Imagem: Alexandre
LagoGE/RN/Reprodução
O ABC do
Clássico Rei
No Clássico
Rei nº 02/2020, válido pela Copa do Nordeste, o América jogou mal, enquanto o
ABC jogou o suficiente para vencer mais uma vez, agora por 2 a 1, e pelos lados
alvirrubros, a derrota culminou na demissão de Waguinho Dias
Pedro
Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte
Depois de
tudo o que fizeram no primeiro clássico do ano, apenas 10 dias atrás, ABC e
América subiram o sarrafo das expectativas tão próprias de encontros entre
arquirrivais.
Expectativas
criadas nem tanto pelo futebol apresentado e sim muito mais pela emoção, afinal
não é todo dia que se vê um 4 a 3 num clássico.
Entre os mais de 11 mil
torcedores que se dirigiram à Arena das Dunas na tarde do primeiro sábado de
fevereiro, a busca por adrenalina era uma constante.
E assim que a
bola rolou, ninguém pôde reclamar de ausência de emoções.
Logo no primeiro
minuto de jogo, depois de um lançamento despretensioso que partiu da zaga
alvinegra para Berguinho, André Krobel falhou na cobertura e o atacante
abcedista escapou para cruzar perfeitamente para Wallyson bater de primeira no
contrapé de Ewerton e abrir o placar com um bonito gol.
André Krobel
estava numa noite infeliz.
Não conseguiu acertar nenhum cruzamento, perdeu
todas as disputas na velocidade, seja ofensiva ou defensivamente, e em
raríssimas vezes impediu ataques da equipe adversária.
Waguinho
Dias, vacinado e consciente do peso de um clássico, escalou César Sampaio,
recém saído de uma lesão, e levou Wallace Pernambucano, outro recém liberado do
departamento médico, para o banco de reservas.
Com isso o
treinador tinha tudo para organizar seu bagunçado sistema defensivo, que até o
primeiro clássico só havia sofrido 2 gols e, desde então, fora vazado 5 vezes.
Além de, enfim, ter seu homem de referência no ataque para eventualmente
utilizar no segundo tempo.
O volante fez
o que se esperava e jogou bem, mas o que qualquer um pode constatar é que a
defesa do América esfarelou. André Kobrel e Leandro Melo erram uma enormidade
de passes e não conseguem retomar a bola quando estão sendo atacados, Renan
Luiz, quando acionado, parece queimar com a bola nos pés, além disso, a dupla
Nilo e Adriano Alves é de arrepiar os cabelos até do mais calvo americano.
Mesmo com
tudo isso, e também por um desleixo do ABC com o jogo, o América não sofreu
mais gols, porém era notório que se o time de Francisco Diá apertasse,
ampliaria o marcador sem maiores dificuldades.
É bom que se
fale em Francisco Diá, porque surpreendentemente o treinador encontrou a melhor
formação para seu meio-campo com a improvisação de Cedric no setor.
O Alvinegro
foi tão dominante na primeira etapa, que a maior alegria americana foi quando
Leílson deu lugar a Wallace Pernambucano.
Sim, Waguinho Dias não esperou e
lançou seu centroavante ainda no primeiro tempo. João Paulo ainda acertou o
travessão do goleiro Ewerton, mas os primeiros 45 minutos terminaram com o ABC
na frente, vencendo por 1 a 0.
No retorno
para o segundo tempo, dois times aparentemente desinteressados.
Aliás, o ABC desinteressado
em matar o jogo, porque o América estava nitidamente perdido no gramado e com
uma defesa que parecia piorar a cada ataque alvinegro.
Porém como
clássico é clássico e vice e versa, ou como “clássico não se joga, clássico se
ganha”, o América precisou de apenas uma bola para empatar o placar.
Numa
cobrança de escanteio, Tiago Orobó se candidatou ao cargo de estrela da noite
e, de cabeça, anotou o empate e seu oitavo gol no ano.
Eram jogados
16 minutos da etapa final e o empate seria um resultado espetacular pela
bolinha que estava jogando o time alvirrubro.
Por isso, quando o que se
esperava era que o América segurasse com unhas e dentes o empate, apenas 4
minutos depois, saído do banco de reservas, Igor Goularte desbancou Orobó e
virou a estrela da noite.
Curiosamente
depois de mais um erro defensivo do América.
Se no primeiro gol alvinegro
Krobel falhou na origem do lance, no segundo, depois de um apagão generalizado
da defesa americana, o camisa 2 do Alvirrubro simplesmente abandonou a marcação
e deixou Igor Goularte “livre, leve e solto” como narrou Matteus Fernandes.
O
atacante não perdoou e bateu de pé direito para colocar o ABC novamente em
vantagem.
Foi um balde
de água gelada no América, que apenas aceitou ser dominado pelo adversário e o
resultado não poderia ser outro.
O ABC, por outro lado, perdeu o interesse pelo
jogo assim que o América não demonstrou mais nenhum poder de reação.
A vitória, ao
fim dessa segunda rodada, levou o ABC ao quarto lugar da classificação no grupo
A da Copa do Nordeste.
Enquanto isso, o América é apenas o sexto colocado no
grupo B, ainda sem vencer na competição regional.
Como um
clássico muda a fase dos clubes.
Diá que o diga.
O que estava
ruim ao apito final, piorou no anúncio das coletivas.
Pelo ABC, Francisco Diá,
o treinador, como de praxe.
No América, demora e logo em seguida o anúncio de
que o presidente Leonardo Bezerra falaria com a imprensa.
Estava na
cara que Waguinho Dias havia perdido o emprego e Leonardo Bezerra confirmou
isso logo que chegou aos microfones.
A decisão
pela demissão escancara três pontos.
Primeiro como
o clássico é encarado dentro da direção americana, já que esse é apenas o
segundo jogo em que a derrota aparece no ano e foi o suficiente para demitir um
treinador que veio como peça principal do planejamento da nova gestão.
Segundo é o
tal planejamento que sucumbe ao primeiro tropeço.
Ao ser perguntado pelo
repóter Mallyk Nagib, se não havia sido precipitada a demissão do treinador,
Leonardo Bezerra soltou uma frase controversa, o presidente americano respondeu
não ter convicção, mas que algo deveria ser feito.
Ou seja, como
casa de palha, o planejamento se foi ao primeiro sopro mais forte do lobo mau.
E em terceiro
lugar, a declaração do presidente Leonardo Bezerra ao dizer que o futuro do
América depende do jogo da próxima quarta-feira e dos 600 mil reais que
entrarão nos cofres alvirrubros em caso de classificação frente ao São José.
O
que exatamente quis dizer o mandatário ao falar em “futuro”?
São muitas
questões que ficaram no ar assim como trabalho de Waguinho Dias, interrompido
precocemente, que deixou clube com 6 vitórias, 1 empate e apenas 2 derrotas,
justamente no clássico.
Para terminar
a noite, a diretoria americana tratou de trabalhar rapidamente nos bastidores e
anunciou Roberto Fernandes para comandar a equipe já na próxima quarta-feira,
em Ijuí, no Rio Grande do Sul, contra o São José, pela Copa do Brasil.
A julgar
pela última passagem de Roberto Fernandes por Natal, a decisão da diretoria
alvirrubra é bastante questionável.