O zagueiro Paulo André, hoje, na
China, um dos líderes do Bom Senso FC, respondeu por escrito às perguntas do
repórter Cosme Rimoli, que as publicou em seu blog, aqui reproduzidas:
- Você era o grande líder do Bom
Senso no país. Quem melhor se expressava. Teve proposta para ir jogar na
Itália, não foi. Depois acerta com a China, logo depois da invasão de vândalos
no Corinthians. Tudo ficou solto e parecendo represália sua pela maneira com
que o futebol é conduzido no seu ex-clube, no Brasil…
Eu já havia recebido duas ofertas
da Europa e estava pesando os prós e os contras desde dezembro. A paixão pelo
Corinthians, a minha história no clube, a qualidade de vida que eu tinha em São
Paulo e a luta pelo Bom Senso me faziam ter a certeza de que não seria 50 mil a
mais ou 50 mil a menos que me fariam largar tudo e ir embora para outro país.
No dia 10 de janeiro entrei na sala do Mano Menezes e expus com transparência o
que estava acontecendo. Eu estava com 30 anos, havia tido lesões sérias ao
longo da minha carreira e eu precisava de uma posição dele e do clube quanto a
prorrogação do meu contrato. Deixei claro que eu não estava ali para pedir
aumento. Eu queria estender o contrato para ter estabilidade já que os
italianos me ofereciam dois anos e meio de contrato e no Corinthians eu tinha
apenas mais onze meses. A renovação ou a saída representavam, provavelmente,
meu “último bom contrato” e como eu havia terminado 2013 muito bem, era a hora
de fazer isso. Edu Gaspar recebeu meu empresário e pediu uma semana para dar
uma resposta. Por confiar demais, esperei até o dia 31 de janeiro, a janela de transferências
para a Europa se fechou e consequentemente acabei perdendo o negócio. Então
quando surgiu a proposta da China, estava muito claro para mim o que eu deveria
fazer. Fui ao clube e pedi para ser liberado. O pior cego é aquele que não ver.
Simples assim.
- Que sentimento domina a sua
alma ao saber que só três pessoas foram detidas entre as quase 200 que
invadiram o CT do Corinthians? E elas acabam de ser liberadas, com o juiz
garantindo que elas só queriam mostrar seu amor ao clube? Sinceramente…
É a porra do Brasil, como diria
Renato Russo. A declaração do juiz foi desastrosa, ele não tem ideia do que
passamos naquele fatídico dia. Ele está incentivando novas ações como essa. É
uma vergonha. A impunidade é o grande mal do nosso país. Essa semana o
presidente do Comercial de Ribeirão Preto deu entrevista dizendo que não pagaria
seus atletas, seu segurança ameaçou os jogadores com uma arma e nada vai
acontecer. Precisa de mais alguma confissão para o cara ser banido do futebol?
E ainda veremos mais 3 ou 4 casos de ameaças e agressão a atletas de futebol no
Brasil esse ano. Pode escrever. Até o dia em que alguém morrer. Daí aparece um
promotor/justiceiro para cuidar do caso. O Brasil é o país do deixa para depois
que a gente resolve. Lembre-se de uma coisa: todos os anos quatro times cairão,
outros tantos irão jogar muito abaixo das expectativas e apenas um será
campeão. Só não assino um papel em branco com essa informação porque quem
organiza o campeonato é a CBF e nunca se sabe quantos clubes cairão de verdade.
- Por que os treinadores de
grandes times e mesmo o Felipão não aderem ao calendário apresentado pelo Bom
Senso?
Os treinadores de grandes times
aderiram ao Bom Senso. Inclusive participaram do vídeo que o movimento produziu
no início do ano. Muricy Ramalho, Gilson Kleina, Oswaldo de Oliveira, Vagner
Mancini, Renato Gaúcho, Tite e muitos outros apoiaram o movimento publicamente.
