Imagem: CBF
Opinião: Copa do Nordeste mostra complexidade do futebol brasileiro
por Duda Lopes para o Máquina do Esporte
Rege o bom senso a adequação do calendário brasileiro ao europeu: um
campeonato nacional, uma copa e uma disputa continental, o que já geraria
excessos de jogos.
A profusão de eventos tira atenção dos torcedores, cada vez menos
interessados nos fracos estaduais que, com exceção de São Paulo, geram mais
prejuízos do que ganhos.
Mas aí surge a Copa do Nordeste.
A competição regional surgiu nos anos 1990 e teve altos e baixos ao longo
das últimas décadas, com uma longa pausa nos anos 2000.
Mas, nas últimas edições, tem ganhado força.
Não só entre o público, mas também entre grandes marcas.
E há um porquê óbvio disso: há uma grande identificação dos torcedores com
a disputa.
A Copa do Nordeste representa hoje a oportunidade de equipes com enormes
torcidas se encontrarem, um cenário cada vez mais improvável em uma Série A de
Campeonato Brasileiro cada vez mais desequilibrada.
Ainda longe do ideal, a Copa do Nordeste vem representando uma identidade
da região brasileira dentro do futebol. Com apelo, soma uma média de público
superior a todos os Estaduais do Brasil, com exceção de São Paulo e Rio de
Janeiro.
Em 2019, sem pandemia, o Fortaleza teve média de 22 mil pessoas por
partida.
Premiação mais parruda aos times e ingressos mais acessíveis ao público,
algo proibido pela CBF para o Brasileirão, levam a Copa do Nordeste ao coração
dos fãs.
A “Lampions League”, aos poucos, atrai mais mídia e mais patrocinadores.
O investimento de marcas como a Brahma e a Nivea faz absoluto sentido
para quem quer usar o futebol como plataforma de comunicação ao mercado
nordestino.
A tendência natural é de crescimento nos próximos anos.
Ou seja, como cancelar um evento como esse em prol de um calendário mais
sustentável?
Muito improvável pensar nesse cenário.
Essa é a realidade do futebol brasileiro, com complexidades regionais de
difícil compreensão e ajuste.
As enormes diferenças financeiras e culturais levam a tese do calendário
europeu ao pó.
Do jeito que está, não dá.
Mas a solução exigirá uma elevada dose de criatividade.