Imagem: Twitter
Mercedes-AMG F1 / Reprodução
Sir Stirling
Moss, um gentleman da velocidade
Morreu neste
domingo, 12, aos 90 anos, Sir Stirling Moss, o lendário e excepcional piloto
britânico que estrelou embates épicos com Juan Manuel Fangio, inspirou muitas
gerações do automobilismo e, numa infeliz coincidência, encerrou sua carreira
também num domingo de Páscoa
Por Pedro
Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte
Existe uma
máxima usada para falar sobre craques do futebol que não conquistaram a Copa do
Mundo, que seria azar do Mundial não ter sido ganho por fulano.
Zico é um
desses exemplos, sempre que alguém se refere ao fato do Galinho nunca ter
levantado o troféu mais cobiçado do futebol mundial, alguém logo responde: “azar
da Copa não ter sido ganha por Zico”.
Quem viu
Stirling Moss correr e aqueles que pesquisam a história do automobilismo,
também afirmam categoricamente: “azar da F1 não ter tido uma temporada
sequer vencida por Moss”.
O piloto é
apontado por muitos especialistas como um dos maiores talentos da história da
F1, mas esbarrou no azar de competir na mesma geração de Juan Manuel Fangio.
Contra o
argentino, Moss foi três vezes vice-campeão e viu o adversário se tornar
pentacampeão e escrever seu nome no panteão eterno da categoria.
Quando Fangio
se aposentou, em 1958, tudo indicava para o título de Stirling Moss na
temporada seguinte.
Porém, Mike
Hawthorn conquistou o troféu de 1959 e deixou Moss, pelo quarto consecutivo, na
segunda posição.
Culturalmente,
os vices nunca são lembrados ou celebrados por suas performances que sucumbiram
apenas para os campeões.
Basta pensar
na trajetória de Rubens Barrichello, que foi duas vezes vice-campeão, mas é
motivo de chacota por sua postura orientada pela equipe para favorecer Michael
Schumacher.
Guardadas as
devidas proporções entre a carreira de Barrichello e o talento de Moss, além de
motivos completamente diferentes, os vices do britânico não lhe garantiram um
lugar entre os campeões da F1, mas não tiraram de Moss o reconhecimento como um
dos maiores pilotos de todos os tempos.
Principalmente
porque com uma carreira que começou em 1948, Moss não competiu somente na
principal e mais tradicional categoria do automobilismo mundial.
Fora da F1,
Moss teve uma carreia vitoriosa e conseguiu uma reviravolta diante do maior
adversário.
Em 1955, Moss
venceu Fangio na Mille Miglia, um enduro de 1500 quilômetros, disputado na
Itália.
O britânico
marcou um tempo recorde, 10 horas e 8 minutos, e ficou com o troféu enquanto o
argentino ficou em segundo lugar.
No currículo
do britânico ainda constam disputas nas 24h de Le Mans, com dois vices, e as
12h de Sebring, onde venceu logo na estreia.
Concomitantemente
às provas de outras categorias, Moss permanecia mostrando seu talento na F1.
Na era
pós-Fangio, o britânico se consolidou como um grande piloto, mas sem sorte para
vencer.
Foi 3º
colocado nas temporadas de 1960 e 61, mas colecionou importantes vitórias em
circuitos icônicos como Mônaco e Nürburgring.
Com triunfos
dessa altura, foram 16 vitórias em GPs oficiais, 24 pódios, 16 poles e 19
recordes de volta mais rápida.
Esse número o
colocou como piloto inglês com mais vitórias na F1 até 1991, quando Nigel
Mansell ultrapassou Moss.
Outro número
que impressiona e dimensiona o tamanho de Stirling Moss para o automobilismo é
o de 529 provas disputadas entre 1948 e 1962, com 212 vitórias.
Nascido em
setembro de 1929, Moss abandonou os carros de corrida em 1962, com apenas 32
anos.
A
aposentadoria precoce, porém, se deu em razão de um grave acidente sofrido em
22 de abril de 1962, no circuito de Goodwood (foto abaixo).
Moss dirigia
uma Lotus e, após bater forte, foi retirado inconsciente dos restos de seu
carro.
Ficou um mês
em coma e acabou com um lado do corpo paralisado por seis meses.
Ensaiou um
retorno após a recuperação, mas não conseguiu se adaptar ás suas novas
possibilidades e se aposentou.
Depois da
aposentaria, Moss ainda curtiu uma de repórter.
Foi contratado
da emissora ABC por 18 anos, para cobrir o automobilismo.
A idolatria
pelo piloto é parte da cultura inglesa, mesmo após sua aposentadoria, existe
uma lenda urbana de que os policiais ingleses, ao pararem alguém dirigindo
acima do limite de velocidade, perguntem:
“Você acha
que é Stirling Moss?”.
Em 2000, a
rainha Elizabeth II concedeu a Moss o título de cavalheiro da Ordem do Império
Britânico por seus serviços prestados ao automobilismo.
Adorado pelo
público, Moss continuou pilotando em exibições até 2011, aos 81 anos.
Apenas em
2018, com 88 anos, se retirou da vida pública após contrair uma infecção
bronquial em uma viagem a Singapura.
Desde então,
de acordo com sua esposa Susie Moss, desenvolveu uma série de problemas de
saúde e, nas palavras dela: “morreu pacificamente em sua casa em Londres, após
lutar contra uma doença por anos.”
A frase de
Paulo Roberto Falcão é definitiva: “o atleta morre duas vezes. A primeira
quando para sua atividade e a segunda quando o coração para de bater”.
Com Stirling
Moss, mais uma vez a frase se aplica, mas com uma infeliz coincidência, suas
duas mortes aconteceram num domingo de Páscoa.
Com 58 anos
de intervalo, enquanto crianças mundo afora saboreavam chocolates, Sir Stirling
Moss se despedia das coisas que mais prezou: a velocidade e a vida.
Imagem: Paul Popper/Popperfoto/Getty Images