E agora temos o apoio da Federação dos Treinados e da Associação dos Executivos
de futebol. Ou seja, não é possível que esse tripé que vivencia diariamente o
futebol esteja falando besteira e apoiando o lado errado. Eles, historicamente,
nunca entraram nesse tipo de discussão e sabemos que não entrariam se não
tivessem certeza do que estão defendendo. Mas CBF e as Federações não dão a
mínima para isso.
- Na proposta apresentada pelo
Bom Senso, com até Série E, haverá milhares de jogos entre equipes muito
pequenas. Mas que não despertam o menor interesse. Com estádios vazios, como os
clubes pagarão esses 12 mil jogadores?
Cosme, o Bom Senso está
preparando essa resposta para dar de forma oficial. Então não vou adiantar nada
aqui, tudo bem?
- No começo muita gente
considerava o BS um movimento elitista. Mas os clubes grandes não são os
grandes massacrados no calendário brasileiro nas últimas décadas?
Todos os clubes tem sido
massacrados. Uns porque jogam demais e outros porque jogam de menos. Só algumas
poucas pessoas continuam ganhando com esse caos ao longo de todo esse tempo. O
que não entendo é porque os clubes tem tanto medo de retaliação. Parece que
estão se posicionando contra a máfia nos seus tempos áureos. Quando os clubes
entenderem que vendem o mesmo produto e que são aliados fora de campo, veremos
uma luz no fim do túnel. Não há Grêmio sem Inter ou Inter sem Grêmio. Não há
Atlético sem Coritiba ou Coritiba sem Atlético. E assim por diante…
- Há como fazer um calendário
decente sem afetar o desejo da televisão? Seja a Globo ou quem for a dona dos
direitos de transmissão não irá pensar primeiro na sua grade de programação?
Mas essa é uma questão clara. A
Globo está no negócio para ganhar dinheiro. Ela não quer saber se os jogadores
recebem em dia, se a qualidade está boa ou poderia ser melhorada, muito menos
se os estádios estão cheios. E o pior é que ela está no direito dela. Quanto
mais endividados e dependentes forem os clubes, menos ela pagará pelo
campeonato e mais mandará em tudo. O que eu não entendo é a CBF não se
preocupar com tudo que envolve o futebol brasileiro. Desde a qualidade dos
gramados, a iluminação dos estádios, as instalações da imprensa, a segurança
dos torcedores, o horário de jogos, a super dependência de seus filiados aos
direitos de transmissão da TV, o adiantamento descabido desses direitos, a
falta do pagamento aos atletas, a falta de pagamento dos impostos ao governo, a
capacitação de gestores e treinadores que ditarão os rumos do nosso futebol, a
formação de novos atletas à moda brasileira, etc… Ela diz não ter nada a ver
com tudo isso. Tem que ficar claro que a CBF tem uma responsabilidade gerencial
e social sobre o futebol que é estatutária, ela não pode se fazer de simples
intermediária e se isentar de mexer nas feridas ou de desenvolver soluções para
os nossos problemas. Até porque o resultado de tudo isso é o afastamento de
pessoas e empresas sérias do meio do futebol e a desvalorização do produto
final que é razão da existência da própria entidade. Mas como a Seleção vai
bem, e vende patrocínio a torto e a direito, que se danem os outros. Quanto ao
calendário, não existe um ideal mas há muitos que são melhores do que o atual e
dá pra trabalhar com a TV num modelo ganha-ganha. Basta vontade política para
tal.
- Adequar o calendário brasileiro
ao europeu não seria muito melhor aos clubes grandes?
