sábado, agosto 17, 2019

Vinte quatro anos depois, Palmeiras e Grêmio vão reeditar as quartas de final da Libertadores da América 1995...

Imagem: Autor Desconhecido

A reedição de um espetáculo do futebol

Vinte quatro anos depois, Palmeiras e Grêmio vão reeditar as quartas de final da Libertadores da América 1995, quando juntos anotaram 11 gols em dois extraordinários jogos que contrariaram a lógica do futebol.

Pedro Henrique Brandão Lopes

Depois que o Palmeiras venceu o Godoy Cruz por 4 a 0, no Allianz Parque, e o Grêmio confirmou sua classificação às quartas de final ao vencer o Libertad por 3 a 0, no Paraguai, o confronto definido para acontecer em dois jogos nos dias 20 e 27 de agosto e que valerá uma vaga na semifinal da Libertadores 2019, colocou frente a frente dois velhos conhecidos que têm o ‘DNA copeiro’, histórias de amor com Luiz Felipe Scolari e há 24 anos, fizeram um embate épico que está na história do futebol.
No dia 26 de julho de 1995, quarta-feira com uma típica noite fria do inverno porto-alegrense, o Palmeiras foi até o antigo Estádio Olímpico do Grêmio para enfrentar o forte time dirigido por Luiz Felipe Scolari.

Felipão era, então, um técnico em ascensão com pouco menos de 10 anos como treinador, mas com um título de peso na carreira dirigindo o Criciúma na Copa do Brasil 1991.

O gaúcho encontrou no Grêmio o início de sua fase mais vitoriosa que duraria pelos próximos 10 anos e teve como ápice o Penta na Copa do Mundo 2002 pelo Brasil.

Porém, no Grêmio de 1995, Felipão montou seu primeiro grande esquadrão.

Um time recheado de ótimos jogadores e de homens de confiança bem ao estilo família Scolari.

Um deles era Arce, que naquela Libertadores ajudou o comandante a forjar uma lesão antes de uma partida decisiva para enganar o treinador adversário.

Num treinamento antes do jogo, o lateral paraguaio apareceu no gramado, propositalmente diante de todos os jornalistas presentes, com a perna engessada e Felipão tratou de fazer uma cena de quem não teria gostado da exposição.

Esse era o clima de grupo na mão do treinador que tinha aquele Grêmio.

Jogadores dispostos a mentir e é claro, se doarem ao máximo pelo treinador e para conseguir o resultado.

Pelo lado palmeirense, um time extremamente qualificado que vinha de um bicampeonato brasileiro e paulista, reforçado pela parceira Parmalat que injetou mais dinheiro naquele ano para buscar justamente o título que faltava ao clube: a Libertadores da América.

A expectativa era de um grande jogo e alguns cronistas falavam até em final antecipada.

Porém quando a bola rolou foi um massacre gremista e uma verdadeira humilhação palmeirense.

O Tricolor Gaúcho venceu por escandalosos 5 a 0 e contrariou inclusive a velha máxima da várzea que prega “time que perde na bola, não pode perder no braço”.

Pois o Palmeiras, em Porto Alegre, perdeu no braço e na bola.

Em uma confusão envolvendo o volante gremista Dinho, Rivaldo e Válber foram expulsos junto ao reconhecido brigão do time gaúcho.

Mas entre pontapés e socos distribuídos às baciadas atrás do gol, Danrlei, Adílson e Paulo Nunes também poderiam ter ido para o vestiário mais cedo.

Com direito a hat-trick de Jardel, um golaço de Arce e outro de Arílson, o Grêmio venceu por 5 a 0 e praticamente encerrou as chances de reação do Palmeiras na partida de volta.

Na semana seguinte, no dia 2 de agosto, o confronto de volta estava marcado para o estádio Palestra Itália e o Palmeiras jogaria pela honra, afinal seria praticamente impossível tirar a vantagem gremista e virar o placar agregado.

Nas oitavas de final, Palmeiras e Grêmio tinham passado com certa facilidade.

