segunda-feira, setembro 09, 2024

Suécia... o futebol sem VAR

Imagem: IF Elfsborg

Suécia, o bastião do futebol anti-VAR: “Não se trata de justiça..., mas de o futebol ser como sempre foi”

Irati Prat para o MARCA

Uma liga sem VAR parece coisa do passado.

Ou um jogo de pré-temporada.

Mas na Suécia é a vida quotidiana.

O país nórdico, que tem a sua liga classificada entre as 25 melhores da UEFA, é a única competição de elite em que não há arbitro de vídeo.

Os próprios clubes decidiram isso através de seus torcedores.

22 dos 32 clubes, pelo menos.

Em Assembleia Geral.

E eles defendem isso com orgulho.

Eles são como Asterix e Obelix... trocando a Gália pela Escandinávia e o ano 50 AC. C. para o século XXI.

Claro, o caráter irredutível.

“O movimento contra o VAR começou em 2019 ou 2020”, disse Isak Edén ao MARCA.

O presidente da SFSU (Associação Sueca de Torcedores de Futebol) é claro: “Só vigorou durante alguns anos e viu-se que o VAR ‘parou’ as arquibancadas. Permitiu ou não que você comemorasse o gol. A torcida sueca, muito bem-organizada, assumiu a liderança e agiu antes que a arbitragem por vídeo fosse resolvida: “Vimos o que ia acontecer e paramos a tempo”.

Tudo faz parte da Lei 50+1 que prevalece na liga sueca (como na Bundesliga), segundo a qual os torcedores são, em parte, proprietários dos clubes que apoiam.

“O assinante do clube, o sócio, são 'torcedores'... Não só torcedores. Tem gente envolvida nas arquibancadas, na animação, nos mosaicos, gente que circula, que vai aos jogos fora de casa, que freta ônibus. E essas pessoas, mais ou menos, têm a mesma ideia sobre o VAR. E eu também penso o mesmo. Se você quiser ver a repetição de um lance em casa, tudo bem, mas se você estiver assistindo no estádio, nada que destrua completamente espetáculo de futebol irá vigorar”, conta ao MARCA Pepe Salgado, um espanhol que emigrou para a Suécia e acabou se apaixonando pelo futebol local.

Agora, anos depois, faz parte do conselho de administração do mais importante grupo de torcedores do Nörrkoping.

“Não se trata de justiça. É sobre o futebol ser como sempre foi. Que seja fluido, ou seja, não é possível marcar um gol e ser necessário esperar cinco minutos para poder comemorar ou comemorar e depois de cinco minutos você ‘descomemorar’.”

“Bom, se o árbitro errar, deixe-o errar”, acrescenta, refletindo que, na realidade, o VAR não pôs, de forma alguma, fim à polêmica no futebol.

Eden vai mais longe e reflete sobre uma questão que, na época, era quase uma questão de Estado: “O futebol foi criado para pessoas e devia ser arbitrado por pessoas. Deveria ser jogado por pessoas. Sim, isso faz parte da experiência”.

“E às vezes você também precisa ficar bravo com os árbitros.”

No entanto, os suecos ainda coexistem com o VAR em algumas ocasiões.

Quando os seus clubes disputam competições da UEFA, por exemplo, ou jogos de seleções nacionais.

Uma decisão firme... no futebol democrático

Mas no campeonato sueco não há como voltar.

Ou assim parece.

Embora na Allsvenskan (Primeira Divisão) o debate esteja em cima da mesa.

“Para mim, como Diretor Esportivo da liga, tenho emoções um pouco confusas. Temos que seguir a vontade dos nossos clubes e eles disseram que não querem que o VAR se envolva nisso. A liga sueca faz parte de um grande mercado internacional no qual temos que competir com outros clubes de outros países... Isso também me faz sentir que não estamos acompanhando o desenvolvimento internacional, por isso tenho sentimentos contraditórios”, disse Svante Samuelsson ao Marca.

Mas os fãs de futebol decidiram na Suécia.

E eles estão felizes com o que foi acordado.

Faz tudo parte de uma cultura democrática profundamente enraizada (“até votaram para que lado tomar... se à esquerda ou à direita”, diz Pepe Salgado), não se trata de futebol.

“Na Suécia isso acontece em todos os esportes”, explica Isak Edén.

E vai além do VAR.

“Você não vai influir em qual jogador será contratado, mas basicamente pode decidir em relação a todo o resto. Há muitos clubes que votaram contra a pré-temporada no Catar, na Arábia Saudita e em países como esse. Para nós é difícil imaginar que não seja assim, porque é. muito enraizado em todos os esportes, não apenas no futebol. É difícil imaginar outra coisa”, disse Edén ao Marca.

Um futebol em crescimento

Acompanhar o futebol sueco não é uma questão de observar jogadores de alto nível.

“Temos dificuldade em manter os nossos melhores jogadores na Suécia porque recebem salários muito melhores no estrangeiro”, reconhece Samuelsson.

“O futebol está crescendo na Suécia. O público, as expectativas, os torcedores... tudo está crescendo. Batemos nosso recorde desde o início dos anos 70 ou algo parecido”, analisa Fredrik Holmberg, técnico do GAIS Göteborg, time que em 2022 esteve na Terceira Divisão e agora quer fazer “o que o Girona fez no campeonato espanhol”.

Ele é a favor do futebol sem VAR: “Não sou um especialista, sou um treinador..., mas quando você vai aos jogos você pode sentir os sentimentos genuínos que você tem ao comemorar quando um gol é marcado. Você tem de sentir coisas assim. E na Suécia, os torcedores fazem isso. Penso que quando olham para o futebol internacional, não é tão divertido.”

Nos últimos meses, a liga sueca lançou um slogan claro: “Futebol de verdade”.

É assim que eles definem o seu futebol.

E não se referem apenas ao VAR.

'Mosaicos', viagens, bilhetes acessíveis e um calendário agendado com tempo suficiente para facilitar a vida das torcidas, estreita colaboração entre clubes e torcedores... Algo que Svante Samuelsson, que jogou na seleção sueca e hoje é Diretor Esportivo da liga, define com uma reflexão: “Por que existe um clube de futebol? Se não é pela paixão.”

Uma liga centenária

Em julho passado, a liga sueca comemorou 100 anos de história.

E festejou com uma comemoração especial em que relacionou a história do seu futebol com a atualidade.

Tudo através das camisas das equipes da Allsvenskan (Priemria Divisão).

Versões ‘vintage’ que fizeram sucesso no campo e nas redes sociais.

Uma grande jogada de marketing da liga.

Este foi, porém, mais um exemplo de quanto cuidado com a imagem é tomado na Suécia... e que o torcedor se sente representado com o que acontece nos estádios de futebol.

“Existe um trabalho no clube chamado ‘ligação com os torcedores’, sendo responsável por estabelecer o diálogo entre torcida, sejam eles mesmo, ultras ou ‘hooligans’, com o clube. Por exemplo: quando os sinalizadores são acesos, os torcedores têm o cuidado de apagar os sinalizadores na areia e de recolhê-los, os que acabaram de apagar, mas ainda estão quentes...”, diz Pepe Salgado, torcedor espanhol do Nörrkoping, ao Marca.

Além da relação próxima entre torcedores e os seus clubes, há algo que chama a atenção nos estádios suecos, são os impressionantes ‘mosaicos’ preparados com carinho pelos fãs e que viraram competições.

Seja qual for o clube, a cada temporada você vê imagens inesquecíveis.

Um comentário:

jornal da grande natal disse...

Precisa-se capacitar, o máximo o possível, para se diminuir a influencia do VARiedade!