Sem dúvida nenhuma. Essa é uma
opinião pessoal minha. Para fortalecer o futebol brasileiro, aumentar o intercâmbio
de experiências e a visibilidade dos nossos clubes lá fora, é necessário
adequar o nosso calendário. O primeiro problema é que mexer nesse vespeiro é ir
diretamente para o choque com a TV GLOBO. O Marcelo Campos Pinto diz que
dezembro e janeiro a audiência do futebol é muito baixa e isso ocasionaria uma
redução das cotas dos anunciantes. Consequentemente o direito de transmissão
pago aos clubes seria menor. É assim que se emperra a máquina. Os clubes não
querem menos dinheiro no curto prazo e então ninguém se mexe a partir dessa
primeira questão. Isso é verdade? Há números que comprovam isso? O que explica
o sucesso da Premier Ligue? E o segundo grande problema é que teria que haver
uma completa mudança nas datas da Comenbol já que historicamente as datas da Copa
Libertadores avançam até julho, enquanto na Europa as competições se encerram
no final de maio. A Comenbol é outra parada dura. Teríamos que convencer a CBF
a peitar a Globo e a Comenbol de uma só vez. Estudamos isso incansavelmente e
preferimos propor, devido a urgência da necessidade, um calendário customizado,
com pouquíssimas alterações nas principais competições e que pudesse ser
aplicado ou implementado apenas com a decisão da CBF e dos clubes brasileiros,
sem atrapalhar a TV Globo.
- As Copas Estaduais propostas
pelo Bom Senso não estão sendo levadas em consideração pelos presidentes de
federações. Eles não abrem mão da base que os possibilita ficar no poder: os
clubes pequenos. E agora?
Já passou da hora dos clubes
pequenos se rebelarem. Até quando vão aguentar isso que lhes é oferecido?
Conversei com vários presidentes, nenhum deles está feliz. Mas aí você vê que
os presidentes das federações se mantém no cargo por aclamação. Alguma coisa
está errada, não? Os clubes juntos tem muita força mas a desunião deles é que
sustenta o poder das federações. Enquanto cinco ou seis aceitam o risco da
mudança, 20 ou 30 encostam nas federações para conseguir vantagens, empréstimos
etc… E vivem essa vida modorrenta de jogar três meses por ano. É um modelo
fadado ao fracasso, infelizmente.
- Os jogadores têm medo de optar
pela greve? Vocês não deixaram o trem passar logo depois da invasão ao CT do
Corinthians? Foram sabotados pelos clubes do interior? Os jogadores não tiveram
coragem de enfrentar os dirigentes que os ameaçavam de demissão? Ou dentro do
Corinthians houve atletas que não queriam greve para não ter mais problemas com
torcedores como o Emerson?
Dentre os jogadores do
Corinthians, sustentamos (todos) a paralisação até domingo as 13:30h (o jogo
estava marcado para as 16h) mas o clube não estava com a gente. O diretoria
estava com medo das possíveis punições. Não nos sentimos respaldados e acabamos
cedendo muito mais pelo desespero nos olhos dos amigos da diretoria do que pela
nossa vontade de ir para o jogo. E essa posição da diretoria do Corinthians
após a invasão do CT acabou por não convencer atletas importantes de outros
times de que deveríamos parar. Esses jogadores pediam uma posição mais firme
para que pudessem bancar os riscos de uma greve que se apresentava sem suporte
legal. E sem a adesão dos jogadores de renome, não havia como pedir para que os
atletas do interior parassem também. Há de se lembrar que os atletas do
interior foram extremamente pressionados por seus presidentes (que receberam,
um a um, ligação direta do Sr. Marco Polo Del Nero) e preferiram não colocar em
risco suas carreiras e seus futuros naquele momento. Quem propôs a greve foi o
sindicato dos atletas de São Paulo. O Bom Senso não se pronunciou oficialmente
naquele momento já que havia decidido que não atrapalharia o andamento dos
estaduais pois essa é a única opção de milhares de atletas jogarem, receberem e
aparecerem para os grandes clubes. Mas a meu ver, a greve será a única solução
para pressionar o status quo a buscar soluções no curto prazo.
- O movimento Bom Senso não
buscou o apoio de jogadores jovens e importantes como Neymar, Oscar, Lucas,
Ganso? Ou eles não se interessaram? A principal ‘acusação’ de membros da CBF e
até de gente como Eurico Miranda é que o movimento é de jogadores ricos e em
final de carreira, que só querem atenção perto de largar o futebol e sonham em
ser dirigentes, políticos?
