Parte 1
Antes da partida, em entrevista à
rádio Globo, o presidente do ABC afirmou que o aquecimento no gramado do Maria
Lamas Farache estava terminantemente proibido...
Justificou que a medida era uma
retaliação ao tratamento que o ABC recebia fora do Rio Grande do Norte...
“A Série B é uma guerra e nós não
vamos ser os bobos da corte”, disse Rubens Guilherme.
No entanto, diante do Palmeiras,
que não é o Boa Esporte, a guerra foi suspensa e os paulistas puderam aquecer
sob sol de Natal.
A mudança da ordem peremptória me
remeteu a um velho ditado popular que diz: as formigas sabem bem as folhas que
podem ou não cortar.
Parte 2
Era para ser uma tarde festiva...
Na verdade, não deixou de ser,
mas infelizmente, antes do jogo, um incidente um tanto
surrealista quase estraga tudo.
O estádio Maria Lamas Farache, já
recebia em seu interior um ótimo público...
No entanto, repentinamente, no
portão que fica à direita das cabines uma multidão entrou
sem nenhum controle...
Pessoas que já estavam dentro, se
recusaram a sair do caminho de quem entrava e em pouco tempo, havia gente espremida
no alambrado, gente comprimida no meio do bolo formado e o caos se instalou.
Alguns, escalaram as telas de
proteção e saltaram para o campo...
Outros desmaiaram e cerca de 10
pessoas foram atendidas pelos bombeiros com pequenos ferimentos.
Esse tipo de incidente costuma
incitar as pessoas a tecer todo tipo de comentário...
Uns lúcidos, outros nem tanto e
alguns estapafúrdios.
Porém, o que alguns torcedores
disseram demonstra claramente o clima de insegurança que tomou conta de todos
aqueles que se viram envolvidos no tumulto...
“Sou torcedora do ABC e estou
indignada com a falta de estrutura para receber um jogo como o do Palmeiras. Um
time assim não pode pensar em Série A”.
Torcedora nos microfones da rádio
Globo.
“Não havia lugar nas cadeiras
coisa nenhuma, sei disso pois estava lá. Fui com o meu filho de 9 anos. Tivemos
que sair antes do jogo começar. Vi as pessoas pulando o alambrado com a ajuda
da PM. Até para sair foi um suplício: AS SAÍDAS DE EMERGÊNCIA ESTAVAM FACHADAS
COM CADEADO E O RESPONSÁVEL NÃO ESTAVA COM AS CHAVES. FICAMOS RECLAMANDO E
ESPERANDO ALGUÉM APARECER COM A CHAVE PARA PODERMOS SAIR”.
Comentário de Esdras Barros na
matéria do UOL Esporte sobre o incidente.
Em ralação a número de policiais
presentes ao evento, fui pesquisar...
Segundo levantei, as polícias
militares, regulam seus efetivos nos estádios com base nos seguintes critérios:
Para jogos com previsão de até 10
mil torcedores, considerados de pequeno porte, o número de policiais deslocados
é de 150 homens...
Esses homens serão os responsáveis
pela segurança dentro e no entorno dos estádios.
Nas partidas de médio porte, com
público previsto entre 10 e 30 mil pessoas, o efetivo passa a ser de 250 homens
que irão atuar dentro e fora do estádio...
Nas partidas consideradas
grandes, isto é: público acima de 30 mil pessoas, o efetivo deslocado chega a
450 homens.
Portanto, se o ABC no ofício que
enviou a Polícia Militar informou um público previsto, maior que 12 ou 14 mil
pessoas e a polícia, deslocou para o Maria Lamas Farache um número inferior a
250 homens, errou...
Entretanto a que se considerar
que o Estado do Rio Grande do Norte vive uma greve da Polícia Civil que já
ultrapassa os cinquenta dias e que a PM tem deslocados parte de seus efetivos
para suprir as lacunas deixadas pelos policiais civis.
O público anunciado ao final do
jogo foi de 15.636 espectadores e, a capacidade do estádio Maria Lamas Farache,
segundo o Cadastro Nacional dos Estádio de Futebol da CBF, comporta 16.000 pessoas.
Parte 3
Também consultei o
Estatuto do Torcedor sobre o a questão segurança...
Eis o que diz:
CAPÍTULO IV
DA SEGURANÇA DO TORCEDOR
PARTÍCIPE DO EVENTO ESPORTIVO
Art. 13. O torcedor tem direito a
segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e
após a realização das partidas. Parágrafo único. Será assegurado acessibilidade
ao torcedor portador de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 14. Sem prejuízo do disposto
nos arts. 12 a 14 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, a
responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de
prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que
deverão:
I – solicitar ao Poder Público
competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente
identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios
e demais locais de realização de eventos esportivos; (...)"
Reparem que grifei a palavra solicitar.
Solicitar segundo o dicionário,
significa pedir e um pedido, pode ou não ser atendido.
