Venda do Newcastle envolve política, briga contra pirataria e bilhões de
dólares
Negócio foi aprovado por ingleses somente depois da resolução de uma
disputa entre Catar e Arábia Saudita
Por Erich Beting para o Site Máquina do Esporte
Depois de ter sido proibida pela Premier League há cerca de um ano e
meio, a venda do Newcastle para um fundo de investimento saudita foi finalmente
aprovada.
A permissão para o negócio foi dada pela liga inglesa nesta quinta-feira
(7) e, a partir de agora, o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita
(PIF) passará a ser dono de 100% do clube.
A transação custou aos cofres do fundo cerca de £ 300 milhões (algo em torno
de R$ 2,2 bilhões).
Mas o negócio só foi aprovado depois de uma disputa política entre o
Catar e a Arábia Saudita ter sido sanada no começo da semana.
Na quarta-feira (6), a Arábia Saudita encerrou o banimento do canal
catari BeIn Sports do país.
O veto foi feito em 2017, depois que a BeIn, maior compradora de direitos
de transmissão esportivos para a região do Oriente Médio, acusou o governo
saudita de piratear o sinal de sua transmissão e exibir gratuitamente jogos das
principais competições de futebol no país, entre elas a Premier League e a Copa
do Mundo da FIFA.
A BeIn Sports era o principal canal de esportes por assinatura até então
no território saudita.
Nessa mesma época, os governos do Catar e da Arábia Saudita romperam
relações, o que acirrou a crise política entre ambos, com o esporte sendo
levado ao centro dessa disputa.
Acusado de praticar diversas ações ditatoriais, além de suprimir direitos
básicos às mulheres, o governo saudita passou a usar os eventos esportivos para
“limpar” a imagem do país globalmente.
Por meio do PIF, a Arábia Saudita se tornou um dos principais destinos de
eventos esportivos.
O país pagou milhões para levar para Riad torneios como as Supercopas da
Itália e da Espanha e o Rally Dakar.
Apesar de protestos da comunidade esportiva, o dinheiro falou mais alto
para as entidades.
Até mesmo a Fórmula 1 assinou um acordo com os sauditas e realizará, já
este ano, um Grande Prêmio no país.
O futebol inglês, porém, era um reduto “intocado”.
O motivo, claro, também era financeiro. Dona do maior contrato
internacional de direitos de transmissão da Premier League, a BeIn Sports
obrigou a liga inglesa a banir qualquer interferência do país rival na
competição.
Tanto que, em abril de 2020, a venda do Newcastle foi proibida.
O caso gerou revolta no clube, que se colocou contra a Premier League.
Em novembro, o Newcastle decidiu ir à Justiça contra a liga, acusando-a
de prejudicá-lo ao vetar a aquisição pelo fundo saudita.
Depois, em dezembro, o clube foi o único a se opor ao novo contrato da
liga com a BeIn para o mercado do Oriente Médio.
Há algumas semanas, porém, o negócio voltou a esquentar, depois que o
príncipe árabe Mohammed bin Salman se reuniu com o emir catari Tamim bin Hamad
al-Thani.
O encontro começou a selar a paz entre os dois países, começando pelo
esporte.
Depois de reintegrar o sinal da BeIn Sports em seu território, a Arábia
Saudita recebeu o sinal verde do Catar para investir no Newcastle.
Tanto que a BeIn foi consultada e deu aval para a Premier League permitir
a negociação.
Agora, o PIF passará a ser o dono do clube.
Com isso, o time se torna um dos maiores candidatos a ser o novo rico do
futebol europeu.
Afinal, a fortuna do príncipe Mohammed bin Salman é avaliada em cerca de
US$ 450 bilhões, o que faz dele a pessoa mais rica a ser dona de um clube de
futebol no mundo, superando com folga os “concorrentes” donos do
Manchester City e do Paris Saint-Germain.
O negócio fará com que os sauditas passem a tomar conta do clube.
Yasir Al-Rumayyan, representante do Fundo de Investimento Público da
Arábia Saudita, atuará como presidente estatutário da equipe.
Já Amanda Staveley (foto), presidente-executiva da PCP Capital Partners (empresa
gestora do fundo de investimentos), terá um assento no conselho.
Jamie Reuben, da RB Sports and Media (empresa investidora do fundo), será
um dos diretores da equipe.
“Estamos extremamente orgulhosos de nos tornarmos os novos proprietários
do Newcastle, um dos clubes mais famosos do futebol inglês. Agradecemos aos
torcedores pelo seu apoio leal ao longo dos anos, e estamos entusiasmados por
trabalhar com eles”, disse Yasir Al-Rumayyan, em comunicado.
A compra do Newcastle pelo fundo saudita levou torcedores às ruas para
comemorar.
Com o futebol nivelado dentro de campo pela capacidade de investimento
dos times, o Newcastle havia ficado para trás na história, vendo clubes pouco
tradicionais, como Chelsea e Manchester City, assumirem o protagonismo na
Inglaterra.
O dinheiro saudita conseguiu, agora, romper a barreira que faltava no
esporte para concluir o plano de limpeza de imagem que vem sendo realizado há
alguns anos.