segunda-feira, novembro 06, 2017

Cathy Lanier uma mulher para lá de sensacional...

Imagem: Autor Desconhecido


Ela já protegeu Obama e hoje é chefe de segurança da NFL.

Conheça Cathy Lanier, a mulher do momento

Tisha Thompson e Michael Sciallo*

Diversão, churrasco, cerveja, amigos e futebol americano.

A ida a qualquer jogo da NFL é, com certeza, uma experiência fantástica.

Mas para que somente boas lembranças sejam levadas pelos torcedores, há uma grande equipe de especialistas trabalhando para garantir a segurança de todos dentro e fora do estádio.

Quem comanda essa equipe hoje é uma experiente chefe de segurança, de 49 anos. 

Cathy Lynn Lanier é a chefe de segurança da NFL, cargo pelo qual largou a chefia da polícia de Washington, depois de 26 anos de carreira policial.

Ela foi a primeira mulher a comandar um departamento de polícia norte-americano.

É preciso muita personalidade para ocupar os lugares que ela escolheu, coisa que nunca faltou para Cathy.

Natural de Maryland, cresceu em um bairro difícil e teve uma vida complicada.

Quando adolescente, deu muito trabalho para a mãe. 

"Minha mãe criou três filhos. Eu fui, provavelmente, a mais difícil de educar. Teimosa, sabe? Adolescente besta. Cresci em um lugar difícil e frequentei uma escola barra pesada", revela a chefe de segurança da NFL em entrevista ao espnW.

Rebelde e revoltada, teve seu primeiro filho aos 15 anos.

Fato que, provavelmente, apesar da gravidez acidental, mudou os rumos da sua vida.

"Eu era uma mãe solteira sem o colegial completo. O cérebro de uma adolescente não funciona como o de uma pessoa normal, como um adulto. Quando meu filho nasceu, percebi com todo o senso comum que me faltava antes, que toda a vida dele dependia de mim. Se eu não quisesse para ele a infância que tive, de morar em um bairro perigoso, ir pra escolas pesadas, eu precisaria terminar os meus estudos", diz.

E foi o que ela fez. 

Estudou e trabalhou em dois empregos por muito tempo.

O sonho de dar uma vida melhor para sua criança a moveu pela vida.

Chegou à polícia depois de ler sobre uma vaga que oferecia reembolso dos estudos e não deixou a oportunidade escapar.

Fazendo uma matéria por semestre, ela levaria 25 anos para se formar se não tivesse conseguido esse emprego.

A CARREIRA NA POLÍCIA

O começo foi duro.

Já na primeira semana, enfrentou uma manifestação grande por má-conduta de uma policial e teve que se virar no confronto entre polícia e manifestantes, sem nem saber como colocar a máscara de gás.  

Depois da prova de fogo, mais problemas durante os primeiros anos.

A reputação da delegacia de Washington não era boa na década de 90, e segundo Cathy, por motivos fortes: o assédio sexual era algo recorrente e institucionalizado no departamento de polícia.

"Não era um flerte em ambiente de trabalho. Lá, você trabalhava em turnos noturnos, trabalha até tarde. Você é a única mulher no prédio. Uma vez um policial me agarrou fisicamente. Ele era um abusador crônico, sabe? Ele já tinha assediado muitas outras mulheres. Foi agressivo", lembra.

A personalidade forte, mais uma vez, entrou em cena. Cathy e uma outra policial decidiram entrar com uma ação por assédio sexual e aceitaram um acordo de $75,000 para cada.

Ouviram de muita gente que esse processo acabaria com a carreira das duas na delegacia, mas o que se viu foi bem diferente.

Além do abusador ser afastado e depois demitido, a cultura da polícia de Washington mudou drasticamente e se tornou um lugar um pouco mais acolhedor para as mulheres.

E desde então, sua carreira decolou.

Com trabalho duro e reconhecimento, passou pela liderança da unidade de narcóticos e gangues da cidade, da Unidade de Operações Especiais, que cuidava da parte de ameaça de bombas, confrontos armados e grandes eventos públicos e depois pela Segurança Nacional e departamento antiterrorismo, até chegar ao posto de Chefe de Polícia de Washington.

Tudo isso enquanto estudava e se especializava com dois mestrados em Segurança Nacional.

Permaneceu no cargo da chefia por 10 anos e derrubou em 23% o nível de criminalidade da capital, até que resolveu sair do departamento para trabalhar para a NFL, no ano passado.

TERRORISMO E O ESPORTE

Alvo de diversos ataques terroristas nas últimas décadas, os Estados Unidos tentam se prevenir cada vez mais, não só de grupos extremistas, mas também de ataques domésticos que ocorrem com certa frequência dentro do seu território.

Como reúnem milhares de pessoas e chamam muita atenção da mídia, todo evento esportivo tem potencial para quem quer espalhar o terror. 

A ocorrência de atentados nesses eventos não é algo novo.

Nos Jogos Olímpicos de 1972 e 1996, tivemos atletas e torcedores mortos.

Na semifinal da Champions League de 2002, entre Real Madrid x Barcelona, dezenas de feridos.

E nos últimos anos, percebemos uma retomada do esporte como alvo de grupos terroristas.

As explosões da Maratona de Boston, do Stade de France e, mais recentemente, do ônibus do Borussia Dortmund, deixam claro que a segurança não pode mais se dar ao luxo de falhar. 

A CARREIRA NA NFL

Com o planejamento de segurança das duas posses do Presidente Obama no currículo, ela foi escolhida por Roger Goodell para proteger os torcedores da NFL durante as partidas.

