sábado, julho 04, 2009

Para consertar é preciso coragem, para "quebrar" basta não saber usar...

Texto pinçado do blog do Juca Kfouri e que vale a pena ler e se possível, refletir posteriormente...


Sobre heróis e vilões do nosso futebol




Por EDUARDO TEGA*


“… Meu nome é Luiz Antônio e tomei a liberdade de ligar para o senhor. Eu gostaria de participar do processo seletivo para o cargo de técnico da equipe juvenil do Internacional."


Era inverno e início de semana na fria Porto Alegre.


O termômetro da Avenida Independência alertava para uma noite das mais geladas e o dirigente estava naquela mesma mesa, no mesmo restaurante.


Fernando, o presidente do Internacional, organizava a pauta da reunião do dia seguinte enquanto aguardava o jantar, que mais era sinônimo de trabalho-fora-do-expediente do que de refeição, propriamente dito.


Muitas frentes estavam se estruturando e um novo clube parecia nascer naquele gigante da Beira-Rio. Em verdade, as críticas também cresciam nas mesmas proporções e muitos eram os assuntos que circulavam nos programas de TV.


Onde já se viu entrevistar técnico de futebol?


Investir em centro de informação e inteligência (Intercenter) pra quê?


Universidade corporativa, então?


Nós precisamos de jogadores e não de alunos!


O Inter irá cair sem nossos principais jogadores!


Socorro!


Fernando não se continha em felicidade com o pagamento de boa parte das dívidas, conseguido através da venda de Fábio Rockembach ao Barcelona da Espanha.


Os investimentos futuros estariam voltados ao crescimento sustentado do clube, através de fatores importantes, como a capacitação de profissionais, busca equilibrada de receita e foco no processo de desenvolvimento dos atletas, buscando valorizar cada vez mais o produto final.


Tinha uma oportunidade única em tentar mudar a história daquela instituição de pouco mais de 90 anos e que se via cercada pelas mesmices do nosso futebol: dívidas, salários de atletas incompatíveis com a realidade do país, receita concentrada nos direitos televisivos, ausência de um planejamento de longo prazo, ambiente contaminado por empresários de atletas sanguessugas e por aí vai.


Um projeto audacioso que estava sendo conduzido por um engenheiro de formação, homem sério, de gênio forte e pulso firme, capaz de olhar seus atletas e colaboradores nos olhos, dar apoio e transmitir segurança de que esse era o caminho.


Era uma das tarefas mais difíceis de toda a sua vida.


Colorado e apaixonado pelo Inter desde guri, havia planejado se tornar presidente de seu clube do coração oito anos antes.


Junto de seu coordenador técnico, homem de confiança e co-responsável na reestruturação do clube, enfrentou toda uma nação colorada de frente, ao anunciar que uma transformação estava por vir. Jogadores custosos seriam dispensados e outros substituídos, dando lugar a atletas pouco conhecidos, alguns deles já formados no próprio clube.


E o mais fantástico, e talvez, mais chocante para os gaúchos colorados: divulgaram uma previsão que o grande Inter de Porto Alegre poderia voltar a sonhar com um título de expressão somente em 4 ou 5 anos a partir das mudanças.


Estávamos no ano de 2001.


Em determinado momento daquela noite, toca o telefone do dirigente:


- Muito boa noite. É o presidente Fernando?


- Boa noite. Sim, quem é? – responde o dirigente.


- Meu nome é Luiz Antônio e tomei a liberdade de ligar para o senhor. Eu gostaria de participar do processo seletivo para o cargo de técnico da equipe juvenil do Internacional. O senhor poderia me auxiliar em como fazê-lo?


- Pois não, Luiz. Vou lhe passar os dados do nosso responsável e peço que entre em contato ainda nesta semana, tudo bem? – interagiu o presidente.


- Muito obrigado, Sr. Fernando. Farei este contato o mais breve possível. Agradeço a sua atenção e lhe desejo uma boa noite. – despediu-se Luiz Antonio.


- Boa noite e boa sorte! Será um prazer encontrá-lo por lá. – agradeceu o presidente.


Luiz Antonio é Luiz Antonio Wenker Menezes, o Mano Menezes.


Um dos principais técnicos e conhecedores da gestão de campo (e de gente!) no futebol da atualidade.


E o presidente Fernando, não é o mesmo que saiu na foto do título mundial do Inter.


Nem tampouco é o que passou vergonha há alguns dias com declarações típicas de dirigentes que tentam se passar por heróis.


Seu nome é Fernando Miranda.


*Eduardo Tega é colaborador do


www.universidadedofutebol.com.br

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