O Palmeiras havia vencido o Bolívar por 3 a 1 no agregado, enquanto o Grêmio não viu dificuldades em marcar cinco gols nos dois jogos contra o Olímpia.

Com campanhas tão iguais e depois do acachapante 5 a 0 de Porto Alegre ninguém acreditava que o Palmeiras pudesse sequer causar riscos à classificação gremista dada como certa.

Para sorte de todos, futebol não é ciência exata, aliás, nem ciência e muito longe de ser exato.

O que se viu no Palestra Itália naquela quarta-feira fria de agosto de 1995, foi uma das partidas mais malucas da história do futebol, a maior “quase virada” do futebol mundial.

Mas é bom que se contextualize o momento de desconfiança e pressão sobre o time paulista.

Depois da goleada em Porto Alegre, o Palmeiras teve que jogar no domingo a final do Campeonato Paulista contra o arquirrival Corinthians, empatou em 1 a 1.

Para o jogo contra o Grêmio, pouco mais de 7 mil corajosos deixaram suas casas acreditando no improvável.

Logo aos oito minutos do primeiro tempo mais uma pancada no já combalido Palmeiras.

Jardel anotou o 1 a 0 com seu quarto gol no confronto.

Era uma crueldade, era desnecessário e o prenúncio de outro desastre.

O gol de Jardel, apesar de ao apito final ser justamente o que garantiu a vaga gremista, parece ter surtido efeitos diferentes nos dois times.

Enquanto no Palmeiras o gol gerou um incentivo extra, no Grêmio gerou um relaxamento coletivo.

Daí em diante o Palmeiras se organizou em campo e conseguiu balançar as redes adversárias.

Isso não anula o mérito da espetacular partida de recuperação que fez o Palmeiras.

Melhor em campo o Palmeiras chegou ao empate com Cafu, antes dos 30 minutos.

Amaral virou alguns minutos depois e pelo menos a vitória que evitaria o vexame total estava garantida.

Paulo Isidoro anotou o 3 a 1.

Se o gol de Amaral já era algo extraordinário, imagine um gol em que Antônio Carlos saiu driblando, sofreu falta dentro da área e Mancuso cobrou o pênalti para marcar o 4 a 1.

Neste momento, Palmeiras e Grêmio perceberam duas coisas: que só faltavam dois gols para a virada e que o jogo ainda teria pelo menos 20 minutos até o apito final.

O Palmeiras aumentou a carga de pressão, o Grêmio lavou o rosto e tentou acordar e amarrar o jogo no meio de campo para segurar o resultado e a classificação.

Aos 39 minutos, Cafu deu todas as esperanças possíveis aos presentes no Palestra.

Em chute forte de fora da área o lateral marcou o quinto gol do Palmeiras e deixou o Alviverde a apenas um gol da mítica virada.

O Grêmio copeiro dirigido por Luiz Felipe Scolari passou todos os cadeados e ferrolhos imagináveis e acabou com o jogo muito antes do apito final.

Nos últimos 7 minutos (2 de acréscimos) o Tricolor Gaúcho evitou o jogo e assim conquistou a classificação e frustrou a virada palmeirense.

Nos próximos dias teremos uma overdose de embates entre Palmeiras e Grêmio.

A começar pelo próximo domingo em que os times se enfrentam pelo Brasileirão, seguindo pelos jogos da Libertadores que vão colocar frente a frente dois favoritos ao título novamente como foi há 24 anos.

O torcedor palmeirense que esperou o sexto gol foi embora com o grito de gol entalado na garganta, sensação que Marcus Vinicius Almeida tão bem descreveu em seu texto “O gol que nunca saiu” que bem descreve a noite do torcedor palmeirense naquela “quase maior virada da história”.

Enquanto o Palmeiras viu seu projeto Libertadores adiado por quatro anos e só venceu o título continental em 1999, o Grêmio saiu fortalecido daquele confronto espetacular e acabou a temporada como campeão da América.

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