O futebol argentino está diante
de uma crise sem precedentes...
Depois de Messi declarar que não
jogaria mais pela seleção do país depois da derrota para o Chile na Copa
América Centenário, agora quem pediu o boné foi Tata Martino, treinador das
seleções principal e olímpica da Argentina.
Para piorar, o pai do atacante
Kun Agüero, declarou que se Messi abandonar o barco, Agüero sai também...
A declaração foi dada a programa
de rádio “Paladar Rojo”, em Buenos Aires.
O jornal espanhol El País
publicou uma ótima matéria sobre o assunto...
Treinador Tata Martino renuncia e
Argentina pode não ter seleção para as Olimpíadas
"Há 50% de chances de que a
Argentina não apresente o time de futebol masculino nos Jogos Olímpicos”, disse
o presidente do Comitê Olímpico do país
Por Carlos E. Cué, para o El
País.
O futebol argentino entrou em
fase de implosão depois da derrota na final da Copa América.
Primeiro, Lionel Messi anunciou
que estava deixando a equipe, o que provocou uma comoção nacional, e agora o
treinador, Tata Martino, que está há menos de dois anos à frente da equipe,
decidiu renunciar, de acordo com um comunicado oficial.
A retirada de Martino ocorre um
mês antes das Olimpíadas no Rio de Janeiro, na qual a seleção era uma das
favoritas, e no meio do caos do futebol argentino, que vive uma batalha
sangrenta pelo poder da AFA, a cúpula desse esporte.
Martino renunciou precisamente
porque não consegue montar uma equipe competitiva para as Olimpíadas por causa
do vazio de poder.
A Argentina tem duas medalhas de
ouro olímpicas (2004 e 2008) nesse esporte.
Na Argentina o futebol é muito
mais do que um esporte.
Está bastante ligado à política e
ao sindicalismo.
A luta pelo controle da AFA entre
dois setores, um liderado pelo principal sindicalista do país, Hugo Moyano, e
outro pelo mais famoso showman, Marcelo Tinelli, levou a uma fratura total.
O Governo de Mauricio Macri, que
também vem do mundo do futebol, tentou controlar este grupo, por enquanto sem
sucesso.
A mídia argentina responsabiliza
os líderes dos clubes locais por esta situação, em plena batalha interna, mas o
Executivo também tem responsabilidade porque falhou em suas tentativas de
controlar esse formidável aparato de poder.
Macri entrou na batalha para
evitar que Moyano, que já controla boa parte do poder sindical, também ficasse
com o futebol.
Desde então, a lua de mel inicial
entre os dois que tinha começado quando o Governo assumiu, acabou, e Macri
enfrenta alguns sindicatos mais guerreiros, mostrando até que ponto o futebol
determina a política.
Todos os caminhos levam ao
futebol na Argentina.
A influência do Governo é notável
porque os clubes, todos completamente endividados, vivem graças à ajuda do
Executivo, que paga cerca de 2 bilhões de pesos por ano (454 milhões de reais)
para poder transmitir os jogos gratuitamente pela televisão pública no programa
“Futebol para todos”, uma invenção do kirchnerismo para tirar o futebol do
Grupo Clarín, o mais importante do país.
O futebol é um ninho de corrupção
e de poder de tal magnitude que é difícil encontrar políticos, especialmente os
locais, que não tenham ligações estreitas com os clubes.
Moyano é presidente do
Independiente, um dos mais importantes.
Tinelli é vice-presidente do San
Lorenzo, o clube do Papa. Macri foi presidente do Boca Juniors, e do seu
sucesso como gestor desse clube veio seu salto para a política.
Aníbal Fernández, ex-braço
direito de Cristina Fernández de Kirchner, é presidente do Quilmes, outro
grande.
Os perigosos barra bravas –
equivalente às torcidas organizadas – dos clubes servem como mercenários para
as batalhas entre diferentes facções políticas e sindicais, e também colam
cartazes, fazem pichações ou pressionam porta a porta para conseguir o voto
quando chegam as eleições.
Nada está separado do futebol e o
naufrágio que levou à renúncia de Martino é um sintoma da situação do país.
Martino renuncia precisamente por
esta batalha dentro da AFA e o vácuo de poder que estava impedindo que o
treinador pudesse montar uma seleção para as Olimpíadas.
Os clubes não querem ceder seus
melhores jogadores para o Rio e a AFA não é capaz de impor nada, por isso
Martino decidiu se render.
“Não tem ninguém na AFA”, repetem
os meios de comunicação argentinos.
Os torcedores começam a reclamar nas redes
sociais que alguém convença Diego Simeone, treinador do Atlético de Madrid, a
voltar ao país para evitar o desastre.
Poucas horas antes da renúncia de
Martino, já chegava um aviso de que as coisas estão chegando a um caos
inimaginável no futebol argentino.
O presidente do Comitê Olímpico
Argentino, Gerardo Werthein, tinha assegurado que neste momento não está claro
se a Argentina poderá levar um time de futebol às Olimpíadas, pela situação de
descontrole na AFA.
Messi já estava descartado dessa
competição antes de anunciar sua renúncia, mas outros jogadores importantes
deveriam participar.
E agora nenhum clube quer
cedê-los.
“De 1 a 10, hoje há 50% de
chances de que a Argentina não apresente o time de futebol masculino nos Jogos
Olímpicos”, disse Werthein à rádio Mitre.
“É um pouco do que acontece com a
AFA. Faz 20 meses que ninguém fala com a gente”, afirmou.
O ciclo de Gerardo Martino na
seleção começou em 3 de setembro de 2014 em Düsseldorf, quando a Argentina
enfrentou a Alemanha, então campeã do mundo.
Aguentou 29 jogos.
O último que dirigiu foi
justamente a dramática final da Copa América em que Messi perdeu um pênalti.
Ninguém tem nenhuma dúvida de que
a renúncia é causada pelo caos na AFA.
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