Portanto, não existe nenhuma
obrigação do Poder Público em ceder seus servidores para atuar dentro dos
estádios, mesmo que no Brasil seja regra a concordância.
Porém, fora dos estádios,a segurança é obrigação do Estado.
Parte 4
Como não tive acesso ao ofício
enviado pelo ABC à PM e não participei de nenhuma reunião sobre como e qual
seria o esquema de segurança e trabalho na partida em questão, não tenho como
apontar se quem errou foi fulano ou sicrano...
Mas como observador da cena,
fiquei com a sensação que tanto fulano como sicrano estão bem aquém dos padrões
profissionais exigidos para quem deseja ser valorizado e admirado...
No fundo, fiquei extremamente
triste com recibo de amadorismo que fulano e sicrano assinaram diante das câmeras
que transmitiam o mico para todo o Brasil.
Parte 5
Este foi o relatório que o
árbitro Marcos André Gomes da Penha do Espírito Santo enviou a CBF;
HOUVE ATRASO DE 34 (TRINTA E
QUATRO) MINUTOS NO INICIO DA PARTIDA, TENDO EM VISTA QUE, POUCO ANTES DO
HORÁRIO PREVISTO PARA INÍCIO DO JOGO, VÁRIAS PESSOAS DO PÚBLICO, INCLUÍNDO
CRIANÇAS, COMEÇARAM A PULAR O ALAMBRADO E, CONSEQUENTEMENTE, ADENTRAR NO CAMPO
DE JOGO, ALEGANDO QUE ESTAVAM SENDO ESPREMIDAS E CORRENDO RISCO DE MORTE, FACE
A QUANTIDADE ELEVADA DE PÚBLICO PRESENTE. IMEDIATAMENTE, MANTIVE CONTATO COM O
COMANDANTE DO POLICIAMENTO, CAPITÃO PM ALBUQUERQUE, O QUAL, INICIALMENTE, FALOU
QUE PRECISAVA DE MAIS TEMPO PARA TOMAR AS MEDIDAS NECESSÁRIAS E GARANTIR A
SEGURANÇA DO EVENTO. DECORRIDO O TEMPO SUPRAMENCIONADO, E APÓS ACOMODAÇÃO DAS
PESSOAS EM LOCAL SEGURO, O CAPITÃO PM ALBUQUERQUE ASSEVEROU QUE A PARTIR
DAQUELE INSTANTE PODERIA GARANTIR A SEGURANÇA DE TODOS OS PRESENTES. TENDO EM
VISTA A GARANTIA RECEBIDA, DEU-SE INICIO À PARTIDA.
Copiado do site da CBF.
Parte 6
Trinta e quatro minutos depois do horário previsto, o
jogo começou...
Começou aberto...
O ABC ciente da necessidade de
vencer, motivado pelos últimos resultados e cercado por arquibancadas completamente
tomadas, foi para frente...
Já o Palmeiras, diferente do jogo
contra o América lá no Pacaembu, diminuiu o salto alto, mas não o tirou.
A vontade de ambas as equipes proporcionou
aos presentes um jogo movimentado.
Aos 8 minutos, Gilmar, depois de
grande jogada de Somália, abriu o marcador para o alvinegro.
Depois do gol, o ABC repetiu a
velha receita do futebol brasileiro...
Recuou e deu espaço ao adversário.
Livre da pressão inicial o
Palmeiras passou a ter maior controle do jogo, avançou seus homens e começou a
martelar a defesa do ABC...
Aos 24 minutos, Alan Kardec, de
cabeça, empatou.
Aos 31, Vilson, também de cabeça,
desempatou.
Por alguns momentos, o ABC
sentiu, mas orientado por Robertos Fernandes os jogadores saíram para o jogo e aos 37
minutos, Gilmar, penetrou na área do Palmeiras e foi derrubado...
Sem pestanejar, o juiz marcou o
pênalti.
Rodrigo Silva, aos 39, bateu e
empatou.
Na segunda etapa, o ABC não
voltou tão bem...
Porém, a vontade superou as
deficiências da meia cancha que não conseguia criar e insistia em errar passes.
O Palmeiras percebendo as
dificuldades do alvinegro, avançou sua equipe e passou a pressionar...
No entanto a tarde era
alvinegra...
Num lançamento na área do
Palmeiras, Lino, subiu e colocou a bola no fundo das redes do Fernando Prass...
O estádio tremeu na comemoração dos torcedores.
Daí para frente, o ABC se agarrou
ao resultado, lutou com uma garra imensa, respirou aliviado quando o árbitro
não marcou um pênalti claro sobre Alan Kardec e suportou heroicamente a pressão
palmeirense...
Antes do apito final, um momento de suspense...
Um tiro livre indireto foi
marcado dentro da área alvinegra...
Silencio sepulcral...
Mas a bola chutada para fora e o
apito encerrando o jogo transformou o silencio numa algazarra típica de dias felizes.