Imagem: Autor Desconhecido
Ela já protegeu Obama e hoje é chefe de segurança da NFL.
Conheça Cathy Lanier, a mulher do momento
Tisha Thompson e Michael Sciallo*
Diversão, churrasco, cerveja,
amigos e futebol americano.
A ida a qualquer jogo da NFL é,
com certeza, uma experiência fantástica.
Mas para que somente boas
lembranças sejam levadas pelos torcedores, há uma grande equipe de
especialistas trabalhando para garantir a segurança de todos dentro e fora do estádio.
Quem comanda essa equipe hoje é
uma experiente chefe de segurança, de 49 anos.
Cathy Lynn Lanier é a chefe de
segurança da NFL, cargo pelo qual largou a chefia da polícia de Washington,
depois de 26 anos de carreira policial.
Ela foi a primeira mulher a
comandar um departamento de polícia norte-americano.
É preciso muita personalidade
para ocupar os lugares que ela escolheu, coisa que nunca faltou para Cathy.
Natural de Maryland, cresceu em
um bairro difícil e teve uma vida complicada.
Quando adolescente, deu muito
trabalho para a mãe.
"Minha mãe criou três filhos. Eu fui, provavelmente, a mais
difícil de educar. Teimosa, sabe? Adolescente besta. Cresci em um lugar difícil
e frequentei uma escola barra pesada", revela a chefe de segurança da
NFL em entrevista ao espnW.
Rebelde e revoltada, teve seu
primeiro filho aos 15 anos.
Fato que, provavelmente, apesar
da gravidez acidental, mudou os rumos da sua vida.
"Eu era uma mãe solteira sem o colegial completo. O cérebro de uma
adolescente não funciona como o de uma pessoa normal, como um adulto. Quando
meu filho nasceu, percebi com todo o senso comum que me faltava antes, que toda
a vida dele dependia de mim. Se eu não quisesse para ele a infância que tive,
de morar em um bairro perigoso, ir pra escolas pesadas, eu precisaria terminar
os meus estudos", diz.
E foi o que ela fez.
Estudou e trabalhou em dois
empregos por muito tempo.
O sonho de dar uma vida melhor
para sua criança a moveu pela vida.
Chegou à polícia depois de ler
sobre uma vaga que oferecia reembolso dos estudos e não deixou a oportunidade
escapar.
Fazendo uma matéria por semestre,
ela levaria 25 anos para se formar se não tivesse conseguido esse emprego.
A CARREIRA NA POLÍCIA
O começo foi duro.
Já na primeira semana, enfrentou
uma manifestação grande por má-conduta de uma policial e teve que se virar no
confronto entre polícia e manifestantes, sem nem saber como colocar a máscara
de gás.
Depois da prova de fogo, mais
problemas durante os primeiros anos.
A reputação da delegacia de
Washington não era boa na década de 90, e segundo Cathy, por motivos fortes: o
assédio sexual era algo recorrente e institucionalizado no departamento de
polícia.
"Não era um flerte em ambiente de trabalho. Lá, você trabalhava em
turnos noturnos, trabalha até tarde. Você é a única mulher no prédio. Uma vez
um policial me agarrou fisicamente. Ele era um abusador crônico, sabe? Ele já
tinha assediado muitas outras mulheres. Foi agressivo", lembra.
A personalidade forte, mais uma
vez, entrou em cena. Cathy e uma outra policial decidiram entrar com uma ação
por assédio sexual e aceitaram um acordo de $75,000 para cada.
Ouviram de muita gente que esse
processo acabaria com a carreira das duas na delegacia, mas o que se viu foi
bem diferente.
Além do abusador ser afastado e
depois demitido, a cultura da polícia de Washington mudou drasticamente e se
tornou um lugar um pouco mais acolhedor para as mulheres.
E desde então, sua carreira
decolou.
Com trabalho duro e
reconhecimento, passou pela liderança da unidade de narcóticos e gangues da
cidade, da Unidade de Operações Especiais, que cuidava da parte de ameaça de
bombas, confrontos armados e grandes eventos públicos e depois pela Segurança
Nacional e departamento antiterrorismo, até chegar ao posto de Chefe de Polícia
de Washington.
Tudo isso enquanto estudava e se
especializava com dois mestrados em Segurança Nacional.
Permaneceu no cargo da chefia por
10 anos e derrubou em 23% o nível de criminalidade da capital, até que resolveu
sair do departamento para trabalhar para a NFL, no ano passado.
TERRORISMO E O ESPORTE
Alvo de diversos ataques
terroristas nas últimas décadas, os Estados Unidos tentam se prevenir cada vez
mais, não só de grupos extremistas, mas também de ataques domésticos que
ocorrem com certa frequência dentro do seu território.
Como reúnem milhares de pessoas e
chamam muita atenção da mídia, todo evento esportivo tem potencial para quem
quer espalhar o terror.
A ocorrência de atentados nesses
eventos não é algo novo.
Nos Jogos Olímpicos de 1972 e
1996, tivemos atletas e torcedores mortos.
Na semifinal da Champions League
de 2002, entre Real Madrid x Barcelona, dezenas de feridos.
E nos últimos anos, percebemos
uma retomada do esporte como alvo de grupos terroristas.
As explosões da Maratona de
Boston, do Stade de France e, mais recentemente, do ônibus do Borussia
Dortmund, deixam claro que a segurança não pode mais se dar ao luxo de
falhar.
A CARREIRA NA NFL
Com o planejamento de segurança
das duas posses do Presidente Obama no currículo, ela foi escolhida por Roger
Goodell para proteger os torcedores da NFL durante as partidas.
