Imagem: Midriel.com
O ESPAÇO DA MULHER NO JORNALISMO ESPORTIVO
Por Leila De Melo para o site Midriel.com
Ser jornalista esportiva é um
constante quiz, todos os dias você é ‘avaliada’ com perguntas das mais
diversas, para validar sua opinião.
Quando uma mulher aparece em um
ambiente historicamente masculino, tal qual a editoria de esporte, seus pares
lhe recebem com olhares inquisidores, como se aquele não fosse seu lugar.
E sempre surgem as perguntas, “mas já que você sabe de futebol, me
explique a regra do impedimento”, ou ainda, “quantas vezes o Brasil foi campeão da Copa do Mundo vestindo o
uniforme azul?”.
Embora possa soar como
brincadeira, atitudes como essa só denotam o quão machista é essa atmosfera de
trabalho.
A profissional é desvalidada não
pela sua competência, mas sim por seu gênero.
Se um homem comete um erro é
passável, já o reverso não.
“Olha lá, sabe de nada, tinha nem de estar aí!”, é esse tipo de
comentário que se escuta.
Além de enfrentar um percurso
mais longo até conseguir se firmar no mercado do trabalho, a jornalista
esportiva tem de se aplicar ainda mais que o seu colega, para não dar margem
para nenhum tipo de comentário machista, tal qual o supracitado.
A banalização e a objetificação
são diárias.
Enquanto pesquisava para escrever
esse texto joguei as palavras-chave em um site de busca e me deparei com a
seguintes manchetes:
“As 10 jornalistas mais gatas do Mundo do Esporte” e “Revista
inglesa elege as jornalistas esportivas mais sensuais do mundo”.
Ainda que os debates de pautas
igualitárias estejam mais populares que antes, a mídia ainda reforça
estereótipos de mulher como produto de consumo masculino e não como gente.
Hoje a televisão é a mídia que
mais têm mulheres na editoria de esporte, são repórteres, apresentadoras,
produtoras e editoras de vídeo espalhadas em diversas emissoras do país.
Mas, infelizmente algumas colegas
ainda são tratadas como “peças decorativas” ao serem relegadas ao posto de
“garotas das redes sociais”, embelezando a tela e lendo tweets.
Já no impresso e no meio online a
atuação feminina é menor.
Vejo alguns textos aqui e acolá,
mas na maioria das vezes em blogues de ex-atletas que hoje são comentaristas.
Na rádio o esquema funciona de
forma semelhante, as mulheres só têm vez nas transmissões se forem as atletas
entrevistadas ou com muita sorte produtoras dos programas.
Recentemente fui assistir a uma
mesa de debate sobre os novos meios e desafios do jornalismo esportivo,
promovida pelo departamento de comunicação social da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN).
E uma das falas de uma colega
ficou ecoando na minha cabeça: “as
pessoas ainda não estão preparadas para ligar a TV e ver mulheres comentando
esporte”.
Proponho um exercício de reflexão
para o leitor, me cite o nome de cinco comentaristas ou narradoras esportivas.
A ESPN Brasil reserva atualmente
um espaço no seu portal para falar de temas e competições femininas, o ESPNW.
A emissora produz semanalmente o
Olhar espnW, programa desenvolvido e apresentado por mulheres, no entanto,
veiculado apenas para o portal da internet.
Fico na torcida pela longevidade
da produção e que consigam encaixar um horário para que também passe na
televisão.
Aqui em Natal, Rio Grande do
Norte, nós não temos nenhuma mulher comentando ou narrando nos grandes
conglomerados.
Por outro lado, temos na TV
Universitária um programa de esporte desenvolvido somente por mulheres.
Na frente das câmeras são três
mulheres, duas comentaristas e uma apresentadora falando sobre todos os
assuntos, do esporte amador até a rodada do futebol.
De acordo com minhas pesquisas, o
TVU Esporte é o único em seu formato no país.
Por fim, eis minha dica e recado
para àquelas que querem seguir na área.
Como profissional da editoria,
preciso confessar que é necessário um bocado de paixão pelo que se faz, porque
o que não vai faltar é provação.
Mas não abdique do seu sonho por
nenhum motivo que não o seu querer.
Nós sabemos que o futebol é o esporte
mais popular do país, então, invista tempo e dedicação a estudá-lo,
principalmente com um olhar amplo, além das quatro linhas.
Não seja monoesportiva, procure
se inteirar nas diferentes modalidades e competições.
Crie!
A internet oferece uma vastidão
de possibilidades para que você possa produzir conteúdo diferenciados e
personalizado em diferentes plataformas.
E lembre-se, lugar de mulher é
onde ela quiser.
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