Você deve se lembrar que quando
houve greve na Espanha, há dois anos, quem estava sentado na mesa de negociação
e quem dava as caras na imprensa eram oito dos principais jogadores da seleção
espanhola. Foram eles que tomaram a frente do processo e disseram que não
entrariam em campo em solidariedade aos demais companheiros de outros clubes
que estavam com salários atrasados. Na NBA há alguns anos a greve também foi
comandada pelos seis principais jogadores da liga. Não tenho dúvida de que
apenas os grandes jogadores, com prestigio e história é que podem sustentar uma
posição de confrontação com as entidades. Esse tipo de atleta não será ameaçado
ou retaliado descaradamente. Todos os outros serão, sabemos disso. Quanto aos
jovens, o movimento é democrático, é público. Entra quem quer. Ninguém é
forçado a nada. Quando éramos jovens também não participamos ou não
participávamos das principais decisões porque tínhamos medo de retaliação,
porque estávamos preocupados com a nossa carreira e com as nossas
oportunidades. A geração anterior a nossa era alienada ou desinteressada e não
parou um segundo para pensar nos que vinham depois deles. Alguns estão na TV
hoje, falando abobrinhas como se tivessem feito alguma coisa importante (extra
campo) quando tinham notoriedade e representatividade para tal. Já Neymar,
Lucas e Oscar estão estabilizados financeiramente mas tem uma Copa do Mundo
pela frente e os outros jovens, instáveis economicamente, não discutirão com os
poderosos nem se posicionarão contra eles. É mais do que entendível isso. Mas é
oportunista a CBF e os Euricos dizerem que o movimento é de velhos que querem
atenção. Parece que estão falando de si próprios. É uma tentativa ridícula de
ludibriar o público para mascarar sua inoperância administrativa e o
desrespeito para com as estrelas que produzem, com suor e trabalho, o futebol
brasileiro. Freud explica. Só se tem medo do que há dentro de você. Como eles
têm muitos interesses nos cargos políticos do futebol, eles acreditam que todas
as outras pessoas também devam ter. Então será impossível explicar-lhes ou
faze-los entender que um bando de atletas consagrados representando mais de mil
jogadores resolveu contribuir com o aperfeiçoamento do esporte no país, por
paixão e vontade de deixar um caminho mais saudável para quem está por vir.
Diferentemente dos atletas, esses personagens não são os produtores mas sim, os
exploradores do futebol brasileiro. E exatamente por esse motivo, não dá pra
entender como a CBF e as Federações (que vivem do espetáculo produzido pelos
atletas) desrespeitam os jogadores e não dão a mínima para suas opiniões e
experiências. Estamos falando do Dida, Alex, Rogério Ceni, Juninho
Pernambucano, Seedorf, Juan, D’Alessandro, Gilberto Silva, Fernando Prass,
Barcos, Lucio Flavio, e tantos outros…. Quem são Marin e Marco Polo? Quem é
Novelletto para falar uma asneira por semana? Tiveram sucesso em suas
administrações? O interior de São Paulo está jogado às traças. O interior do
Rio Grande do Sul nem se fala. É esse modelo atual que eles defendem? Me parece
que sim porque estão todos muito satisfeitos. São verdadeiros dinossauros que
não fazem ideia do que acontece no futebol atual mas que estão dispostos a tudo
para continuar a mamar nas tetas da vaca. E o povo, revoltado com a sua própria
desgraça diária em um país que não oferece o mínimo necessário, ao invés de
perceber a força e a importância desse movimento (como exemplo) para a
sociedade que precisa reclamar coisas mais importantes (evidentemente), trata
de gastar energia para discriminar alguns atletas (2% do total) que recebem
salários privilegiados. Só que por ignorância esse mesmo povo aceita
passivamente a exploração e a má gestão do produto que ele ama e consome. Isso
sim é uma coisa de maluco para mim!