Com apenas um ano no cargo, já
planejou e coordenou o Super Bowl LI e o Draft 2017, dois dos maiores eventos
da NFL, além de inúmeras partidas de temporada regular e playoffs.
A coordenação do Super Bowl é,
com certeza, a que mais exige atenção.
Os maiores nomes da Segurança
Nacional e da polícia local se unem para garantir um evento tranquilo fora de
campo.
São mais de 40 agências de
segurança, desde o FBI até agências privadas, e a nomeação de Cathy foi
bastante comemorada por todos, apesar de sempre ser a única mulher nas mesas de
reunião.
"Já era hora da NFL contratar algum nome grande entre chefes de
polícia, que conheça o outro lado da moeda. Que saiba os desafios que as polícias
locais enfrentam.", diz o chefe do departamento de polícia de Houston,
Art Acevedo, com quem ela trabalhou durante o Super Bowl.
"Relacionamento é uma parte muito importante no mundo dos
negócios, mas especialmente em planejamento de segurança"- continua
Acevedo - "Se eu tivesse qualquer
problema, eu ligava e ela resolvia. A NFL foi inteligente de trazer alguém que
conhece bem a maioria dos chefes de polícia do país".
Antenada a todo e qualquer ataque
terrorista que ocorre no mundo, Cathy os usa para aprender as diferentes formas
que um terrorista pensa e, assim, consegue bolar planos de prevenção cada vez
mais completos, como por exemplo, camadas de cercas ao redor do estádio para
que nenhum motorista consiga jogar seu carro sobre a multidão, já que esse tipo
de ataque tem se tornado cada vez mais comum.
Além disso, tecnologia de
rastreamento facial, escaneamento de veículos, veto a objetos e diversos outros
métodos são aplicados com rigor.
Além da segurança dos fãs da NFL,
ela também é responsável por investigar qualquer violação de conduta por parte
de jogadores e times, como o caso atual de Ezekiel Elliott e a investigação
sobre violência doméstica que tem provocado uma verdadeira novela entre a
Associação dos Jogadores na justiça comum e a NFL.
Mas perguntada sobre o caso,
Cathy não quis comentar sobre a investigação, apenas sobre a situação toda:
"Eles ficam em um outro patamar, como deveriam mesmo. Então quando
existe má conduta, de qualquer tipo, é um impacto enorme", conta para
o espnW.
RESPEITO EM UM AMBIENTE MASCULINO
Imagem: Autor Desconhecido
Cathy Lanier sabe melhor do que
ninguém que ser mulher em um ambiente dominado por homens é algo desafiador.
Mas ela dá a receita para
conseguir o respeito que hoje ela tem de todos:
"Você não pode deixar as pessoas tirarem vantagem de você. Eu não
deixo ninguém me desrespeitar".
E não é só isso.
Acima do gênero, ou talvez até de
maneira mais intensa por ser mulher, trabalho sério e duro é algo
essencial.
"A chave para mim foi que eu cheguei para trabalhar todo dia e fiz
bem o meu trabalho. Se você é trabalhadora, as pessoas querem trabalhar com
você. Se você não é, elas não querem trabalhar com você. Então, respeito é algo
que se desenvolve desta maneira. As pessoas me respeitam por que veem que eu
venho trabalhar e que eu faço o meu melhor todos os dias", declara.
FAMÍLIA
Toda a carreira de Cathy Lanier
se desenvolveu pelo desejo de dar uma vida melhor para família.
Então, como o filho está?
Muito bem obrigada!
Com mais de 30 anos e já formado,
teve uma vida bem distante da realidade que ela própria enfrentou.
Agora, a preocupação dela é
cuidar da mãe.
"Assim que meu filho foi embora, eu sabia que ia sentir aquele
vazio. Mas minha mãe logo se mudou lá para casa. Eu não trocaria o tempo que
passo cuidando da minha mãe por nada no mundo. Por nada", revela
Cathy, que apensar de trabalhar viajando todo o país, volta para casa toda
semana para poder preparar tudo para sua mãe.
Ela sempre prepara e congela as
refeições para que sua mãe possa comer durante o tempo que ela não está. Mesmo
quando o trabalho é fora do país, como nos jogos em Londres, ela se desdobra
para voltar para casa.
Da última vez que foi para a
Inglaterra, passou 6 dias por lá, voltou para casa nos dois dias de folga para
ver a mãe, voou novamente para Londres por seis dias e retornou para casa logo
depois, antes de seguir para o próximo destino que seu trabalho exigiu.
O prazer da vida de sua mãe é
vê-la na TV.
Antes nos noticiários policiais e
agora pela NFL.
Ela até assistiu o Combine 2017
só pela chance de vê-la nas telinhas!
Para o filho, ter a mãe
trabalhando na NFL é um sonho, assim como muita gente pensa, coisa que Cathy só
começa a entender agora.
"Você pensaria que ser a chefe de polícia da capital do seu país
seria um trabalho legal, né? Futebol Americano é algo impressionante. Não
acredito no quanto as pessoas se...." - ela procura uma palavra para
explicar - "Eu sou uma pessoa muito
mais importante agora", brinca a chefe de segurança da NFL.
Esse é o máximo que vamos saber
dos dois maiores tesouros da vida de Cathy Lanier.
Ela não permite que os dois sejam
entrevistados e sequer revela os nomes.
Mas a gente pode entender a
proteção toda com sua família, considerando tudo o que Cathy já presenciou em
sua vida e trabalho.
*Reportagem de Tisha Thompson e Michael Sciallo, do espnW, e edição de
Cláudia Custódio, do espnW Brasil.
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