sexta-feira, agosto 09, 2019

"Justiça Seja Feita"... o inesperado entusiasmo de João Havelange para com o futebol feminino.

Imagem: Autor Desconhecido

“Justiça Seja Feita”

Sobre O Futebol Feminino

Por Laurete Godoy*

Texto pinçado do Blog sobre o Movimento Olímpico de Alberto Murray

Tenho, ao longo dos anos, assistido à evolução da prática do futebol feminino ao redor do mundo.

Estádios lotados, chutes portentosos, dribles e jogadas sensacionais.

Diante dessa evidência volto no tempo e hoje pensei em dois acontecimentos, que merecem ser lembrados.

Na década de 1980, envolvida e comprometida com o esporte, eu participava de eventos promovidos, especialmente, pelo Panathlon Club de São Paulo, que primavam pela excelência, graças à competência e entusiasmo do querido e saudoso professor Henrique Nicolini, fundador, alma e coração da entidade por várias décadas.

Em face da sua amizade com o doutor João Havelange, este prestigiava sempre que possível, as solenidades panathléticas paulistas.

Por isso, algumas vezes tive oportunidade de estar com o antigo nadador brasileiro que, eleito para a presidência da FIFA em 1974, nessa condição permaneceu por vinte e quatro anos.

Em um desses encontros, sabendo do incentivo que ele estava dando à prática do futebol para mulheres e planejando, inclusive, criar um Campeonato Mundial de Futebol Feminino, atrevi-me a questionar:

- “Doutor Havelange, por favor! Futebol para as mulheres? O senhor não acha que será violento demais? Pelo tamanho do campo, pelo tempo de jogo, peso da bola e características da modalidade? Acredito que assim será brutal e impraticável para as mulheres! Desculpe, mas não creio que dará certo.”.        

Ao que ele respondeu:

- “Você está redondamente enganada. De início poderá ser lenta a aceitação, mas, com o passar do tempo, verá que as meninas serão um verdadeiro sucesso. Elas jogarão tão bem quanto os homens. Pode acreditar em mim.”.

Confesso que, apesar do entusiasmo do ilustre presidente, duvidei, achei que a ideia era inviável e seria um tiro na água.

Doutor Havelange continuou investindo em sua certeza, o tempo foi passando e em 7 de julho de 2019 foi realizada a final da oitava edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, considerada “copa das copas”, pela impactante audiência, tendo o público lotado o Parc Olympique Lyonnais, em Lyon, para assistir à disputa do título entre as equipes da Holanda e Estados Unidos.

As norte-americanas venceram a partida por 2 x 0 e conquistaram o título pela quarta vez: 1991, 1999, 2015 e 2019.

O segundo ponto que me impressionou em tudo isso, foi ver a equipe feminina dos Estados Unidos tornar-se Tetracampeã de Futebol.

Volto no tempo e chego ao início da década de 1970, época em que os norte-americanos mal conheciam o Futebol e não se interessavam por ele.

Porém, no dia 15 de junho de 1975, o New York Cosmos apresentou ao público um novo jogador: o brasileiro Edson Arantes do Nascimento.

Dez milhões de espectadores assistiram pela CBS, a partida de estreia do Pelé, realizada no Estádio Downing em Nova York, o que representou, na época, um recorde para jogos de Futebol.

A partir daí, o Cosmos ficou famoso internacionalmente, por ser “a equipe de Pelé”.

Foi com Pelé que tudo começou por lá e, no dia 14 de agosto de 1977, ocorreu recorde de público para o Futebol na América do Norte: 77.691 pessoas assistiram, no estádio, o jogo entre o Cosmos de Nova York e a equipe de Fort Lauderdale.

No ano de 1984, durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, o torneio de Futebol superou as mais otimistas perspectivas.

O povo afluiu maciçamente, a frequência aumentou a cada partida e foram quebrados todos os recordes de público registrados até então.
       
Nesse bonito espetáculo esportivo realizado na França, visto por milhões de espectadores do mundo inteiro, fico alegre por pensar que existem dois brasileiros que também merecem receber nossos aplausos.

O Doutor João Havelange, que acreditou e incentivou a prática do Futebol pelas mulheres e Pelé, nosso eterno Rei, que com seu talento, apresentou o futebol aos Estados Unidos e levou os norte-americanos a gostarem tanto do esporte, que sua equipe se tornou Tetracampeã Mundial de Futebol Feminino.

*Laurete Godoy é ex-atleta, professora, estudiosa do Movimento Olímpico, escritora e Panathleta.

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