Com apenas um ano no cargo, já planejou e coordenou o Super Bowl LI e o Draft 2017, dois dos maiores eventos da NFL, além de inúmeras partidas de temporada regular e playoffs.

A coordenação do Super Bowl é, com certeza, a que mais exige atenção.

Os maiores nomes da Segurança Nacional e da polícia local se unem para garantir um evento tranquilo fora de campo.

São mais de 40 agências de segurança, desde o FBI até agências privadas, e a nomeação de Cathy foi bastante comemorada por todos, apesar de sempre ser a única mulher nas mesas de reunião.

"Já era hora da NFL contratar algum nome grande entre chefes de polícia, que conheça o outro lado da moeda. Que saiba os desafios que as polícias locais enfrentam.", diz o chefe do departamento de polícia de Houston, Art Acevedo, com quem ela trabalhou durante o Super Bowl.

"Relacionamento é uma parte muito importante no mundo dos negócios, mas especialmente em planejamento de segurança"- continua Acevedo - "Se eu tivesse qualquer problema, eu ligava e ela resolvia. A NFL foi inteligente de trazer alguém que conhece bem a maioria dos chefes de polícia do país".

Antenada a todo e qualquer ataque terrorista que ocorre no mundo, Cathy os usa para aprender as diferentes formas que um terrorista pensa e, assim, consegue bolar planos de prevenção cada vez mais completos, como por exemplo, camadas de cercas ao redor do estádio para que nenhum motorista consiga jogar seu carro sobre a multidão, já que esse tipo de ataque tem se tornado cada vez mais comum.

Além disso, tecnologia de rastreamento facial, escaneamento de veículos, veto a objetos e diversos outros métodos são aplicados com rigor.

Além da segurança dos fãs da NFL, ela também é responsável por investigar qualquer violação de conduta por parte de jogadores e times, como o caso atual de Ezekiel Elliott e a investigação sobre violência doméstica que tem provocado uma verdadeira novela entre a Associação dos Jogadores na justiça comum e a NFL.

Mas perguntada sobre o caso, Cathy não quis comentar sobre a investigação, apenas sobre a situação toda:

"Eles ficam em um outro patamar, como deveriam mesmo. Então quando existe má conduta, de qualquer tipo, é um impacto enorme", conta para o espnW.

RESPEITO EM UM AMBIENTE MASCULINO


Imagem: Autor Desconhecido


Cathy Lanier sabe melhor do que ninguém que ser mulher em um ambiente dominado por homens é algo desafiador.

Mas ela dá a receita para conseguir o respeito que hoje ela tem de todos:

"Você não pode deixar as pessoas tirarem vantagem de você. Eu não deixo ninguém me desrespeitar".

E não é só isso.

Acima do gênero, ou talvez até de maneira mais intensa por ser mulher, trabalho sério e duro é algo essencial. 

"A chave para mim foi que eu cheguei para trabalhar todo dia e fiz bem o meu trabalho. Se você é trabalhadora, as pessoas querem trabalhar com você. Se você não é, elas não querem trabalhar com você. Então, respeito é algo que se desenvolve desta maneira. As pessoas me respeitam por que veem que eu venho trabalhar e que eu faço o meu melhor todos os dias", declara.

FAMÍLIA

Toda a carreira de Cathy Lanier se desenvolveu pelo desejo de dar uma vida melhor para família.

Então, como o filho está?

Muito bem obrigada!

Com mais de 30 anos e já formado, teve uma vida bem distante da realidade que ela própria enfrentou.

Agora, a preocupação dela é cuidar da mãe.

"Assim que meu filho foi embora, eu sabia que ia sentir aquele vazio. Mas minha mãe logo se mudou lá para casa. Eu não trocaria o tempo que passo cuidando da minha mãe por nada no mundo. Por nada", revela Cathy, que apensar de trabalhar viajando todo o país, volta para casa toda semana para poder preparar tudo para sua mãe. 

Ela sempre prepara e congela as refeições para que sua mãe possa comer durante o tempo que ela não está. Mesmo quando o trabalho é fora do país, como nos jogos em Londres, ela se desdobra para voltar para casa.

Da última vez que foi para a Inglaterra, passou 6 dias por lá, voltou para casa nos dois dias de folga para ver a mãe, voou novamente para Londres por seis dias e retornou para casa logo depois, antes de seguir para o próximo destino que seu trabalho exigiu.

O prazer da vida de sua mãe é vê-la na TV.

Antes nos noticiários policiais e agora pela NFL.

Ela até assistiu o Combine 2017 só pela chance de vê-la nas telinhas!

Para o filho, ter a mãe trabalhando na NFL é um sonho, assim como muita gente pensa, coisa que Cathy só começa a entender agora.

"Você pensaria que ser a chefe de polícia da capital do seu país seria um trabalho legal, né? Futebol Americano é algo impressionante. Não acredito no quanto as pessoas se...." - ela procura uma palavra para explicar - "Eu sou uma pessoa muito mais importante agora", brinca a chefe de segurança da NFL.

Esse é o máximo que vamos saber dos dois maiores tesouros da vida de Cathy Lanier.

Ela não permite que os dois sejam entrevistados e sequer revela os nomes.

Mas a gente pode entender a proteção toda com sua família, considerando tudo o que Cathy já presenciou em sua vida e trabalho.

*Reportagem de Tisha Thompson e Michael Sciallo, do espnW, e edição de Cláudia Custódio, do espnW Brasil.

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