Faltava apenas saber se seriam as brasileiras ou as americanas que enfrentariam as francesas nas semifinais...
Japão e Suécia já haviam garantido sua passagem.
Quando o jogo começou, mal deu tempo para arrumar um lugar onde colocar o suado caneco de metal, repleto de gelo e Coca-Cola...
Daiane tentou cortar um cruzamento ou sei lá o que, e, colocou a bola dentro do gol...
Restou ascender o cigarro, dar uma longa tragada e pensar: não vai ser uma tarde fácil.
Procurei uma posição mais confortável e fiquei na torcida...
Não torci pelo Brasil, mas por Marta, Daiane, Cristiane, Erika, Fabiane e companhia...
Essas moças são o que há de melhor no futebol brasileiro atualmente...
Ninguém dá a mínima para elas...
Entretanto, lá estão elas, jogando por amor ao jogo...
Se, estão onde estão, foi por esforço próprio, por amor ao esporte e pela crença no sonho de que era possível chegar mais longe e mais alto.
Venceram a indiferença, superaram o pré-conceito e romperam as amarras do machismo crônico que sempre insistiu em desqualificá-las como atletas de futebol.
Por isso, torci muito por cada uma delas.
Queria muito que elas vencessem que conquistassem a Copa do Mundo...
Depois, me recostaria em minha cadeira e me divertiria com os rasgos patrióticos e hipócritas da imprensa antes silenciosa...
Veria com um sorriso cínico no rosto, as muitas homenagens e os muitos abraços e beijos, distribuídos por autoridades e políticos...
E por fim, sentira um misto de pena e de repulsa pelos bocós, que nos bares, esquinas, escolas, universidades e escritórios, estufariam o peito a falar de uma conquista que não acompanharam e elogiar jogadoras que não conhecem.
Mas não foi possível...
Não que tivesse faltado empenho ou luta...
Quando a árbitra expulsou Rachel Buehler e Marta converteu o pênalti (inexistente, diga-se de passagem), imaginei que a história sorriria para nós...
Ao ver o belo gol de Marta na prorrogação achei que tudo estava definido e que elas haviam conseguido...
Ledo engano...
Esqueci que do outro lado, havia adversárias valorosas...
Esqueci que nos Estados Unidos, elas não consideradas lésbicas por jogarem futebol...
Esqueci que são os pais que incentivam a prática do esporte e que as escolas e as universidades investem milhares de dólares na formação de cada uma delas.
Esqueci que lá existem campeonatos escolares e universitários a nível nacional...
Esqueci que lá existe um liga profissional, onde as moças são bem pagas, bem tratadas e bem treinadas para correr atrás da bola.
Enfim, esqueci ainda havia jogo e que enquanto há jogo, tudo pode acontecer...
Infelizmente, aconteceu...
Nos acréscimos da prorrogação, Abby Wambach, matou as minhas esperanças.
Aquele gol, naquele momento, destruiu os nervos das nossas moças e os pênaltis só serviram para prolongar a agonia.
No fim, o resultado acabou sendo justo, pois se as meninas mereciam a vitória, o Brasil, não...
Premiar a indiferença e o desdém com uma classificação e um possível título, seria o mesmo que concordar que o errado, está certo.