- Sua ida à China enfraqueceu o
movimento. Alex está muito mais contido do que no início do movimento. Falta
carisma ao Dida e ao Fernando Prass. Rogério Ceni mais desabafa do que propõe.
Você ficou dividido entre o sucesso financeiro da transferência ao Oriente e
sua importância no futuro do futebol brasileiro?
Acho que expliquei isso na
primeira resposta.
- No Corinthians eu havia
descoberto um desconforto à sua permanência. Mano não queria que você fizesse o
time perder o foco do futebol. Mario Gobbi, rompido com Andrés, queria ficar
mais perto de Marin. A sua presença atrapalhava. Você percebeu o cenário?
O que percebi é que eles não
propuseram uma prorrogação do contrato. Quais os motivos para isso eu não sei.
Quanto ao Mano, ele havia conversado comigo sobre as entrevistas. Eu havia dito
que tomaria cuidado para não atrapalhar o grupo mas que o meu caminho de
contestação e de exposição não tinha mais volta. Eu durmo tranquilo todos os
dias porque não deixei, em momento nenhum, de seguir a mesma linha de conduta
de quando iniciei minhas críticas ao Ricardo Teixeira lá atrás.
- Você ficará dois anos na China.
Terá 32 anos, quer voltar para jogar no Brasil ou tentará ser dirigente,
político?
Não sei. Aprendi que fazer planos
é uma perda de tempo irrecuperável para a nossa vida. Nunca acertamos o que
será de nós.
- Muita gente repetiu que o
Brasil é um país que não abre espaço para jogadores revolucionários, intelectuais.
Foi assim com Afonsinho, Sócrates. Você está sentindo na pele essa situação?
Eu não ouso me comparar a esses
craques da bola e do pensamento. Acho que eles atuaram em um momento muito mais
difícil que o atual e foram extremamente corajosos e inteligentes. Colhem,
merecidamente, os frutos de suas boas atitudes até hoje. Mas não é só no
futebol que o povo não abre espaço. O nosso país é o que é porque falta
educação de qualidade ao povo. Quem sabe se tivermos mais exemplos de pessoas
com notoriedade e representatividade (como vem fazendo os principais jogadores
do país com o movimento do Bom Senso) consigamos disseminar a importância de se
participar de ações que visam a discussão e o aprimoramento de tudo que não
funciona bem no Brasil. Uma coisa é certa, não adianta ficar em casa com a
bunda na cadeira reclamando que a vida é uma porcaria.
- Você tem consciência que sua
saída do Brasil frustrou muita gente que começava a aderir ao Bom Senso? E por
outro lado proporcionou festas na CBF e o sentimento de alívio em vários
dirigentes? Você era visto como uma ameaça ao sistema.
- As pessoas que aderiram ao Bom
Senso continuam acreditando e contribuindo com o movimento. Elas não estavam lá
por mim mas porque acreditam na causa e nos valores que defendemos. E assim
continuará sendo.
- Qual a sua real análise da Copa
no Brasil? Qual o legado que ficará para o país? Para os jogadores? O que
mudará se o Brasil vencer ou perder o Mundial? Muita gente acredita que será o
caos ao futebol interno uma derrota. Concorda?
O futebol brasileiro está
quebrado. O mercado foi inflacionado desde o último contrato que a Globo pagou
pelos direitos de TV. Os clubes gastaram muito mais do que podiam e agora estão
adiantando as receitas de 2015 e 2016. A maioria está com salários ou com os
direitos de imagem atrasados. A Copa do mundo deixará estádios lindos que foram
construídos com muito dinheiro público. A manutenção desses estádios é uma incógnita.
Os gastos foram absurdos e abusivos, nenhuma cidade sede entregará o que
prometeu. Os legados sociais e esportivos são mínimos para a sociedade. Ou
seja, não muda nada. Deixamos o bonde da história passar. Quanto ao resultado
da Seleção, torço pelos jogadores. Eles receberão uma pressão absurda. Espero
que tenham discernimento e suportem bem essa cobrança para que consigam fazer
grandes jogos. Há muita coisa em jogo, não se trata só de futebol. O que se
repete é que os cavalos de corrida é que terão que carregar toda essa carga no
mês de junho.
