.

O consagrado time de Pelé e companhia que havia dominado o futebol brasileiro nos anos 1960, enfrentaria a Portuguesa que, apesar de modesta, tinha naquele ano um ótimo time com grandes jogadores e Enéas, talvez o maior jogador da história lusitana.

Depois de uma partida muito equilibrada e mesmo depois da prorrogação, o empate sem gols permaneceu no placar e a decisão do campeão foi parar na marca da cal.

Na primeira cobrança santista, Zé Carlos parou em Zecão, goleiro da Lusa.

Mesmo assim, o Santos conseguiu abrir 2 a 0 em três cobranças. E é aí que o problema começa.

Sem perceber que a Lusa ainda poderia chegar ao empate e forçar as cobranças alternadas, Armando Marques simplesmente encerrou a disputa declarando o Santos como campeão.

Quem estava acompanhado a partida, logo notou o erro do árbitro.

Pepe que era treinador santista na época disse em entrevista para O Estado de São Paulo:

“Senti que tinha algo errado, mas pensei que o errado devia ser eu. O Armando Marques apitava todas as decisões naquela época, ninguém imaginava que ele cometeria um erro desses.”

Os dirigentes da Portuguesa viram no erro matemático de Armando Marques, a chance de tentar o tapetão para conquistar o título.

Logo tiraram os atletas do gramado e não permitiram sequer o banho nos vestiários do Morumbi.

A delegação lusitana só conseguiu tomar uma ducha ao chegar no Canindé.

Armando Marques ainda tentou, sem sucesso, obrigar os jogadores da Portuguesa a voltarem ao gramado para terminar a disputa por penalidades.

Nada feito e enquanto a Lusa fazia o caminho de volta ao Canindé, o árbitro admitiu:

“Foi um simples erro de matemática. A culpa é toda minha”.

Sem acordo para um novo jogo como queria a Portuguesa ou para a manutenção do título como queria o Santos, a Federação Paulista de Futebol (FPF) decidiu dividir o título do Campeonato Paulista de 1973 e declarou os dois clubes como campeões estaduais daquele ano.

Mesmo dividido, aquele título acabou com um impensável jejum do Santos que estava há quatro anos sem faturar o Estadual, coroou o já veterano time Alvinegro que marcou época e foi também o último troféu de Campeonato Paulista conquistado por Pelé que marcou 11 gols na competição e foi o artilheiro.

Pelo lado lusitano, aquele foi o terceiro e último título Paulista da história da Portuguesa, que não voltou a repetir os dias de glória.

Armando Marques morreu em julho de 2014 e deixou como legado uma história ambígua de respeitado árbitro de futebol e, ao mesmo tempo, de juiz que se envolvia em confusões, mas justamente por conta dessa mistura produziu histórias tão ímpares como o dia em que o Campeonato Paulista foi dividido entre Santos e Portuguesa por um erro de aritmética do homem de preto que assoprava o apito.

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