quarta-feira, agosto 13, 2025

A CBF pretende implementar o fair play financeiro no país... como ele funciona nas principais ligas do mundo

Como funciona o fair play financeiro nas principais ligas do mundo

Clubes europeus têm normas de sustentabilidade há anos; CBF planeja implementar regras para evitar endividamento no Brasil

Por Milena Tomaz Milena Tomaz para o Site ‘Trivela’

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pretende implementar o fair play financeiro no País.

A medida consiste em regras para controle de gastos dos clubes de forma a proporcionar mais sustentabilidade a longo prazo e ajudar a evitar endividamento.

Fair play financeiro nas principais ligas

Embora apareça como uma novidade no cenário nacional, a regulamentação financeira começou a ser mais discutida nos anos 2000 na Europa e já vigora em diversos campeonatos do mundo, cada qual com suas particularidades.

A Trivela explica a seguir como funcionam as normas nas cinco principais ligas europeias.

Bundesliga

A Uefa determinou indicações relacionadas ao fair play financeiro em 2009, mas a Alemanha já tinha um método próprio e similar bem antes disso, desde a criação da Bundesliga em 1962.

Em 1998, a regra “50+1” da Liga Alemã de Futebol (DFL) passou a vigorar e nortear boa parte da saúde financeira dos times. O nome remete ao fato de os clubes serem obrigados a ter 50%, mais um, em direitos de voto — ou seja, a maioria.

A determinação concede aos membros da instituição a “palavra final” em qualquer escolha e, ao considerar que são administrados por torcedores, os fãs nas arquibancadas se sentem representados na tomada de decisão.

A intenção é evitar que investidores externos controlem a maior fatia e priorizem lucro em detrimento da equipe, o que poderia causar imprudência financeira e acabar com “costumes democráticos dos clubes alemães”, segundo a liga.

Porém, há exceção.

A medida não se aplica a Wolfsburg e Bayer Leverkusen porque seus respectivos investidores atuam nos clubes há mais de 20 anos e ficam isentos após o período.

O time da BayArena foi fundado por funcionários da empresa farmacêutica Bayer, enquanto os Lobos sempre estiveram sob propriedade da fabricante Volkswagen.

O Hoffenheim também é isento da norma por causa de Dietmar Hopp.

O investidor conquistou uma brecha em 2015, quando a DFL considerou que ele exerceu apoio “de forma substancial e ininterrupta por mais de 20 anos”.

As ressalvas acabaram por aí.

O descumprimento impossibilita o clube de participar da Bundesliga e pode ocasionar em implicações financeiras.

LaLiga

LaLiga chama seu conjunto de regras de Limites de Custos do Plantel Esportivo (LCPD, na sigla em espanhol).

Estão inclusos gastos com jogadores e comissão técnica e quanto um clube pode desembolsar no mercado de transferências, conhecidos como “regra 1:1”.

Neste caso, só é possível gastar o equivalente ao que foi economizado ou se conseguiu de lucro.

O limite fica estipulado pela própria liga com base nas documentações financeiras enviadas pelos clubes.

O órgão de validação analisa os demonstrativos e, se necessário, pede ajustes para que o valor se encaixe na sustentabilidade.

É nisso que o Barcelona enfrenta problemas.

Os Catalães foram impedidos de registrar jogadores na temporada passada porque LaLiga afirmou ter ocorrido violação no teto salarial.

A equipe conseguiu remediar a situação, porém ainda tem pendências a resolver, de acordo com Javier Tebas, presidente da competição.

Outra punição aplicável em caso de eventual infração são multas.

Ligue 1

A Ligue 1, ao contrário do Campeonato Alemão e do Espanhol, tem sentenças um pouco mais duras em caso de descumprimento.

A DNCG (Direção Nacional de Controle e Gestão da Liga de Futebol Profissional da França) é a responsável por monitorar a saúde financeira dos clubes e determinou o rebaixamento do Lyon à segunda divisão em junho passado por inadequação às normas.

O descenso foi revertido pelo Lyon, mas evidencia o rigor adotado na competição.

Além de decidir se uma equipe tem condições ou não de disputar a elite francesa, a DNCG pode interferir em contratos de jogadores, gastos salariais e impor restrições no orçamento.

Todos os clubes devem prestar contas ao órgão anualmente para que haja análise e diagnóstico das condições financeiras da instituição.

Premier League

A Premier League exige dos clubes o pagamento de pendências em dia e a disponibilização de relatórios monetários toda temporada à liga.

Chamadas de Regras de Lucro e Sustentabilidade Financeira (PSR, na sigla em inglês), as normas estipulam que cada clube não pode ter prejuízo superior a 105 milhões de libras em um período de três anos.

Além disso, a organização pede que os gestores apresentem projeções das finanças para duas temporadas que mostrem como se pretende evitar ultrapassar o teto de gastos no referido triênio.

Ultrapassar os limites podem causar sanções como dedução de pontos — ocorreu com o Everton em 2024 — e multas.

Serie A

Por fim, na Serie A, a responsabilidade de coordenar e analisar as finanças dos clubes é da Comissão de Supervisão de Clubes de Futebol Profissional (COVISOC, na sigla em italiano).

Em todo ano, por volta do verão europeu, os times precisam dar mostras de ter capacidade financeira sustentável na temporada para evitar que haja problemas no pagamento das contas no decorrer do ciclo.

As penalizações em caso de infração incluem perda de pontos e multas.

No Brasil

O projeto para o fair play financeiro no Brasil foi debatido nesta segunda-feira (11) em evento da CBF no Rio de Janeiro e ainda está em análise sobre formatos e modelos ideais.

Ricardo Gluck Paul, vice-presidente da CBF, explicou à Trivela que o objetivo é implementar um sistema focado na realidade das equipes brasileiras, com as características do País, mas inspirado em erros e acertos de medidas aplicadas em ligas internacionais.

Ele afirmou ainda ser possível que as normas saiam do papel em 2026.

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