terça-feira, maio 20, 2008

A idéia é ótima e de fácil execução, mas...

No jogo América e Bahia, vimos o Luis Maranhão quase “desaparecer” num dos muitos buracos que “camuflados” infestam o campo de jogo no Machadão.
Pensei em escrever algo a respeito, mas como sei que criticar a SEL pouco ou nada vai adiantar, resolvi publicar o artigo de Márcio R Castro, publicado no Blog do Torero (HTTP://.blogdotorero.blog.uol.com.br).
Vale a pena ler...



Os gramados do nosso futebol: soluções (e tristes risadas).

por MÁRCIO R. CASTRO

Ao término do primeiro match disputado em terras brasileiras, os poucos curiosos que acompanharam a peleja correram em bloco em direção à estrela da tarde, Charles Miller, um rapazote de 20 anos. Diversos aspectos do jogo foram explorados até que Mr. Miller desse ênfase a um em particular: “o prélio foi mesmo empolgante, mas as condições do terreno...”.
Mais de cem anos se passaram, muita coisa mudou. Não as condições dos gramados pelo Brasil. Continuam lastimáveis, por todos os cantos do país.
Apesar de o cenário ser usado demagogicamente por dirigentes, técnicos e jogadores, na tentativa de atenuar maus resultados, não há como negar a situação crítica em que nos encontramos. Apenas recentemente alguns clubes vêm se prontificando a reformar os gramados de seus estádios. Novas arenas e alguns campos administrados pelo poder público também escapam dessa conta, mas o resultado continua deprimente.
Parte da responsabilidade é dos próprios clubes, geralmente administrados de forma amadora, controlados ad infinitum por clãs políticos e usados por seus dirigentes para interesses pessoais. Porém, devemos lembrar que a maioria dos clubes apenas luta para se manter, muito distante das possibilidades de arrecadação das grandes equipes (ainda que os “grandes” não as aproveitem tão bem). Portanto, existe também componente econômico nessa equação.
Desse modo, sendo a má qualidade dos gramados brasileiros um problema generalizado, com os clubes vivendo em constante dificuldade financeira e numa cultura autodestrutiva, não caberia uma participação ativa da CBF em busca de melhorias?
Sem dúvida que sim. E qual é o plano dos nossos cartolas? Pois é, nem adianta tentar se lembrar. Em tese, CBF e Federações deveriam ser as primeiras a se preocupar com a boa saúde do esporte, com melhores condições para os atletas, com o respeito aos torcedores. Eu sei, eu sei, também posso ouvir as risadas.
E o pior é que mesmo havendo possibilidade de vantagens comerciais (único momento em que os olhinhos de nossos dirigentes brilham de verdade), nada acontece. Afinal, gramados em boas condições potencializam o espetáculo, o que atrai torcedores e investimento. Mas essa me parece ser uma perspectiva muito longínqua para causar sequer um bocejo na cartolagem.
Não fosse o total desinteresse, uma ação efetiva não seria nada utópica. Sob a liderança da CBF, cada federação criaria uma “Comissão de Gramados”, força-tarefa formada por engenheiros agrônomos, técnicos em equipamentos e outros profissionais especializados. Essa equipe elaboraria um manual de cuidados básicos, com orientações quanto à irrigação, corte manutenção pós-jogo etc. O manual seria disponibilizado a todos os clubes, mesmo os amadores.
Periodicamente, a comissão realizaria visitas técnicas a todos os estádios que abrigam jogos das principais divisões estaduais. A partir dos diagnósticos, os reparos seriam iniciados, primeiramente com a comissão trabalhando diretamente no local e na seqüência pelos funcionários responsáveis pelos gramados, devidamente orientados.
Por se tratar de um projeto universalista, as reformas não contariam com intervenções mais dispendiosas, como sistema de irrigação eletrônica. Nesse momento, a preocupação é dar boas condições a um número elevado de campos, não alcançar excelência em poucos gramados.
Em dois anos, no máximo, a comissão faria uma avaliação final dos campos reformados. No caso de algum gramado não apresentar as condições esperadas, jogos profissionais seriam vetados nessas praças até a finalização dos ajustes. Depois desse primeiro período, caberia aos clubes e proprietários a manutenção dos gramados. No meio e no fim de cada temporada, novas inspeções seriam realizadas, não se permitindo retrocessos.
Os investimentos do projeto seriam divididos entre clubes, federações e CBF, mas as entidades dirigentes arcariam com parte destacada dos custos. Por se tratar de uma proposta bastante abrangente, é de se esperar que os valores envolvidos não sejam baixos. De onde viria a verba necessária?
Principalmente da CBF, que mantém várias fontes de recursos. A entidade tem despesas, obviamente, mas a relação custo/receita é muito positiva, o que não é o caso dos clubes. Em menor escala, as Federações também têm receitas suficientes para custear parte do projeto. Além disso, o programa pode ser dividido em etapas, estabelecendo-se prioridades. Definitivamente, falta de recursos não inviabilizaria a idéia.
É praticamente impossível que transcorra sem percalços um projeto dessa magnitude, revisões de cronograma e adaptações devem mesmo ocorrer. O essencial é não se perder de vista o resultado esperado: gramados em condições adequadas por todo o Brasil, reduzindo drasticamente um problema que assola nosso futebol desde sempre. Só depende de alguma organização, competência e, primordialmente, boa vontade por parte dos nossos cartolas. Eu sei, eu sei, também posso ouvir as risadas.

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