- Qual é o país que adota o
melhor calendário para o futebol?
Os países europeus, sem dúvida.
- A participação da imprensa está
sendo favorável ao Bom Senso? Ou muitos não conseguem entender a sua
importância?
A maior parte da imprensa me
parece favorável ao movimento. Que cada um contribua da forma que puder. Todos,
inclusive a imprensa, tem muito a ganhar com a melhora do espetáculo e do
futebol brasileiro.
- Dirigentes afirmam que o BS não
aceita um teto salarial. É justo ou não fixar um teto para os jogadores?
Em primeiro lugar, o Bom Senso
nunca falou sobre este tema com ninguém. O movimento fala sobre jogo limpo
financeiro e calendário. Só. Se o jogo limpo financeiro for implantado, os
novos contratos serão reajustados de acordo com o mercado e sua realidade. Os
jogadores apoiam essa medida. Deu pra entender? Os jogadores sabem que há um
risco de redução dos valores mas preferem receber menos para receber em dia. E
em segundo lugar, e aqui vai a minha opinião, o mercado ou os bons gestores sabem
que há um limite na folha de pagamento que deve ser proporcional a arrecadação
do clube. Se o clube arrecada mais, pode pagar mais. Se o clube arrecada menos,
deve pagar menos. Todo clube tem uma oscilação de receita dependendo do
resultado esportivo do ano anterior, bilheteria, etc… Por isso o valor do
“custo futebol”, dizem os especialistas, não deve passar de 70% da receita
total. Ou seja, o clube oferece o contrato que quiser para o atleta. Posso
pedir um milhão, se ninguém me pagar isso vou ter que reduzir, reduzir, reduzir
até achar um valor justo. Só que tem muito dirigente torcedor que na hora do
desespero faz cagada e depois põe a culpa no atleta. Chegou a hora de melhorar
a política de contratação e de manutenção de elenco. Sou a favor dos contratos
por produção. Isso é feita na Europa há décadas e pouquíssimos clubes fazem no
Brasil. Que cada gestor consiga montar o melhor elenco possível com o dinheiro
que tem. Ah, e outra coisa, jornalistas, empresários e artistas tem teto
salarial? Isso é história pra boi dormir.
- Você está escrevendo um livro
sobre o BS? Seria interessante demais mostrar o quanto é difícil mudar os
paradigmas do futebol neste país.
Não estou escrevendo não. Quem
sabe um dia. Nesse momento meu foco é aprender mandarim, jogar bem, dar suporte
ao Bom Senso e aproveitar a vida na China. Isso toma todo o meu tempo, posso te
garantir.
- Qual o motivo da violência dos
torcedores. O que pensa da atual legislação? Por que tanta impunidade?
Pulei essa.
- O quanto você e sua família sofreram
com sua postura firme de tomar à frente dessa revolução no futebol brasileiro?
Sinceramente, não sofri nada. Fiz
tudo de peito aberto, acreditando piamente no que estava fazendo. Faria tudo de
novo. E minha família diz ter muito orgulho. Nos piores dias os amigos mais
próximos me ligavam, estavam preocupados com toda a exposição e eu lhes dizia:
Estou feliz. Tenho tanta convicção do que estou falando e sei que estou fazendo
o que é certo que durmo feito uma criança a noite. Sabem por que? Porque não
passo um pingo de vontade. Digo o que penso e defendo os meus ideias utilizando
todo o conhecimento e experiência que adquiri aos longo desses 16 anos de
futebol. Vocês sabem o que é isso? Eu lhes perguntava. E eles diziam que eu era
um louco. E por fim eu sempre dizia a mesma coisa – como naquela música que não
lembro o cantor – louco é quem não é feliz. Pensando bem, foi exatamente isso
que o Doutor Sócrates e meus pais me ensinaram.
* A entrevista foi pinçada do blog do Juca Kfouri.
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