Futebol, a mais completa máquina
de lavar dinheiro.
Por André Munhoz Pinto
Crimes financeiros através do
esporte não são novidades.
Entretanto,
há pouquíssimos estudos sobre o assunto publicados mundialmente.
Um deles (e
talvez o mais completo até hoje) é o “Money Laundering through the Football
Sector” (ou em tradução livre: Lavagem de dinheiro através do setor
futebolístico), publicado em 2009 pela FATF (Financial Action Task Force).
De acordo com este relatório,
futebol é o esporte mais propício à lavagem de dinheiro e evasão divisas no
mundo, devido a sua grande popularidade e a alta soma de dinheiro que é
movimentada entre seus diversos “atores” (clubes, jogadores, agentes, eventos,
patrocinadores, mídia, empresas privadas e públicas, etc).
O estudo aponta para três motivos
que tornam o futebol um ambiente perfeito para crimes financeiros:
1) Estrutura de gerenciamento:
O mercado é muito fácil de ser
penetrado pois além de ser muito vasto, com ramificações em todo o mundo,
inclusive em paraísos fiscais, é em sua maioria gerenciado por amadores ou
pessoas vindas de diferentes áreas de negócios.
2) Complexidade financeira:
O relatório da FATF diz que as
transferências de jogadores entre países têm “caráter irracional” já que
atletas são propositalmente supervalorizados, inflacionando a balança comercial
dos times. Diferente do que ocorre em outros negócios, não existe no futebol
uma tabela de preços específica para controlar os gastos e os ganhos dos
clubes, os quais vivem em constante débito financeiro.
3) Cultural:
De acordo com a FATF esta é uma
vulnerabilidade que dificilmente é vista fora do futebol, já que é uma das
poucas áreas de negócios em que o criminoso melhora também seu “status social”.
Tanto jogadores quanto dirigentes, agentes e empresas investem no esporte para
ganhar respeito da população e de grandes empresários e políticos, elevando-os
a um nível de “herói” e/ou socialite que dificilmente outra atividade comercial
pode propiciar.
Motivos
A lavagem de dinheiro no futebol
ocorre por motivos que vão muito além de objetivos financeiros, fazendo com que
dirigentes se esforcem a trabalhar para que a imagem do esporte não seja
denegrida, pois isso pode custar a perda de patrocinadores que querem ter seus
investimentos relacionados às “boas práticas” do futebol.
Por outro lado, há um motivo bem
simples do porquê de muitos clubes continuarem a existir, embora trabalhem
constantemente no “vermelho”: justificar
resgates financeiros.
A partir do momento em que um clube apresenta altos
débitos, o mesmo é obrigado a receber investimentos a qualquer custo, não se
preocupando com a verdadeira fonte do dinheiro investido, o que facilita a
entrada de criminosos no setor.
E esta é uma prática que não se
limita somente ao Brasil.
De acordo com o relatório anual da Deloitte sobre o
mercado do futebol para a temporada 2011/2012 da Premier League, na Inglaterra,
somente oito clubes do total de 20 na competição conseguiram atingir lucro após
o fim do campeonato, embora a Premier League tenha atingido uma receita de 2,8
bilhões de Libras na temporada e um balanço financeiro positivo de 4 milhões de
Libras.
A FIFA tem apresentado várias
propostas para combater crimes financeiros no futebol, mas a realidade é que
diante da magnitude do esporte e de uma fragilizada estrutura tanto comercial
quanto empresarial, dificilmente o mercado da bola deixará de ser uma
verdadeira máquina de lavar dinheiro sujo.
O autor
André Munhóz Pinto, que assina
este artigo, formou-se pela Universidade Metodista de São Paulo e atuou no
Brasil como repórter da rádio Eldorado (hoje rádio Estadão). Também foi editor-chefe
das revistas Autosom & Tuning, HotMotors e GrandPrix, todas no setor
automotivo. De 2007 à 2009, André trabalhou como jornalista esportivo pela
rádio SBS na Austrália, e há quatro anos atua na área de comunicação
corporativa na Europa, onde mora na cidade de Praga, na República Tcheca.
Fonte: Blog do José Cruz.
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